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Como a pandemia está afetando os leitos do sistema de saúde?

Article-Como a pandemia está afetando os leitos do sistema de saúde?

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O número de pessoas internadas com o novo coronavírus em UTIs é um dos principais fatores que os governos levam em consideração quando há uma proposta de relaxamento do isolamento social. Segundo Geraldo Reple Sobrinho, presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde, a taxa de ocupação nas UTIs está chegando a mais de 80% e isso passa a ser um fator de risco, já que o índice, por segurança deve ficar sempre abaixo desse percentual.

Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas, já estão com seus sistemas públicos de saúde saturados. Alguns até observam fila de espera para os seus leitos. ​No final de abril, a rede estadual do Rio de Janeiro declarou que não havia mais leitos disponíveis e mais de 200 pessoas já aguardavam atendimento. A ocupação média de leitos reservados para a COVID-19 está perto de 80% em São Paulo. O Hospital das Clínicas, maior hospital público da America Latina e referência no combate público ao coronavirus, está no limite máximo. Foram preparados 200 leitos adicionais de UTI no início de março, todos ocupados no momento, e agora o HC inicia uma abertura gradativamente para mais 100 leitos de terapia intensiva. Em leitos de enfermaria, 900 estão dedicados exclusivamente à doença.

Outra mudança no gerenciamento das UTIs se dá pelo tempo de permanência médio visto com o coronavírus, 15 dias. Segundo dados do Observatório da Anahp de 2019, nos hospitais pertencentes à associação, cada paciente passa em média 7 dias internado. Se considerarmos o tempo de giro de um paciente com COVID-19, reduzimos “a metade” os leitos disponíveis e colocamos um desafio para as equipes que gerenciam essa demanda.

Diante da epidemia, vemos ainda mais o impacto do abismo social no Brasil. Se por um lado, um quarto da população brasileira possui plano de saúde, isto é, acesso à saúde suplementar com hospitais privados, os outros três quartos da população disputam menos da metade dos leitos disponíveis no Brasil. A construção de hospitais de campanha, de fato, trouxe um respiro para a superlotação dos hospitais públicos, fornecendo leitos extras emergenciais no país.

Nas primeiras semanas do surtos notou-se que, em sua maioria, os infectados viviam em bairros nobres, estiveram no exterior ou tiveram contato próximo com alguém que esteve, e que procuraram assistência no sistema privado. Segundo a ANAHP, verificou-se que o pico de ocupação em seus hospitais associados, ocorreu em meados de março. A partir de então, a saúde suplementar, que possuía a maioria dos casos em sua rede, observou uma inversão, e a rede pública assumiu a maior parte das assistências.

Com consequência da inversão da assistência na pandemia e a recomendação para permanecer em casa, os hospitais privados viram o seu faturamento diminuir. Estima-se uma queda de 90% no movimento pelo cancelamento de exames e cirurgias eletivas, componentes importantes para a sustentabilidade financeira de uma instituição de saúde privada. Sabendo que o custo fixo do hospital corresponde de 73% a 85% do custo total, e está inalterado nesse momento, percebe-se o significado econômico com a redução do faturamento. Já se observam demissões de profissionais de saúde da rede suplementar, além da redução da jornada e salários.

De um lado tem-se a rede pública superlotada com necessidade de leitos, do outro, hospitais privados ociosos, precisando de novas formas de receita. O Ministério da Saúde estuda possibilidades para atender a população do SUS, entre elas, a contratação de UTIs privadas. Estima-se que 50% das UTIs privadas possam ser alocadas para o combate ao COVID-19, caso a situação escale. Em São Paulo, a ampliação dos leitos de alta complexidade do HC só está sendo possível por parcerias e contratações junto à hospitais particulares. No Rio, o governo do estado anunciou 1,8 mil novos leitos entre UTI e enfermaria, em hospitais de campanha, grande parte financiado e gerido pela iniciativa privada. Como exemplo, a Rede D'Or e parceiros viabilizaram R$ 200 milhões em leitos nas regiões onde atuam (Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Pernambuco, Maranhão e Bahia). A unidade recém-inaugurada do Mater Dei em Betim-Contagem, ofereceu ao estado 180 leitos de UTI e 62 de enfermaria com toda estrutura física necessária para pacientes com Covid-19. No Sul do país, hospiatis como Moinhos de Vento (RS) e Ministro Costa Cavalcanti (PR) disponibilizaram suas estruturas para a testagem de pacientes da rede pública. Muitas instituições privadas também estão oferecendo a estrutura utilizada na forma de PPP, para doação pós pandemia.

No mês passado, o secretário de Saúde José Henrique Germann disse em coletiva, “Temos feito uma aproximação com a rede privada de serviços de saúde e não existe nenhuma dificuldade até agora no sentido de colaborar conosco”, e explicou “Já tivemos inúmeros programas realizados com a rede privada e agora não vai ser diferente. Provavelmente vamos ter colaboração tanto na capital quanto no interior no combate à Covid-19”. Espera-se que, cada vez mais, empresários e governantes cheguem a um acordo para maximizar o aproveitamento do sistema de saúde brasileiro antes que seja preciso implementar um protocolo técnico para a escolha das pessoas que terão prioridade no tratamento, como ocorreu na Itália.