Na Hospitalar 2025, ética foi mais do que uma palavra de ordem: foi uma convocação. Em entrevista exclusiva, Filipe Venturini Signorelli, diretor-executivo do Instituto Ética Saúde (IES), celebrou os dez anos da entidade ressaltando os avanços conquistados e os desafios que ainda exigem ação coletiva para transformar a saúde brasileira.
“São dez anos de muito trabalho e, enfim, conseguimos colher frutos”, disse Filipe. “A ética deixou de ser um conceito e passou a ser materializada em práticas de governança, regulação e autorregulação dentro da cadeia de valor da saúde.”
Um marco simbólico com impacto prático
Entre os destaques trazidos por Signorelli está o Marco de Consenso Setorial pela Ética, documento assinado por diferentes atores da cadeia de saúde na Hospitalar do ano passado, com princípios que vêm sendo reconhecidos não só nacionalmente, mas também em esferas internacionais. “No ano passado, esse documento foi entregue ao Papa Francisco como uma base de princípios éticos nas relações comerciais. Isso mostra o alcance e a profundidade da nossa proposta”, afirmou.
O marco já conta com 16 itens, sendo o mais recente a inclusão da inteligência artificial, com diretrizes para seu uso responsável. “A IA pode ajudar a salvar vidas, mas precisa estar a serviço da dignidade humana, sem cercear a autonomia médica ou os direitos dos pacientes”, explicou.
Negócios só entre quem pratica a ética
O executivo defende que empresas que adotam boas práticas éticas devem, sempre que possível, priorizar negócios entre si. “Os negócios devem ser feitos entre aqueles que comprovadamente praticam condutas transparentes. Isso é o que há de mais precioso. Onde há corrupção, há perda de vidas. E na saúde, a vida não espera.”
Segundo ele, a corrupção – pública ou privada – impacta diretamente a sustentabilidade do setor. “O país poderia ter uma cadeia de valor 40% mais barata se eliminássemos a corrupção. E a Hospitalar tem um papel fundamental ao se posicionar como hub não só de negócios, mas de boas práticas.”
Ética do pertencimento: um chamado ao setor
Mais do que um código de conduta, Signorelli propõe uma mudança de mentalidade. “Gosto de chamar os códigos de ética de ‘códigos de confiança’. Porque confiança é o que se faz até de porta fechada”, disse. Para ele, a ética não deve ser só de responsabilidade, mas de pertencimento.
“Quem trabalha na saúde precisa entender que a salvaguarda da vida nos pertence. É um ciclo de ações éticas em prol do bem comum. Não é apenas sobre falar de ética — é sobre praticá-la.”
Lei sobre Inteligência Artificial na Saúde
Outro ponto importante da conversa foi a necessidade de uma legislação específica sobre o uso de inteligência artificial na saúde. O Instituto foi convidado a coordenar uma iniciativa conjunta com a Frente Parlamentar Mista da Saúde, a maior do país, para propor um projeto de lei que regulamente o uso da tecnologia de forma ética e justa em todos os segmentos do setor.
Na ocasião, foi anunciada a criação da Comissão Temática de Inteligência Artificial na Saúde da FPMS, que ficará encarregada de elaborar uma minuta de Projeto de Lei sobre o tema. O trabalho será coordenado pelo assessor jurídico do IES, Giovani Saavedra, e deverá ser entregue em até seis meses ao presidente da Frente, deputado federal Dr. Zacarias Kalil.
“A saúde é um setor hiperfragmentado e hipervulnerável. Por isso, legislações que tratam da vida devem ter diretrizes próprias. A proposta é apresentar esse projeto até dezembro, com contribuições de todos os elos da cadeia”, afirmou.
Ética como elo indissociável da cadeia de valor
Signorelli reforça que, para a saúde ser verdadeiramente sustentável, é preciso adotar regras isonômicas e integradas, que considerem todos os segmentos: indústria, distribuição, hospitais, clínicas, planos de saúde, profissionais e tecnologia. “A cadeia de valor precisa conversar com regras que não beneficiem apenas um setor em detrimento do outro. Isso é justiça, isso é ética.”
Para o diretor-executivo do IES, a Hospitalar é o espaço ideal para fomentar essa transformação. “Tudo que está sendo feito aqui, de cada estande a cada palestra, tem um ponto final comum: a vida humana. E ela precisa ser protegida pela ética — não como retórica, mas como prática.”
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