As operadoras de saúde não têm para onde correr: têm que reduzir seus custos operacionais para terem algum lucro, não decretarem falência [1] e/ou não serem adquiridas por grandes grupos multinacionais de saúde [2]. “Se ficar o bicho pega, e se correr o bicho come”. Acabou o “eldorado” de ficar aumentando todo ano a mensalidade do plano de saúde – acima da inflação – pois o segurado não conseguirá mais pagar a “prestação” e, vai abandonar o plano de saúde, trocando-o – provavelmente – por um mais “em conta”. “A combinação de custos crescentes, margens em queda e planos com preços proibitivos não beneficia a ninguém”.
Para piorar as coisas o segmento de Saúde está 20 anos – no mínimo – atrasado em termos de Tecnologia da Informação (TI) [3], [4]. E o que fazer então? Uma coisa é consenso no segmento: “precisamos melhorar a nossa eficiência e reduzir nossos custos”. Bingo! E agora José?! Como descascar o “cucumber”!
Alguém acorda e diz: temos que usar mais a tecnologia para nos ajudar a ver luz no fim do túnel depois dessa amarga “encruzilhada”! Temos algumas opções: (a) estruturar nossas informações reduzindo a atual “desorganização” vigente nos sistemas de TI da Saúde; (b) reestruturar o empreendimento de saúde para ele se voltar para um negócio baseado em dados (“data driven”) [5] ; (c) começar a apostar no “bálsamo” da tecnologia de “big data” [6]; (d) quais as tecnologias que podem nos ajudar nessa jornada? (p. ex., “wearable”, Wi-Fi, RFID, detector de quedas de pacientes; GPS; “beacon”, etc, etc); (e) apostar mais em soluções de monitoramento remoto de pacientes; entre outras várias alternativas.
Nesta matéria vamos nos deter apenas na Monitoração Remota de Pacientes ou Monitoramento Remoto. A Monitoração remota tem tido – e vai ter muito mais ainda – uma contribuição gigantesca da tecnologia de dispositivos “wearable” e das telecomunicações (seja ela telefonia fixa ou móvel) para transmissão dos sinais vitais dos pacientes remotamente [7], [8] E [9].
A tradicional clínica americana Mayo Clinic – destacado celeiro de inovação em saúde – aposta na monitoração remota dos pacientes. É – sem dúvida – um apoio de um grande nome no segmento da saúde à monitoração remota dos pacientes [10].
Esta Monitoração pode ser muito importante por uma série de razões: (a) monitorar e prever doenças antes delas se tornarem crônicas ou críticas; (b) para apoiar a desospitalização antecipada de pacientes (ajuda a humanizar o tratamento de pacientes e na redução de custo de saúde); (c) auxiliar em testes clínicos de novos medicamentos; entre outras.
Nos testes clínicos dos novos medicamentos a análise de “big data” e as novas tecnologias clínicas – tais como soluções de “mobile health” e dispositivos “wearables” – prometem mudar significativamente a forma de como os testes pilotos dos novos medicamentos serão conduzidos e aumentar o valor dos dados e “insights” que serão produzidos nesses testes [11].
A monitoração remota dos pacientes vai ter um grande papel na desospitalização dos pacientes. As operadoras de saúde vão ter um instrumento poderoso no tratamento dos pacientes nas suas residências. Isso vai ser fundamental na redução do custo hospitalar pois a alta do paciente pode ser antecipada (alguns hospitais chamam isso de Internação Abreviada) e a estabilização do paciente pode ser acompanhada no seu habitat natural através da tecnologia “wearable”. Essa monitoração “conectada” vai permitir – também – que as operadoras de saúde tenham uma atitude pró-ativa através de um serviço de “call center”. O que queremos dizer com isso? Por exemplo, quando um determinado sinal de um paciente monitorado for descompensado (p. ex., pressão arterial), o serviço de “call center” deverá entrar em contato imediatamente com o paciente. Além dessas vantagens, o paciente tem o ganho de ser tratado dentro do seu ambiente familiar em companhia dos seus familiares o que humaniza seu tratamento [12].
Além do setor de Saúde os dispositivos “wearables” estão trazendo uma grande contribuição os setores de aptidão física (“fitness”) e bem-estar (“wellness”) das pessoas de uma forma geral (e não apenas de pacientes) [13].
