Diante do aumento de expectativa de vida da população, as nações ainda em desenvolvimento enfrentam o paradoxo da evolução tecnológica do novo século: como suportar as novas demandas em meio aos gargalos de base que ainda assombram o setor de saúde de um país como o Brasil?
“Vamos ter o início de um colapso, com cirurgias da mais alta tecnologia robótica sendo realizadas e, ao lado, pessoas morrendo em decorrência da dengue”, aponta, de forma realista, o diretor superintendente do Instituto Israelita de Consultoria e Gestão Albert Einstein, José Henrique Germann, que à margem do debate sobre o investimento em novos equipamentos e métodos alerta para a maior demanda da saúde brasileira: “educação sanitária”.
Fato é que enquanto os gestores de saúde assistem ao envelhecimento dos brasileiros, convivem de forma simultânea com os perigos de uma estrutura não preparada para tal. Com a veloz mudança de perfil da população, é nítido que a melhoria da educação e dos recursos básicos como tratamento de água e esgoto não acompanham a mesma curva crescente, o que coloca em xeque o sucesso no suporte ao atendimento das novas gerações de doenças crônicas.
“Temos de um lado o fenômeno da evolução da medicina, desde as vacinas até os antibióticos, passando pela eletricidade, métodos de atenção médica personalizada, e chegando ao futuro da medicina genética.  Por outro,  um país onde só 44% da população tem acesso a esgoto e 77% à água tratada , onde está se vivendo mais e aumentando a demanda por serviços de saúde e previdência social, mas que apesar da longevidade, ainda tem uma média de apenas sete anos de estudo por cidadão,  avalia Germann, retratando a contradição entre corrida por tecnologia e falta de estruturas mínimas para a melhoria da sociedade.
Nesse sentido, o presidente do Comitê de Medicina e Saúde da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Josier Marques Vilar, caminha para um lado às vezes ofuscado do conceito de tecnologia. Aquele que não trata da importação de equipamentos ou de técnicas ainda milionárias para a otimização de hospitais e centros de pesquisa, mas a tecnologia no sentido do conhecimento, do simples e puro conhecimento que precisa partir da base dos profissionais do setor.
Como exemplo, o especialista apresenta o caso do combate à dengue na capital fluminense para ilustrar o quão básicas são algumas medidas que podem se mostrar eficazes. “As coisas mais simples, às vezes, transformam mais que as complexas. Nós treinamos profissionais, monitoramos os pacientes com serviços de SMS e call center e fizemos o gerenciamento dos resultados: as mortes caíram de 148 em 2008 para 17 em 2012, sendo nenhum caso considerado evitável. É óbvio que são vários fatores de uma ação integrada, mas a análise dos dados e cenários já pode mudar o jogo da realidade sanitária brasileira”, coloca.
Mais do que pensar exatamente nos recursos para suportar uma população envelhecida, a evolução precisa, segundo gestores do mercado, vir das raízes. Para se ter uma ideia, o Brasil saltou de 7% para 14% de idosos em 25 anos, enquanto a França demorou 120 anos para atingir tal patamar.
Para que não seja “incrível”, nas palavras de Germann, ter de discutir uma epidemia de dengue ou o aumento dos casos de AIDS numa cidade desenvolvida; ou então, como destaca Vilar, vislumbrar um desenvolvimento tecnológico sem nem mapear o número e as condições dos serviços disponíveis. “Desejos e necessidades dos recursos do século XXI com gestão do século XX”, finaliza Germann.