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Gestores da Saúde: Esqueçam medidas governamentais que não vão ocorrer

Article-Gestores da Saúde: Esqueçam medidas governamentais que não vão ocorrer

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É necessário agir no inevitável caos! Políticos ficam na Disneylândia e vamos alcançar 4.000 mortes diárias rapidamente.

Não adianta mais ter esperança de que a conscientização vai ocorrer, que a politização vai acabar ... a cada dia nos deparamos com mais uma lambança. Não vale a pena perder tempo discutindo:

·         Se tratamento precoce funciona ou não ... não importa mais o que você acha a respeito ...

·         Se o planejamento na aquisição de vacinas falhou ... isso era para ter sido discutido em meados no ano passado, o fato é que temos uma quantidade pífia de vacinas ...

·         Se o lockdown vai melhorar o colapso da saúde ou não ... não há indício de que ele vai ocorrer, então pra que perder tempo discutindo se ele serve pra alguma coisa ?

·         Se é necessário privilegiar a saúde ou a educação ... o governo não fez nenhuma coisa nem outra, e nem vai fazer ... vamos dar foco nos que “caíram no nosso colo” ... os doentes ... nós não vamos resolver o problema da fome por mais doações que possamos fazer !

Vamos “cair na realidade”:

·         Se é verdade que o enfrentamento da pandemia deveria ser coordenado pelo governo central ... não interessa se você concorda ou não com isso ... já sabemos que isso não vai acontecer ... vamos perder tempo discutindo o que não vai acontecer ?

·         Foi criado um comitê “interpoderes” para fazer o que então seria responsabilidade de um dos poderes ... e sem a participação de todos os principais envolvidos ... o comitê já nasceu politizado ...

·         Então é lógico que continuaremos sem a tal coordenação central “cantada em verso e prosa” ... um grupo de pessoas que não tem conhecimento técnico vai ficar discutindo “o sexo dos anjos” semanalmente ... a intenção até pode ser boa, mas o resultado nós já podemos antever !

Tudo isso é a Disneylândia ... tudo muito bonito de falar, mostrar ... “tudo como dantes no Quartel de Abrantes”:

·         Se você é gestor da saúde, tudo isso não importa ... sabemos que seu problema é outro;

·         Não adianta mais professores doutores ficarem aparecendo pra ficar falando de coisas que deveriam ter sido feitas e não foram ... além de não ajudar, ainda desvia o foco de atenção;

·         Ficarmos ouvindo sobre coisas que podem reduzir o contágio ... na situação que você está isso já não tem mais importância;

·         Este tempo passou, e estas pessoas ficam “remoendo” ... não “vale a pena ver de novo”.

Humildemente vou usar este espaço para cometer o “sacrilégio” de sugerir ações práticas para tentar fazer com que você gestor, e os profissionais assistenciais que estão na linha de frente sob sua coordenação, possam pelo menos conseguir dormir quando o cansaço detonar o raciocínio ... são recomendações apolíticas, apartidárias, “aideológicas” !

 

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Não há como reduzir a necessidade de leitos que surge para o número de leitos que você tem disponível:

·         Daqui a pouco até vai começar cair o número de infectados ... de mortes ... mas vai continuar sendo maior do que o que você pode atender;

·         A mídia e os políticos vão ficar divulgando aqueles “gráficos e mapas ridículos” informando que em “xiririca da serra” caiu x % o número de infectados, sugerindo que as coisas estão melhorando ali ... já sabemos que isso não vai mudar;

·         Você, o profissional assistencial que está “escutando um monte” dos acompanhantes dos doentes que estão na porta do seu  hospital aguardando uma vaga ... vão  ter que continuar escolhendo quem entra e quem fica do lado de fora;

·         Você vai continuar tendo que lidar com as notícias que morreram várias pessoas antes do atendimento na porta do seu hospital ... não existe nada que o tal comitê “interpoderes” decida nas “reuniões semanais coordenadas pelo senado” que vá mudar este cenário rapidamente ... não adianta se iludir.