Um hospital americano de Nova Orleans – Hospital Ochsner – criou um programa muito interessante para monitorar a hipertensão dos seus pacientes através do relógio inteligente Apple Watch [14]. O hospital já tem até a sua página de um Programa de Medicina Digital da Hipertensão [15]. Uma grande sacada que poderia ser “seguida” ou “copiada” por instituições de saúde no Brasil. E como se diz do Lavoisier na vida mundana: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se copia”.
A monitoração remota de pacientes – com a coleta de dados vitais através de “smartphone” e tecnologia “wearable” – vai trazer uma grande contribuição para os casos de análises preditiva de “big data” em Saúde. A Intel está fazendo um trabalho muito interessante na sua pesquisa sobre o Mal de Parkinson. Esta doença é devastadora e o conhecimento prévio dela – como advoga a Mayo Clinic acima sobre monitoramento remoto – vai trazer uma grande contribuição para os pacientes com esta morbidade. O Mal de Parkinson normalmente só é diagnosticado quando 60% do cérebro já foi afetado pela doença! [16] A Intel está utilizando nessa pesquisa a sua tecnologia Basis de relógio inteligente para o monitoramento dos pacientes de Parkinson [17].
A Apple está apostando muito em Saúde e o seu relógio inteligente é um “hub” desse movimento. A Saúde Digital pode ser a nova fronteira da Apple e ela quer transformar o seu Apple Watch em um “ecossistema para o corpo humano”. Esse dispositivo poderá ter um papel fundamental na monitoração remota de pacientes como já vimos acima no caso do hospital de Nova Orleans [18] e [19].
A tecnologia “wearable” além de auxiliar na monitoração remota de pacientes terá um papel fundamental no papel do “homem conectado” e na inovação na saúde [20], [21], [22] e [23]. No futuro, alguns dispositivos “wearables” se tornarão invisíveis e serão implantados no corpo humano [24].
Na Saúde, uma outra faceta da monitoração de pacientes, está associada a um fato completamente diferente de aspectos clínicos de pacientes. Essa nova realidade está relacionada a uma “permuta” dos dados da monitoração de um segurado de uma operadora de saúde, pela redução do seu valor do prêmio do seguro de saúde. O que estamos falando é algo mais ou menos assim: o segurado permite que a operadora de saúde obtenha os dados biométricos dele via tecnologia “wearable” e, em troca, a operadora reduz o valor da prestação mensal do seu seguro. Interessante “approach” comercial, não?! … você me dá informações sobre sua saúde e eu lhe dou uma redução no custo do seu seguro de saúde! Algumas operadoras já começaram a usar esse modelo [25] e [26]. Esse modelo e suas variações vão aparecer aos “montes” em futuro próximo pois as operadoras de saúde vão querer coletar os dados dos seus segurados por uma série de razões (p. ex., análise preditiva da saúde do seu segurado, no caso dos pacientes crônicos antecipar a atenção a esses pacientes para prestá-los um melhor tratamento e minimizar “surpresas”, entre outras). Aqui temos mais um exemplo onde a empresa de tecnologia “wearable” Fitbug firmou uma parceria com uma seguradora de saúde [27].
Como a tecnologia “wearable” vai ter uma grande evolução na área da saúde, o mercado já sugere um padrão (“standard”) completamente novo para proporcionar a conectividade nessa nova era dos dispositivos “wearables”, substituindo o Wi-Fi pelo “Body Fi” (sic!) [28].
Um fato aqui merece destaque: a monitoração remota de pacientes pode significar um novo negócio – e grande – para as operadoras de telefonia móvel vender no mercado corporativo (para as operadoras de saúde) e grandes corporações (que se preocupam com a saúde dos seus funcionários). Como assim?! Eu não vi qual negócio? É simples mas é um “pacote”: (a) garantir a conectividade – de forma simples e barata – no habitat dos pacientes a serem monitorados (p. ex., via Wi-Fi ou tecnologia “small cell”); (b) utilizar aplicativos e sensores para monitorar os sinais vitais dos pacientes; (c) coletar, agrupar e armazenar os dados dos pacientes em uma “nuvem” (“cloud”); (d) utilizar os dados dos pacientes para ações pró-ativas de serviços de “call center”, quando necessário; (e) utilizar os dados para diagnósticos e análise preditiva de “big data” sobre a saúde dos pacientes e, dê “asas a sua imaginação” que vai descobrir mais funcionalidades. Segundo o analista de indústria Berg Insight [29], o serviço de monitoração remota de pacientes deve crescer a uma taxa de 35% ao ano de 2013 a 2018, alcançando uma receita de 19,4 bilhões de euros no final desse período. A utilização da tecnologia de “big data” dos dados dos pacientes promoverá uma série de novos negócios inclusive a possibilidade de fornecer serviços de “BDaaS” (Big Data as a Service”) de Saúde [30]. Tenha fé Tomé, você chegará lá! Aproveite e veja com Vinod Khosla da Khosla Ventures o que poderemos fazer com os dados dos pacientes coletados via “smartphone” [31].
