O Brasil abriga cerca de 600 healthtechs ativas, movimentando aproximadamente R$ 800 milhões por ano. Apesar do crescimento expressivo, o setor ainda enfrenta obstáculos para consolidar um ecossistema robusto de inovação em saúde. A análise é de Bruno Borghi, presidente da Associação Brasileira de Startups de Saúde (ABSS), e Lilian Aray, diretora médica da entidade.
“Pelo tamanho do país, o Brasil é quase uma Europa inteira. Cada estado tem sua própria complexidade”, afirma Borghi, ao destacar as dificuldades de escalar soluções em um território continental. Segundo ele, embora promissor, o mercado ainda é incipiente e encontra resistência à adoção de novas tecnologias.
Ecossistema de conexões
A ABSS tem se posicionado como um elo entre startups e o mercado de saúde. “O maior significado da ABSS é a conexão”, resume Lilian Aray. A associação atua como facilitadora, aproximando empresas emergentes de potenciais clientes e parceiros estratégicos.
Esse modelo tem gerado resultados concretos. “Quanto mais startups temos no ecossistema, mais empresas interessadas em tecnologia nos procuram. E isso atrai ainda mais startups”, explica a diretora.
Cultura colaborativa
Um dos diferenciais promovidos pela ABSS é o estímulo à colaboração entre os associados. “Não vejo 114 concorrentes, vejo 114 parceiros que colaboram entre si”, enfatiza Borghi. Essa mentalidade tem permitido o compartilhamento de experiências e o desenvolvimento de soluções complementares.
Com o objetivo de aproximar as startups do sistema público de saúde, a associação instalou sua sede no Hub InovaHC, dentro do Hospital das Clínicas. A iniciativa tem facilitado o entendimento das necessidades reais do setor público.
Barreiras regulatórias
Na avaliação de Lilian Aray, o ambiente regulatório precisa evoluir sem comprometer a segurança. “Na saúde, não existe margem para erro. A regulamentação é fundamental, mas não podemos perder tempo com burocracia excessiva”, defende.
Apesar dos entraves, a presença das healthtechs no sistema público tem avançado. “Atualmente, entre 30% e 40% dos nossos associados atendem o mercado público com alta eficiência”, complementa Borghi.
Expertise clínica como diferencial
Para a diretora médica, a vivência clínica é um componente essencial nas equipes de healthtechs. “Não dá para confiar apenas em grupos técnicos. É preciso ter quem conheça a realidade do atendimento na prática”.
Ela reconhece, porém, a escassez de profissionais de saúde com domínio em negócios e tecnologia — lacuna que a ABSS busca mitigar por meio de capacitações e conexões.
Perspectivas futuras
Borghi vê a inteligência artificial como parte indissociável do presente: “Quase todos os nossos associados já utilizam IA embarcada. Não é mais o futuro, é o agora”.
Já Lilian propõe uma nova visão sobre o papel do paciente. “Não basta colocá-lo no centro da jornada esperando que as soluções cheguem até ele. O paciente precisa ser protagonista dessa transformação”.
Para os empreendedores que desejam ingressar no setor, os líderes da ABSS deixam um recado claro: antes da monetização, deve vir o propósito. “Inovação só faz sentido se tiver propósito”, afirma Lilian. Borghi reforça: “A função de uma healthtech é ajudar alguém. A pergunta-chave é: qual dor essa solução quer aliviar?”
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