Recomendação:

·         Vale a pena perder algumas horas em reunião com os coordenadores assistenciais e definir um padrão de priorização que seja aceito pela maioria (totalidade acho difícil) dos envolvidos;

·         Um protocolo institucional de consenso da sua realidade ... ninguém conhece melhor a sua realidade do que vocês;

·         Não dá para responder por escolhas quando cada um da equipe decide pela que acha melhor, mesmo que seja a melhor, e os outros não sejam ouvidos;

·         Desenvolver o padrão em conjunto diminui a carga de responsabilidade dos profissionais que estão escolhendo o que acham melhor ... mesmo achando que é a melhor decisão, a vocação do profissional assistencial “martela sua cabeça” quando vê a publicação dos números de óbitos de pessoas não atendidas ... do tamanho da fila ...

·         Por mais que se pense o contrário, o profissional assistencial não lida bem com óbitos;

·         Aliviar “o complexo de uma culpa que eles não têm” neste momento é prioridade 0 !

 

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Falei com diversos gestores ... falei com alguns gestores de Manaus que já passaram pelo “inferno” que se instalou em todo o Brasil:

·         Oxigênio e “kit intubação” aparenta ser apenas a “pontinha do iceberg” ... vai faltar cânula, bomba ... pode faltar uma infinidade de insumos;

·         Diferente de Manaus que teve a chance de “importar” insumos de outros Estados ... que teve a chance de “exportar” doentes para outros Estados ... todo o Brasil entrando no “inferno” ao mesmo tempo a alternativa é importar de outros países;

·         Com este “comitê interpoderes” se ocupando com a “agilização da campanha de vacinação sem vacina”, da “compra de vacina que não existe para venda” ... a importação destes insumos de outros países em regime de urgência “não vai rolar”.

Recomendação:

·         Chame a enfermagem ... escute o que ela tem a dizer;

·         O médico é a figura central para definir condutas, mas ele não domina o que é necessário para montar o arsenal dos cuidados;

·         Ele sabe usar o equipamento montado ... não sabe o que é necessário para montar o equipamento ... para equipar os cuidados;

·         Se você ficar escutando somente médicos, vai continuar discutindo medidas de restrição, vacinação ... vai acabar sendo pego de surpresa porque acabou até material de assepsia;

·         Vamos lembrar que quem fica 24 horas todos os dias com o paciente internado é a enfermagem ... não são os outros profissionais assistências que interagem em procedimentos específicos e passam algumas horas por dia com eles;

·         Sem querer você entrou em “uma guerra” amigo ! ... faltar para todos é inevitável ... se antecipar para que não falte para você é o que resta a fazer;

·         Ouvir o que a enfermagem tem a dizer sobre insumos é prioridade 1.

 

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Não existe qualquer sinalização que comprove que chegamos ao pico do colapso ainda:

·         Os “casos de sucesso” como o da cidade do interior de São Paulo que fez lockdown demonstram que melhorou, mas o sistema continua colapsado;

·         Países que já fizeram lockdown e estão mais avançados em vacinação que nós ... estão fazendo lockdown novamente;

·         Enquanto as pessoas discutem o “manual de boas práticas epidemiológicas” você vai continuar com pacientes “vazando pelo ladrão” por um bom tempo e a estrutura assistencial é formada por pessoas ... tem equipamentos sim, e muitos, mas a maioria absoluta do que se faz em tratamentos são ações humanas: médico enfermagem, fisio, assistente social;

·         Equipamento não vira o paciente para respirar melhor ... não muda o paciente de decúbito ... não equipa para dar o soro e a medicação ... não se autocalibra ... quem faz isso são as pessoas;

·         Pessoas não são máquinas ... se cansam, desanimam, tem medo de se contaminar, de contaminar suas famílias ... cansados, com medo: erram como qualquer ser humano ... quanto mais cansado, maior a possibilidade de erro ... em unidade de cuidados intensivos isso é literalmente fatal !