Um ponto interessante: a adesão à medicação dos pacientes em regime de monitoração remota pode ser um “plus”. Aqui temos o exemplo de uma plataforma de “mobile health” que além de endereçar essa adesão ainda concentra (“hub”) alguns sinais vitais dos pacientes [32].
Finalmente, a monitoração remota de pacientes trará novas oportunidades de negócios para o segmento de Saúde mas também trará preocupações de segurança do serviço e de privacidade dos dados dos pacientes que devem ser endereçadas [33]. Pense nisso!
Referências:
[1] Só reajustar planos de saúde não resolve crise das seguradoras, UOL, 13.jun.2014
http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2014/06/13/so-reajustar-planos-de-saude-nao-resolve-crise-das-seguradoras.htm
[2] Americana UnitedHealth compra Amil por R$ 6,49 bilhões, Referências do Google, Outubro de 2012
https://www.google.com.br/search?q=unitedhealth+amil+2012&ie=utf-8&oe=utf-8&gws_rd=cr&ei=1zROVZDLLcH9ggS2oIFI
[3] IDC Reveals Health Insights Predictions for 2015, IDC, 20.nov.2014
http://www.idc.com/getdoc.jsp?containerId=prUS25262514
[4] Healthcare Informatics and MedTech Innovation, PwC, 25.apr.2014
http://www.massmedic.com/wp-content/uploads/2014/04/HC-Informatics-Trends-MassMEDIC-2014-04-25-Section-1-vF.pdf
[5] Data-driven Health care, MIT Technology Review, June 2014
http://www.technologyreview.com/businessreport/data-driven-health-care/free/
[6] Internet das Coisas: Como “Big Data” pode guiar a transformação da Saúde?, Convergência Digital, 06.abr.2015
http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=39314&sid=15
[7] Tecnologia “Vestível”: A revolução da Internet das coisas na Saúde, Convergência Digital, Convergência Digital, 05.nov.2014
http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=38329&sid=15
[8] How Medical Wearables Can Transform Healthcare, WT Vox, 10.apr.2015
https://wtvox.com/2015/04/medical-wearables-startups-can-transform-healthcare/?utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter
[9] Wearable Tech Could Lead To Better Health, CBS Miami, 14.apr.2015
http://miami.cbslocal.com/2015/04/14/wearable-tech-could-lead-to-better-health/?utm_content=buffer4adeb&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer#.VTExOiEKRoc.twitter
[10] Video: Mayo Clinic cardiologists discuss their vision for remote patient monitoring, You Tube, 09.sep.2012
[11] How wearables and mobile health tech are reshaping clinical trials, Venture Beat, 15.abr.2015
http://venturebeat.com/2015/04/17/how-wearables-and-mobile-health-tech-are-reshaping-clinical-trials/
[12] Referências do Google sobre Desospitalização
https://www.google.com.br/search?q=desospitala%C3%A7%C3%A3o&ie=utf-8&oe=utf-8&gws_rd=cr&ei=iIdOVZ9Ji72CBKbOgMAK#q=desospitaliza%C3%A7%C3%A3o
[13] Running on data: Activity trackers and the Internet of Things, Deloitte University Press, 26.jan.2015
http://dupress.com/articles/internet-of-things-wearable-technology/?id=us:2sm:3tw:dup999:eng:dup:050115:du_press:dr16&utm_content=bufferb757b&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer
[14] A Hospital Is Already Giving Apple Watch To Its Patients, Forbes Magazine, 24.apr.2015
http://www.forbes.com/sites/dandiamond/2015/04/24/can-apple-watch-make-patients-healthier-how-one-hospital-is-trying-to-find-out/
[15] Hypertension Digital Medicine Program, Ochsner Health System
http://www.ochsner.org/services/hypertension_disease_management/
