Profissionais ainda acreditam que manter o paciente sedado o tempo todo facilita o tratamento

Sedação prolongada pode levar o paciente a perda cognitiva A sedação prolongada e profunda para o tratamento em pacientes internados nas unidades de terapia intensiva não é apenas um conceito cravado nos hospitais da Bahia, mas o estado ainda engatinha, na maioria das UTIs, na adoção de uma sedação mais consciente, que permite que o paciente fique alerta e, consequentemente, possa responder melhor sobre seus avanços terapêuticos.

O médico intensivista baiano de Salvador, Dr. José Mario Teles, é um dos mais importantes especialistas no Brasil sobre o assunto e também presidente da AMIB (Associação de Medicina Intensiva), que representa os profissionais que atuam nas unidades de terapia intensiva.

Segundo Dr. José Mario, “é preciso quebrar esse paradigma que a sedação total auxilia no processo do tratamento dos pacientes críticos internados nas unidades de terapia intensiva, porque quanto menos tempo um paciente ficar sob o efeito total dessa sedação, mais rápido é sua recuperação e menor morbidade e mortalidade, pois o cérebro precisa voltar a funcionar para que esse paciente não sofra com problemas cognitivos, entre outros”.

Uma das consequências de uma sedação prolongada é a incidência do “delirium”. “Trata-se de uma perturbação da consciência acompanhada por uma alteração na cognição, que não pode ser atribuída à demência preexistente ou em evolução. É uma síndrome clínica e orgânica de etiologia múltipla e frequentemente mal diagnosticada. E mais grave: pode levar ao óbito”, disse o médico.

É importante esclarecer a diferença entre Delirium e Delírio. O delírio é um sintoma observado principalmente nas esquizofrenias, nas quais existe alteração do juízo de realidade, com incapacidade de distinguir o falso do verdadeiro. Não é decorrente de uma perturbação da inteligência e nem é secundário de um estado de consciência momentaneamente alterado.

“O que há de novo em sedação e analgesia e o como prevenir o delirium” será temas centrais no I Simpósio Internacional AMIB de Sedação, Analgesia e Delirium”, que acontecerá nos dia 3 e 4 de agosto, na cidade, no Fiesta Bahia Hotel (Av. Antônio Carlos Magalhães, 711 – Pituba).

Há dois anos, o Dr. Jorge Salluh, presidente do Simpósio e membro do Comitê Científico de Sedação, Analgesia e Delirium da AMIB, e Dr. José Mario Teles foram autores do estudo: “Epidemiologia do delirium na medicina intensiva (DECCA)”. Na pesquisa, o Delirium foi associado à gravidade da doença aguda, diagnóstico de sepse (infecção generalizada), presença de disfunção orgânica múltipla, uso de medidas de suporte invasivo e administração de midazolam (tipo de sedativo).

“Selecionamos pacientes de 104 Unidades de Terapia Intensiva da América Latina, uma da Espanha e uma dos Estados Unidos. Ao todo, foram 497 pacientes críticos avaliados, sendo que, desses, 32% apresentaram Delirium. Um índice muito preocupante”, explica o pesquisador Dr. Jorge Salluh.

Segundo os dados revelados, pacientes com Delirium tiveram mortalidade maior (na UTI e no hospital) e tempo de internação prolongado, se comparados a pacientes sem Delirium. O estudo também confirma o que já havia sido apresentado em pesquisas anteriores. “O uso de benzodiazepínicos, em especial em infusão contínua e prolongada, está associado a maior frequência de Delirium e à disfunção cognitiva de longo prazo”, afirma Dr. Salluh.

O estudo revelou, ainda, que a tendência é utilizar menos sedativos. De forma geral, estratégias que reduzam a exposição do paciente internado em UTIs a sedativos, em especial aos benzodiazepínicos, indicam estar associadas a menor morbidade. A alternativa, segundo os médicos intensivistas e especialistas em Delirium, é a substituição por sedativos de outras classes terapêuticas que garantam a sedação superficial, mantendo o paciente sempre alerta. Tais substâncias apresentaram resultados significativos na redução na incidência de Delirium e outras complicações, consequentemente, o índice de mortalidade e morbidade devido à patologia.

É preciso também humanizar as UTIs. “Garantir silêncio, ciclos de luz para dia e noite, atenção às demandas individuais dos pacientes, terapia ocupacional e presença de familiares na UTI são fundamentais. Obviamente, tudo isto deve estar aliado a uma forte aderência da equipe às ‘boas práticas de sedação’, escolhendo drogas e doses de forma adequada tendo como meta redução de Delirium e da duração da ventilação mecânica”, reforça Dr. José Mário Teles.

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