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Atenção domiciliar: perspectivas e desafios para o envelhecimento populacional

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De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) teremos 2 bilhões de idosos no mundo até 2050. Isso representará um quinto da população mundial, e o setor precisa se preparar. Logo as pessoas vão começar a perceber que as próprias casas serão as enfermarias e “hospitais” do futuro, para cuidados não agudos. É um cenário que promoverá a saúde e a independência, em geral. E isso mudará a perspectiva dos modelos de entrega de saúde, seus desafios e oportunidades.

A experiência do envelhecimento está mudando e três itens estão nitidamente em foco: o impacto global de uma população mais idosa, as mudanças de demanda em seu cuidado e o papel da tecnologia na viabilização de uma vida saudável e digna.

Oitenta e nove por cento dos idosos hoje querem permanecer vivendo e sendo cuidado em suas casas, o maior tempo possível. Esse fato pode ser somado ao crescimento massivo, e não sustentável, das contas hospitalares, e ao frequente caso de cuidado inapropriado, com o paciente vulnerável em um local que o expõe a muitos riscos. Assim, os cuidados domiciliares se tornam uma alternativa cada vez mais atraente.

Considerando que hoje, 70% da população acima de 65 anos precisará de algum tipo de assistência a longo prazo para os seus próximos anos de vida, é evidente que o planejamento do modelo de cuidado prolongado, em termos financeiros, gestão e tecnologia, são mais urgentes do que nunca.

Um ponto importante diz respeito ainda à informalidade do cuidado e a disponibilidade de força de trabalho adequada. Em 2018, a rotatividade na indústria de atenção domiciliar alcançou o seu pico, em 82%, conforme dados americanos. Não há dados comparativos para o mercado brasileiro, um fator relevante é a terceirização, cerca de 80%, o que dificulta o levantamento. Normalmente os cuidadores são técnicos de enfermagem, e trabalham sem a gestão da equipe de enfermagem graduada.

"Primeiro vemos o alto risco para as famílias, além de gerar problemas trabalhistas trazem insegurança para todos os envolvidos. A profissão de Cuidador deveria ter sido reconhecida, mas a PLC 11/16 foi vetada pelo Presidente da República o que implica mais serviços informais oferecidos no mercado. A aprovação de mão de obra de atividades-fim pelo STF faz com que o segmento tenha um ganho importante utilizando outros modelos de contratação além de Cooperativas. Acredito que diminui a informalidade e que os novos modelos de contratação possam contribuir para o contínuo crescimento no mercado brasileiro.", diz Claudia Pedrosa, Presidente do Encontro Nacional de Serviços de Atenção Domiciliar (ENCONSAD)

A tecnologia desempenha uma função fundamental nesse modelo. Parte com ferramentas de análises e monitoramento e parte integrando os stakeholders que devem participar da coordenação do cuidado do paciente, gerenciando efetivamente os riscos e custos, para mantê-lo em um estado de bem-estar.

Como exemplo, pode-se citar o monitoramento remoto do paciente (RPM), no qual parâmetros previamente escolhidos são compartilhados com os profissionais de saúde, por meio de dispositivos conectados. Tecnologias como monitoramento remoto e telessaúde tornam mais fácil para os profissionais médicos realizar exames de pacientes por videochamada, monitorar movimentos ou quedas por sensores de movimento e auxiliar pessoas com condições como demência por meio de lembretes e avisos - tudo isso pode ajudar os idosos a levarem as suas vidas com um maior grau de independência.

Os dados de saúde, com a tecnologia, se tornam remotamente acionáveis ​​em tempo real para que os médicos ou cuidadores possam realizar intervenções mais cedo. Os insights desses dados também podem ser compartilhados nas redes de saúde, de forma global, permitindo uma melhor definição de políticas de saúde pública e alocação de recursos.

A ideia não é adaptar o envelhecimento da população para as tecnologias, mas sim que as tecnologias sejam projetadas para funcionar com o perfil do usuário. Positivamente, a tecnologia não é mais uma inovação imposta a uma população em envelhecimento. Os chamados "surfistas prateados", estão ansiosos para os novos avanços nos dispositivos. No Reino Unido, um quarto das pessoas com 75 anos ou mais usa tablets e quatro em cada dez usam mídias sociais regularmente, de acordo com o órgão regulador de telecomunicações do país.

Segundo Claudia, a ausência da regulamentação pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) implica em negativas para as solicitações de internação na modalidade de Atenção Domiciliar fazendo com que as Operadoras de Saúde atendam este modelo por medidas judiciais, fator negativo para o segmento. Sem regras bem definidas para as Operadoras de Saúde abre-se um espaço muito grande sobre quais são as reais necessidades do paciente, serviços, insumos e equipamentos que poderão ser oferecidos pelas Empresas de Home Care. Sem definições e regras o que vemos é um cenário sem muitas garantias para o acesso a esta modalidade aplicada no mercado brasileiro.

O texto tem foco no cuidado domiciliar de idosos, mas Claudia descreve um escopo muito mais amplo. "A Atenção Domiciliar no Brasil contempla a Internação Domiciliar e Assistência Domiciliar, onde a internação é prevista para pacientes clinicamente estáveis e que exigem cuidados especiais e mais intensos que os ambulatoriais englobando estruturas de equipamentos, insumos, equipe multiprofissional e técnicos de enfermagem 24h. A Assistência Domiciliar engloba serviços similares aos ambulatoriais com serviços pontuais como gerenciamento de antibióticos, fisioterapia, fonoaudiologia entre outros. Aqui no Brasil ainda não contempla os serviços na faixa de Assistência Social com Cuidadores de pessoas idosas e/ou enfermas, situação que particularmente acredito que deveria ser revista para fecharmos a estratégia de racionalização de custos com internações hospitalares de baixa complexidade e pacientes crônicos."

O Congresso de Atenção Domiciliar da Hospitalar 2020 ocorrerá no segundo semestre deste ano