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O Brasil precisa definir melhor papel de médicos generalistas e especialistas focais

Article-O Brasil precisa definir melhor papel de médicos generalistas e especialistas focais

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O Brasil, desejando maior eficiência na saúde, menor desperdício de recursos e controle de custos, precisa urgentemente definir melhor o papel dos diferentes tipos de médicos.

Realizamos atividade recente como tempestade de ideias entre participantes estratégicos, na busca por soluções para fortalecimento da medicina hospitalista no Brasil. Um dos convidados foi o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna - tentativa de avaliar criticamente o cenário brasileiro com contribuições da experiência internacional.

Entretanto, percebo a discussão como muito maior do que a de uma pretensa especialidade médica ou área de atuação. Em pauta está possível transformação de nosso sistema de saúde para outro bastante mais custo-efetivo, com questões que envolvem todas as especialidades clínicas.

Todos no debate que sucedeu palestra do convidado especial português concordaram que a formação e as prerrogativas profissionais de clínicos/internistas/hospitalistas no Brasil deve ser repensada, e, então (pois não há como dissociar), a dos especialistas clínicos focais (ou subespecialistas), buscando melhor definição de papéis e funções. Sistemas de saúde com melhor desempenho costumam possuir algum tipo de organização e hierarquização nos moldes conversados, seja ela através de mecanismos regulatórios diretos, como na experiência portuguesa, seja através de modelagem indireta em direção ao mesmo cenário, como no caso dos EUA, onde, é necessário fazer Medicina Interna antes de Cardiologia – e cardiologistas podem manter dupla certificação -, mas, na prática dos dias atuais, a maioria define escopo de atuação.

Assista abaixo nosso debate na íntegra:

Descobri que na Irlanda há o mesmo movimento: Leia aqui (em inglês).

Imediatamente depois da atividade, em conversa com lideranças da Clínica Médica brasileira, mais de uma sugeriu que a ideia correspondia a um viés meu em favor do movimento hospitalista. Engano!

Apenas defendo que nossa Clínica Médica ou Medicina Interna busque um foco primordial, e organize-se em torno deste projeto, devendo entregar resultados não apenas aos pacientes - algo que já não consegue fazer direito.

Querem que este foco seja Atenção Primária, concorrendo com a Medicina de Família? Sem problemas! Mas encontrarão mais concorrência e obstáculos. Bem ou mal, à título de exemplo, a maioria das residências médicas de Clínica Médica do país já possue um foco predominantemente hospitalar.

Outro argumento empregado foi: "Não precisamos mudar nada! É público e notório que generalistas solucionam de 80-90% das queixas e problemas de saúde, sem precisar encaminhar para subespecialistas, escancarando uma possibilidade de assistência muita mais custo-efetiva sem, reforço, a necessidade de mudanças de qualquer natureza".

Isso provavelmente é uma falácia em nosso meio, gente! Sejamos mais humildes! A validade externa de dados que amparam a afirmação, a validade no Brasil, é muito provavelmente inexistente para a Clínica Médica do jeito como funcionamos. Está realmente o especialista em Clínica Médica apto a, nos moldes da formação brasileira atual, gerenciar pacientes crônicos complexos ambulatoriais? A gerenciar, ou pelo menos ser agente ativo e útil, projetos com impacto em motivação e comportamento para lidar com a complicada questão da aderência? A colaborar em melhoria da qualidade e segurança do paciente ambulatorial?

Não estão os [mais caros de todos] especialistas focais brasileiros perdendo tempo – e, portanto, nosso dinheiro – em condições que outros poderiam atuar?

A mesma liderança da citação mais acima concluiu: “é o sistema que precisa nos aceitar, estamos prontos para ajudar”. Escancarando que, além de tantas outras barreiras, somos nós médicos que resistimos a mudanças, no caso específico em nome de algo muito evidente: querer fazer o que a vida médica ensinou. Não sei? Encaminho ou faço de conta que não é comigo! E segue o barco como está: usando velas furadas, enquanto concorre na H1 Unlimited, aquele campeonato de corrida de barcos comparável à Fórmula 1 do automobilismo.

Precisamos nos diferenciar, sem perder a propriedade generalista, criando verdadeiro trabalho em rede com outras especialidades generalistas, e com os especialistas focais.

TAG: Colunas