Se o setor de saúde fosse um país, ele seria o 5º maior responsável pelas emissões de CO2 no mundo. Esse dado ilustra a urgência e a necessidade de discutir a sustentabilidade no campo da saúde.
A convite da IHF (International Hospital Federation), participei como moderadora no 47º World Hospital Congress, realizado em 2024 no Rio de Janeiro, no painel Designing and Demonstrating the Impact of Sustainable Healthcare. Apesar de a discussão ser ampla e envolver diversos setores, o painel trouxe exemplos práticos de ações que já estão gerando resultados em diferentes partes do mundo, provando que é possível conciliar interesses financeiros com metas sustentáveis.
Participaram representantes da Inglaterra, Estados Unidos, Espanha, Colômbia e Brasil. Abaixo, destaco os principais pontos apresentados:
Steve Bellingham, do Bupa Cromwell Hospital (Inglaterra), mostrou como a sustentabilidade foi integrada nos projetos do hospital por meio do envolvimento de todos os funcionários, capacitando-os a serem agentes de inovação. Além disso, o hospital colabora com diversas startups, como a Upcycled Medical, que fabrica uniformes hospitalares a partir de plásticos retirados dos oceanos e a Cassava Bags, uma empresa australiana que produz plásticos de uso único 100% biodegradáveis a partir de plantas.
Sohayla Eldeeb, do Stanford Healthcare (Estados Unidos), apresentou um projeto sobre o uso da telemedicina no tratamento do tabagismo. Ela destacou que os hospitais são grandes contribuintes para as emissões de carbono, especialmente em relação ao transporte de pacientes. A implementação da telemedicina mostrou uma redução significativa nessas emissões.
Mónica Castaño-Tovar, da Fundación Valle del Lili (Colômbia), apresentou um projeto que prova ser possível alinhar interesses financeiros com iniciativas sustentáveis. A fundação vem substituindo materiais de uso único por produtos reutilizáveis, diminuindo custos e a pegada de carbono. Ela também destacou o desafio de encontrar fornecedores qualificados, mas apontou que o mercado está evoluindo e oferecendo soluções.
Professor Andrew Garman, da Rush University (Estados Unidos), compartilhou o projeto da universidade, que busca reduzir em 50% as emissões de gases até 2030 e atingir emissão zero em 2050. Ele ressaltou que o setor de saúde dos EUA é responsável por 27% das emissões de carbono do país, enquanto o Brasil responde por 2%. Para alcançar esses objetivos, ele destacou etapas cruciais, como o engajamento dos funcionários, a alocação de recursos financeiros, a busca por parcerias com instituições sociais e governamentais, e a inclusão de metas sustentáveis para os colaboradores.
Fernando Lira, da Santa Casa da Bahia (Brasil), apresentou os resultados preliminares do Hospital Santa Izabel em projetos ambientais, como a redução significativa do consumo de água e a adoção de fontes de energia limpa.
Por fim, Miguel Ángel Martínez Sánchez, da Fundación Sanitària Mollet (Espanha), enfatizou a importância de envolver todos os stakeholders no projeto de transformar o hospital em um centro com zero emissões. Ele destacou que, além dos funcionários, a prefeitura, as escolas e os moradores do entorno também devem ser parte desse esforço.
Fica claro que a sustentabilidade já não é mais apenas uma estratégia para fortalecimento de marca, mas uma agenda obrigatória nas instituições de saúde. Moderar esse painel reforçou uma crença que compartilho: a troca de experiências entre instituições beneficia a todos e possibilita que bons exemplos inspirem outros profissionais. Por isso, nos eventos de saúde da Informa Markets no Brasil, a sustentabilidade tornou-se um tema obrigatório em todos os programas de conteúdo, assim como no Portal Saúde Business, onde o tema é constantemente debatido. Nos próximos anos, expandiremos ainda mais nossa atuação nesse setor, criando novas oportunidades para discussões sobre o tema.
*Juliana Vicente é Head do Portfólio de Saúde da Informa Markets Brasil.