Recomendação:

·         Utilize toda a estrutura de pessoas disponível para promover ações de “alívio mental e físico” para eles;

·         Não exija nem deixe que eles fiquem “dobrando plantões”, mesmo que seja pela vocação deles, ou até mesmo pela chance de algum deles conseguir uma renda maior do que tinham antes da pandemia ... procure mantê-los em uma carga horária que permita que o cérebro deles continue funcionando bem ... que os olhos deles “não encham de areia” de sono;

·         Tudo que é feito na UTI que não necessite ser feito por um intensivista (médico intensivista, enfermeiro intensivista, fisio intensivista ...) ... tudo que puder ser feito por outro profissional diminuindo a carga de trabalho dos especialistas em UTI deve ser feito ... qualquer minuto economizado do tempo dele, se puder ser empenhado de outro profissional que esteja com alguma ociosidade, vai valer a pena;

·         Planejar interações dos intensivistas com quem pode dar conforto físico e mental para eles neste momento é prioridade 2.

 

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A imprensa já provou estar politizada:

·         Vai pegar mal para os veículos de comunicação que se posicionaram contra e a favor a isso ou aquilo mostrar que mudou de opinião ... eles não vão fazer isso;

·         Vai pegar mal para os veículos que deram voz para opiniões de não especialistas sobre coisas técnicas assumirem o erro;

·         A mídia vai continuar entrevistando as mesmas pessoas que contra ou a favor determinada pessoa e tudo que fulano ou ciclano fizer ou falar sempre estará errado;

·         Vai continuar falando sobre as mesmas coisas, divulgando aquilo que interessa para ela ... não existe chance disso mudar.

Recomendação:

·         Antecipar a comunicação de informações de interesse para não ter que desmentir “fake news”;

·         Publicar na página, na porta, nas unidades os dados reais da instituição;

·         Ao receber uma reclamação de paciente, registrar a reclamação e o retorno dado ao paciente de forma ampla e irrestrita;

·         A transparência nunca foi tão importante para evitar que as pessoas que querem ter “um minuto de fama” façam um estardalhaço que acaba consumindo muito mais tempo e recurso do que o que você deseja empenhar no tratamento dos pacientes;

·         Hoje, por exemplo, estão “crucificando” uma operadora de planos de saúde por conta de denuncias de alguns beneficiários ... e ela está tendo que justificar a conduta;

·         A reclamação do beneficiário era de conhecimento da operadora que só está se manifestando porque “deu na TV”;

·         Não é questão discutir se a conduta foi certa ou errada;

·         Se foi conduta institucional teria sofrido menos desgaste caso tivesse publicado na sua página antecipadamente, para que seus beneficiários soubessem;

·         Discutir questões técnicas depois que o fato “vaza” não é a melhor coisa a fazer agora.

 

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Amigos gestores da saúde:

·         Entendam que ninguém entende o que você faz ... as limitações que você tem;

·         Entendam que quase 100 % da população não sabe o que você está passando ... quase 100 % da população está “rotulando você” como rotulam “os participantes da casa” ... a opinião pública é assim ... sempre foi assim;

·         Por mais que a gente tente, população e políticos não entendem o “cenário de guerra” que vocês estão metidos no momento ... justo vocês que não decretaram a guerra !

Recomendação:

·         Não esperem ajuda ... é melhor se virar com o que é líquido e certo ... com o que você tem;

·         Façam o que sabem fazer ... façam o que deve ser feito ... sem se importar com o “paredão” !

Não há sinal de que isso vá mudar rapidamente ... não se iluda !!!

Me desculpem a “petulância” ... a arrogância” em fazer recomendações ... sei que nem seria preciso ... é mais uma “palavra de consolo” do que outra coisa ... se as recomendações não foram úteis, tenho certeza que pelo menos o “apoio moral” ajuda.

Neste caos, todos dependem de vocês e das pessoas da sua equipe para sobreviver ... é o que interessa !