[16] Video: AWS & Intel HC Cloud Solution – Wearables for Parkinson’s Disease Research at Invent 2014, You Tube, November 2014
[17] Referências do Google sobre Intel + Basis Technology
https://www.google.com.br/search?q=Intel+Basis+Technology&ie=utf-8&oe=utf-8&gws_rd=cr&ei=n5pOVZv_O8ixggTUjYCIBA
[18] How Apple Is Building An Ecosystem For Your Body, Fast Company, 23.apr.2015
http://www.fastcompany.com/3045023/researchkit-healthkit-and-an-apple-for-your-health
[19] How Apple Watch could predict heart attacks in the future,Cult of Mac, 08.may.2015
http://www.cultofmac.com/322011/how-apple-watch-could-one-day-predict-heart-attacks/
[20] El ‘Hombre Conectado’ tendrá #Wearables implantados y emitirá datos en tiempo real, BBVA Open 4U, 22.abr.2015
http://bbvaopen4u.com/es/actualidad/el-hombre-conectado-tendra-wearables-implantados-y-emitira-datos-en-tiempo-real
[21] How Wearable Tech will change your life (Infographic), Viz World, 25.apr.2015
http://www.vizworld.com/2015/04/how-wearable-tech-will-change-your-life-infographic/#sthash.uOb13aGd.gf0nqmey.dpbs
[22] Top 10 Companies Pushing Innovation In Digital Health, wt Vox, 13.mar.2015
https://wtvox.com/2015/03/top-10-companies-pushing-innovation-in-digital-health/?utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter
[23] Digital Health On Your Wrist, Slideshare, 07.may.2015
http://www.slideshare.net/mightythings/mighty-things-digital-health-on-your-rist
[24] Wearables will eventually become invisible, m2m Telefónica, 01.apr.2015
https://m2m.telefonica.com/blog/wearables-will-eventually-become-invisible?utm_content=buffer146a1&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer
[25] Giving Out Private Data for Discount in Insurance, The New York Times, 15.apr.2015
http://mobile.nytimes.com/2015/04/08/your-money/giving-out-private-data-for-discount-in-insurance.html?referrer=&_r=3
[26] Could an Apple Watch lower your insurance premium?, Want China Times, 08.may.2015
http://www.wantchinatimes.com/news-subclass-cnt.aspx?id=20150508000019&cid=1204
[27] Wearable tech firm Fitbug signs health insurance partnership, Bdaily Business News, 29.apr.2015
https://bdaily.co.uk/technology/29-04-2015/wearable-tech-firm-fitbug-signs-health-insurance-partnership/
[28] Researchers propose new body WiFi for the Wearable age, Engineering & Technology Magazine, 28.apr.2015
http://eandt.theiet.org/news/2015/apr/body-wifi.cfm
[29] 3.0 million patients worldwide are remotely monitored, Berg Insight, 2013
http://www.berginsight.com/ReportPDF/ProductSheet/bi-mhealth6-ps.pdf
[30] Big Data-As-A-Service Is Next Big Thing, Forbes Magazine, 30.apr.2015
http://www.forbes.com/sites/bernardmarr/2015/04/27/big-data-as-a-service-is-next-big-thing/
[31] Vinod Khosla from Khosla Ventures, Keynote Speaker at Big Data in Biomedicine, Stanford, 2014
https://mediaspace.stanford.edu/media/Vinod+Khosla+Khosla+Ventures+-+Big+Data+2014/0_1rlq9hil
[32] Plataforma de Adesão à Medicação com Monitoramento de Sinais Vitais
http://www.mservices.net.br/saiba-mais
[33] Do Wearable Devices in Hospitals Pose Security Threats?, Phisicians News Digest, 17.apr.2014
http://physiciansnews.com/2015/04/17/do-wearable-devices-in-hospitals-pose-security-threats/
*Eduardo Prado é consultor de mercado em novos negócios, inovação e tendências em Mobilidade, Convergência e “Big Data” em Saúde.
E-mail: [email protected]
Twitter: https://twitter.com/eprado_melo