A convergência entre medicina e tecnologia tem impulsionado uma transformação sem precedentes na assistência em saúde. Foi pensando nisso, que a ABCIS Summit promoveu o painel “CMIO – Do Estetoscópio ao Algoritmo: Médicos na Liderança da Revolução Digital”, realizado na Hospitalar 2025, com mediação de Felipe Cezar Cabral, gerente médico de saúde digital do Hospital Moinhos de Vento.
O encontro reuniu três grandes nomes do setor: Valéria Pinheiro de Souza, CMIO do Hospital Israelita Albert Einstein, Carlos Sacomani, coordenador médico de Inovação e TI do A.C.Camargo Cancer Center, e Fabio Lario, Gerente do Sírio-Libanês, que compartilharam suas experiências e reflexões sobre o papel dos médicos na transformação digital.
Conectando tecnologia à prática médica
O debate começou com relatos pessoais que mostraram como a tecnologia entrou na carreira de cada um. Valéria contou que sua jornada digital começou com uma inquietação clínica: “Sempre que fazia plantão na UTI, eu queria entender melhor por que alguns pacientes morriam e outros sobreviviam. Isso me levou a implementar o Epimed, um sistema de gerenciamento de UTI, e acabei sendo convidada para trabalhar com TI no Einstein.”
Para Sacomani, a trajetória começou cedo: “Comecei a programar aos 14 anos. Depois virei urologista, cirurgião robótico, mas sempre mantive essa ponte com a tecnologia. Quando o hospital decidiu trocar o prontuário eletrônico, fui chamado para ajudar — e ali percebi que eu falava as duas línguas: a da TI e a da assistência.”
Fábio Lario destacou o impacto da digitalização no cuidado ao paciente: “Ter acesso à informação, no momento certo e por todos os profissionais envolvidos, muda tudo. Quando participei da digitalização do prontuário no Hospital Oswaldo Cruz, percebi o quanto isso era crítico para a tomada de decisão.”
O CMIO como elo estratégico
Os três especialistas reforçaram que o papel do CMIO não é substituir a equipe de tecnologia, mas sim atuar como tradutor entre o mundo clínico e o digital. “A ideia não é substituir vocês da TI, é compor. É entender a dor do médico e traduzi-la para a tecnologia — e vice-versa”, disse Valéria.
Carlos Sacomani complementou: “Nós, CMIOs, precisamos participar da implementação da inteligência artificial principalmente quando ela afeta a assistência. Isso exige validação científica, conhecimento clínico e estratégia.”
IA com responsabilidade e transparência
No Einstein, projetos com foco em eficiência e segurança estão sendo priorizados: estruturação de prontuário, reconhecimento de voz e sumário de alta com inteligência artificial. “O médico gasta 55% do tempo no computador. Precisamos facilitar esse processo. IA tem que agregar valor e não atrapalhar”, enfatizou Valéria.
Ela também destacou a importância da responsabilização no uso de algoritmos: “Todo médico que usa IA no Einstein precisa aceitar um disclaimer dizendo que a decisão final é dele. A tecnologia sugere, mas a responsabilidade é sempre do profissional.”
Estratégias distintas, objetivos comuns

Cada hospital possui seu próprio modelo de priorização de projetos. No Sírio-Libanês, como explicou Fábio, “a estratégia gira em torno da experiência do paciente e da otimização de recursos. Avaliamos se vale mais a pena desenvolver internamente ou buscar soluções já existentes.”
No AC Camargo, a arquitetura de dados e o letramento digital são prioridades. “Não adianta ter uma arquitetura fantástica se os dados inseridos são ruins. Precisamos cuidar do input de dados desde o início”, afirmou Sacomani. “Hoje, criar campos estruturados bem definidos no prontuário faz toda a diferença para o sucesso da análise posterior.”
Formação dos novos líderes digitais
Uma preocupação compartilhada pelos participantes é a necessidade de mais profissionais médicos com formação em tecnologia. “Precisamos discutir o escopo e o caminho de formação de um CMIO. Isso ainda está sendo construído no Brasil”, avaliou Sacomani.
Fábio reforçou: “A visão de quem tem um pé na clínica e outro na tecnologia é essencial para as decisões estratégicas das instituições. É um conhecimento raro, e precisamos formar mais gente com esse perfil.”
Engajamento médico é prioridade máxima
No encerramento, os participantes responderam a um quiz, no estilo “mata-mata”, em que precisavam escolher entre temas fundamentais da saúde digital. Ao fim, o engajamento médico foi eleito o item mais essencial.
“Engajamento médico é a base da viabilidade financeira. Quanto melhor o prontuário for preenchido, mais dados você tem, mais qualidade no cuidado e melhor remuneração”, concluiu Valéria. Já Sacomani reforçou: “Inovação em saúde precisa do profissional de saúde. Não dá para inovar sem quem vive a prática diariamente.”
Tabela: Resultado do Quiz Final
Durante o encerramento, Felipe Cabral propôs aos participantes realizaram um quiz em formato de “mata-mata”, com temas estratégicos da saúde digital. Veja o resultado abaixo:
Rodada | Escolha dos Palestrantes |
Governança de dados × IA | Governança de dados |
Governança de dados × Interoperabilidade | Interoperabilidade |
Interoperabilidade × Analytics | Interoperabilidade |
Interoperabilidade × Eficiência operacional | Eficiência operacional |
Eficiência operacional × Experiência do paciente | Eficiência operacional |
Eficiência operacional × Engajamento médico | Engajamento médico |
Engajamento médico × Viabilidade financeira | Engajamento médico |