Em meus 30 anos como jornalista e escritor de matérias de ciências vi inúmeras ?revoluções de saúde? chegarem e irem embora. Então só me resta imaginar se a nova onda para reforma de cuidado do paciente usando o gerenciamento de saúde da população (PHM) é outra dessas ?revoluções?.
Em uma entrevista recente Farzad Mostashari, diretor do Office of the National Coordinator of Health Information Technology (Escritório do coordenador nacional de informação de tecnologia de saúde), enfatizou a necessidade para novas entregas de modelo de saúde, que em sua avaliação, devem incluir o PHM.
Então, o que é exatamente a PHM? Especialistas a definem de várias maneiras. Segundo Mathematica, um grupo de pesquisa de política, o recurso tem como objetivo ?melhorar a saúde da população ao atacar ?as maiores causas de nossas doenças?, incluindo desnutrição, sedentarismo ou abuso de substâncias tóxicas?. Um dicionário médico a define como: ?A coordenação da prestação de cuidado para uma população com o objetivo de melhorar resultados clínicos e financeiros, por meio de gerenciamento de doenças, casos e gestão de procura?.

São causas nobres, mas identificar as maiores causas de deficiência de saúde e melhorar a coordenação de cuidado é um alvo distante para nosso fragmentado sistema. O que precisa-se são ferramentas sofisticadas de TI e a sabedoria por parte dos médicos para usarem o gerenciamento da população em uma tática a longo termo.
Uma notícia recente do Institute for Health Technology Transformation (Instituo de transformação para a tecnologia de saúde) apontou vários obstáculos para a completa realização do PHM. O relatório cita inúmeras ferramentas tecnológicas para manter a população saudável e minimizar a necessidade de caras intervenções como visitas aos departamentos de emergência e hospitalizações.
Essas ferramentas incluem registros eletrônicos de saúde, plataformas de telehealth (entrega de serviços e informações de saúde por meio de tecnologias de telecomunicação ? N. da T.), registros eletrônicos, software de gerenciamento de dados e sistemas de análise. Fornecedores podem usar EHRs e ferramentas de automação para identificarem e separarem pacientes que precisem de cuidado ou atenção especial; identificar falhas no cuidado; analisar os resultados; e encorajar os pacientes a assumirem mais responsabilidade em sua saúde.
Entretanto, a conclusão do relatório é que as ferramentas usadas atualmente pelos fornecedores de saúde não têm a habilidade de armazenar, gerenciar e distribuir informação relevante e que chegue a tempo para suprir o grau necessário ao PHM.
Os EHRs, por exemplo, não costumam ter dados sobre o cuidado que o paciente recebeu fora da organização de saúde e não são projetados pra interoperabilidade. Da mesma forma, muitos também não geram os alertas em tempo real para cuidado crônico e preventivo e não geram relatórios de qualidade e populacional.
Da mesma forma, as ferramentas de análise clínica em uso são primitivas, reportando apenas fatos básicos e números a cerca do quadro do paciente. A próxima geração de ferramentas BI (Business Intelligence) precisa ser preditiva e prescritiva para tornar o PHM uma realidade.
Do lado clínico, há outros obstáculos. Médicos são treinados para fornecer cuidado individual, não populacional, e apesar dos proponentes do recurso contarem o cuidado populacional como o cuidado individual multiplicado por um número X, o cenário é bem mais complicado que isso.
Muitas das intervenções necessárias para melhorar a saúde da população cai na esfera da educação e segurança pública e não na prática médica. Levar diabéticos a se alimentarem corretamente e fazerem mais exercícios, por exemplo, não é o que os médicos fazem melhor, esse papel é tradicionalmente dos educadores e agentes de saúde pública por meio de campanhas ou instruções em encontros. (vale lembrar que a matéria foi feita tendo em mente a população dos Estados Unidos ? N. da. T.).
Da mesma forma, muitos médicos se recusam a seguir guias de práticas médicas impostas, mesmo quando essas guias provaram melhorar a saúde de grande parte dos pacientes. Médicos alegam que trabalhar uma população como um todo nem sempre funciona para o paciente individual, e do ponto de vista estatístico, essa visão tem sentido.
Um teste clínico que mostra que um remédio baixa o nível de colesterol em 1.000 pacientes não prova que será efetivo ? ou seguro ? quando administrado em um paciente que não compartilha do estilo de vida, gênero, hábitos alimentares e predisposição genética do grupo que foi testado.
Em resumo: a não ser que seu sistema de TI ganhe uma grande atualização e que as preocupações dos médicos sejam avaliadas, a gestão de saúde populacional talvez se torne outras das ?soluções? que não vingaram.

Fonte: Paul Cerrato | InformationWeek EUA; replicada na InformationWeek Brasil


Tradução: Alba Milena, especial para o Saúde Web