A inteligência artificial (IA) possui um potencial extraordinário como ferramenta auxiliar no rastreamento do câncer de mama, a forma de câncer mais prevalente entre mulheres no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA)

Uma das principais funcionalidades da IA é a sua capacidade de prever o risco de uma paciente desenvolver câncer de mama no futuro. Essa previsão é feita por meio da análise de diversos dados, como históricos médicos, características genéticas, estilo de vida e resultados de exames anteriores. 

Utilizando algoritmos avançados de aprendizado de máquina, a IA consegue identificar padrões sutis que muitas vezes passam despercebidos a olho nu, permitindo uma avaliação mais precisa do risco individual. 

“Essa previsão possibilita a implementação de protocolos de rastreamento personalizados e mais eficazes, que podem incluir exames de imagem realizados com maior frequência, aconselhamento genético e intervenções preventivas direcionadas”, explica Marcos Queiroz, membro do Conselho de Administração e líder do Comitê Técnico de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed, além de diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein. 

Essa abordagem permite que as pacientes recebam cuidados mais proativos e personalizados, aumentando as chances de detecção precoce e, consequentemente, melhorando os desfechos clínicos. 

“Além disso, a IA desempenha um papel crucial tanto na detecção de lesões em exames mamográficos quanto na otimização do fluxo de trabalho dos radiologistas. Ao classificar os exames como ‘alto risco’ ou ‘baixo risco’, a ferramenta ajuda a priorizar aqueles que exigem maior atenção, aliviando a carga de trabalho dos médicos diante do elevado volume de exames realizados em programas de rastreamento populacional”, acrescenta Queiroz. 

Integração de dados 

O câncer de mama está sendo abordado de maneira cada vez mais individualizada, e a integração de dados, aliada a soluções inteligentes de IA, permitirá uma personalização ainda maior. “A inteligência artificial não apenas ajudará a determinar o tipo de rastreamento mais adequado para cada mulher, visando a detecção precoce, mas também a identificar o tratamento mais eficaz para seu caso específico. Isso reduzirá a necessidade de exames desnecessários e tratamentos ineficazes”, ressalta Queiroz. 

Ele destaca que o futuro do rastreamento e do tratamento do câncer de mama requer não apenas o avanço de novas tecnologias e equipamentos, mas também uma profunda integração de diferentes tipos de dados, incluindo informações demográficas, clínicas, de imagem e genéticas. “Assim, o desenvolvimento simultâneo dessas várias frentes contribuirá significativamente na abordagem do câncer de mama, desde a sua detecção até o tratamento”, afirma. 

Principais desafios na aplicação da IA 

No que diz respeito aos principais desafios na aplicação da IA, Queiroz menciona a dificuldade de replicar resultados obtidos em populações controladas para a população geral, especialmente em diferentes países. Estudos de IA realizados em uma região ou país específico muitas vezes não são generalizáveis para outras áreas devido às particularidades de cada população, como variações genéticas, ambientais e o acesso aos serviços de saúde. “Por isso, investimentos na construção de bancos de dados locais são cada vez mais cruciais”, acrescenta. 

Outro desafio significativo é a gestão do vasto volume de dados confidenciais gerados no setor de saúde, especialmente diante das rigorosas legislações de proteção de dados, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil.