Diante da necessidade de vencer os desafios de saúde em um curto espaço de tempo, o Chile reorganizou o seu sistema e viu na integração da rede e no envolvimento da população o caminho para dar um salto quântico em qualidade e acesso.
Em apenas 40 anos, entre a década de 60 e o ano 2000, o país viu sua população envelhecer rapidamente, e a projeção é que até 2025 o número de idosos dobre. Com isso, cresce na mesma proporção a ocorrência de doenças crônicas e os custos do sistema. ?O desafio sempre foi alinhar os interesses na área. Modificar um cenário de saúde requer uma revisão de interesses políticos, econômicos e culturais, que está muito além das análises técnico-sanitárias?, enfatizou o ex-ministro de Saúde do Chile, Pedro Garcia, durante sua apresentação no 1º Congresso Mundial de Saúde ? América Latina, realizada na última segunda-feira (25), na cidade do Rio de Janeiro.
A revisão feita resultou em duas grandes leis que envolveram a área, uma voltada para a reorganização dos serviços de saúde e outra focada em garantias para a população, baseada em quatro pilares: acesso, oportunidade, custo financeiro e qualidade. Tudo isso alinhado com ferramentas de tecnologia de informação. ?Toda a nossa mudança foi importante, pois já tínhamos um trabalho de atenção primária muito forte, o que resultou em baixo custo de saúde?.
Dentro da reorganização da estrutura de saúde, foi criada uma superintendência única de rede, que regulamenta e organiza tanto os serviços públicos quanto os privados no País. ?Isso nos permitiu organizar os serviços em rede?, destaca Garcia. Também foi criado um documento com os objetivos sanitários da década, e também pensando o projeto Bairros Saudáveis, que consiste na criação de ambientes favoráveis a um estilo de vida saudável, com a praças e parques para a prática de exercícios, por exemplo. ?Grande parte foi atingido, mas a adoção de indicadores foi importante para conseguirmos identificar os pontos de melhoria, e avançar?.
No Chile, há uma distribuição e remuneração per capita para o atendimento primário, com todo cidadão sendo acompanhado pelo grupo de saúde da família, mesmo aqueles de cidades rurais e em situação de pobreza.
A lei de Garantias foi criada para dar transparência à população sobre atendimento, prazos e custos de treinamento, e de qualidade. Ao longo dos últimos anos, foram mapeadas as principais patologias em termos de ocorrência e impacto no setor de saúde, e foram definidos protocolos junto com as sociedades médicas para o tratamento de cada uma delas. Hoje, uma vez diagnosticado com uma das 69 patologias mapeadas, o usuário encontra no portal do ministério de saúde os exames e acompanhamentos que devem ser feitos, em que prazo ele deve ser atendido e qual o custo na área privada para o tratamento.
Para garantir a qualidade, o governo determinou que todos os serviços de saúde sejam acreditados até dezembro de 2012. Aqueles que não obtiverem a certificação, não poderão mais ser financiados pelo governo. ?Gostaríamos que o processo de qualidade dos hospitais e clínicas fosse mais rápido, mas há um desafio de custo e de resistência cultural a ser vencido. A acreditação servirá como elemento de avaliação das instituições, pois hoje é complexo avaliar serviços com diferentes focos?, avalia o executivo.
Era do conhecimento
A transformação no setor de saúde chileno acontece fortemente na utilização da Tecnologia de Informação e Comunicação na gestão dos serviços. A integração dos dados é premissa básica para a evolução do atendimento em saúde. ?A era do conhecimento demanda o uso das tecnologias em nosso favor. Há uma exigência por maior qualidade e precisamos acompanhar essa evolução?, desataca.
O ministério de saúde do Chile trabalha na integração das informações, que terão um sistema único a ser alimentado com dados da população e dos serviços. ?Hoje, há 20 milhões de celulares no Chile, número maior que a população, e é uma ótima ferramenta para ajudar na comunicação e no envolvimento da população no cuidado com sua saúde, sobretudo com os doentes crônicos?, pontua o ex-ministro.
Outro ponto a ser trabalhado em conjunto com a saúde é a educação. ?Não podemos deixar as pessoas de fora dessa informação. É com informação que as pessoas conseguem melhorar também o cuidado com sua saúde?, conclui.
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