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O Hospital das Clínicas e o atendimento a convênios

Article-O Hospital das Clínicas e o atendimento a convênios

Hospital das Clínicas e Convenios - Gestão em Saúde
Um dos símbolos da Saúde Pública do Brasil o Hospital das Clínicas da FMUSP, a fim de garantir a sustentabilidade do atendimento à população, luta para ampliar o atendimento de convênios de 3% para 12%.

O projeto, defendido pelo novo Superintendente do Hospital das Clínicas da FMUSP, Dr.Marcos Fumio Koyama traz à tona a discussão das medidas necessárias para tornar sustentável o Sistema Único de Saúde, que até hoje não teve votada a EC-29, que garantiria mais recursos para a saúde pública brasileira.

HC vai ampliar atendimento a convênios

Símbolo mais vistoso da saúde universal, pública e gratuita no Brasil, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP vai destinar 12% de seus atendimentos aos planos de saúde.

Com isso, o HC quadruplicará os serviços prestados a convênios (hoje, apenas 3% dos atendimentos são vendidos aos planos).

Boa parte dos médicos ouvidos pela Folha acredita que a ampliação do atendimento aos portadores de planos de saúde gerará diferenças de tratamento em relação aos pacientes do SUS.

A chamada "dupla porta" de acesso ao hospital acaba privilegiando os pacientes conveniados. Eles podem marcar consultas e realizar procedimentos eletivos com mais agilidade.

O projeto é defendido pelo superintendente do HC, o médico Marcos Fumio Koyama, 37. Mais jovem ocupante do cargo que já pertenceu a baluartes da medicina do país, como Enéas de Carvalho Aguiar e Vicente Amato Neto, Fumio acredita que a ampliação do atendimento aos planos de saúde possibilitará atender mais pacientes SUS "e melhor".

O doutor Fumio é um tipo peculiar de médico. A residência, ele fez em administração hospitalar. O mestrado, na Fundação Getúlio Vargas. Calouro ainda na medicina da USP, ficava mais impressionado com o excesso de exames para diagnosticar um paciente, do que com a própria enfermidade.

Formado, foi para a AIG Seguros. Especializou-se em ampliar a lucratividade do banco no negócio da saúde. Voltou para a Faculdade de Medicina da USP em 2007.

"Não acho que podemos nos contentar em ser, na rede pública, um arremedo do que é feito de melhor na iniciativa privada", diz.

ARITMÉTICA

Fumio diz que o dinheiro dos planos será usado para financiar melhorias no atendimento gratuito do HC, pago pelo SUS.

"Hoje, os planos pagam 3% dos atendimentos totais do HC. Mas o que eles pagam (R$ 100 milhões/ano) já responde por 10,6% das nossas receitas (R$ 940 milhões)."

Para o médico, cada "paciente com plano de saúde" gera recursos suficientes para o atendimento de três ou quatro "pacientes do SUS".

Segundo as contas, pagando por 12% dos procedimentos do HC, os planos de saúde injetariam recursos que poderiam alcançar até 40% do orçamento atual do hospital.

O paradigma desse modelo é o Instituto do Coração do HC, em que 18% dos leitos já são destinados a pacientes particulares, gerando 50% da receita (os 50% restantes são do tesouro público).

"Costuma-se dizer que o paciente plano de saúde tirará leitos dos pacientes SUS. É o contrário. O paciente do plano de saúde permitirá ampliar e melhorar o atendimento ao paciente do SUS."

Pesquisa feita neste ano no HC mostra que 11% dos atendimentos pelo SUS (gratuitos) foram prestados a pacientes que têm planos de saúde.

"Veja, 11% de pacientes de planos de saúde estão usando recursos do SUS -quando poderiam ser atendidos pelos planos. O que existe hoje é um Robin Hood ao contrário. Tira-se dos pobres para dar aos ricos. Por que não resolver isso em uma relação contratual normal?", indaga.

A ampliação do atendimento aos planos será gradual. O objetivo, diz Fumio, é concluir o projeto até o fim de seu mandato (quatro anos).

Fonte: Folha de São Paulo, 05/05/2011