Cuidado paliativo é uma abordagem que melhora a qualidade de vida de pacientes e familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, por meio do alívio do sofrimento, tratamento da dor e de outros sintomas de natureza física, psicossocial e espiritual. Ele pode ser realizado durante todo o progresso do tratamento da doença ativa, não apenas no final da vida.
Por aí já se vê o quanto o campo de trabalho para o paliativista é vasto. Estima-se que no Brasil, segundo dados da última edição do Atlas dos Cuidados Paliativos no Brasil (2022), organizado pela Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), mais de 600 mil pessoas, entre adultos e crianças, demandem assistência em cuidados paliativos todos os anos.
As portas estão abertas para médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, assistentes sociais, farmacêuticos e psicólogos, que contribuem com seus conhecimentos para a qualidade do atendimento. Eles formam equipes com perfil multiprofissional, fazendo dessa especialidade uma excelente opção de carreira na área de saúde.
Além disso, este ano é considerado um marco histórico para a especialidade, com a criação da Política Nacional de Cuidados Paliativos (Portaria GM/MS nº 3.681, de 7 de maio de 2024), que inova ao contemplar importantes ações, dentre elas a criação de equipes matriciais e assistenciais em todo o território nacional, aumentando o número de serviços de cerca de 300 para 1.200, a capacitação de profissionais de saúde em cuidados paliativos, principalmente na atenção primária, e a melhoria do acesso a medicamentos.
As oportunidades, entretanto, são proporcionais aos desafios da formação e ao nível de exigência na área. Antes de tudo, o profissional deve buscar aperfeiçoamento adequado, ter uma formação científica sólida, em centros de excelência que ainda não são muitos no Brasil.
Muitas habilidades são exigidas para o tratamento de sintomas físicos. E nessa parte, em geral, o médico é muito bem treinado. Contudo, é preciso mais que isso. No cuidado paliativo, a abordagem psicossocial, existencial e espiritual é extremamente importante. E é aí que entra a equipe multiprofissional. A junção das áreas de conhecimento é o que faz com que o cuidado paliativo seja mais bem exercido. Todos esses saberes, dentre outros, é que realmente fazem a diferença.
No que se refere à qualificação, o ritmo de criação de cursos de graduação e pós-graduação em cuidados paliativos, infelizmente, não é adequado no Brasil, mesmo com a determinação de que a especialidade precisa ser ensinada nos cursos de graduação. Alguns cursos de medicina já têm a disciplina de cuidado paliativo. Na Universidade Federal do Maranhão, onde sou professor, ela é obrigatória há vários anos e dura um semestre inteiro, mas trata-se de uma realidade muito diferente do restante do Brasil.
Uma oportunidade de fazer networking com os maiores especialistas em Cuidados Paliativos e ter acesso ao conhecimento na área é o X Congresso Brasileiro de Cuidados Paliativos, principal encontro nacional abordando o tema, que a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) vai realizar entre os dias 13 e 16 de novembro de 2024, em Fortaleza (CE).
Um congresso como esse tem o potencial de oferecer networking de maneira intensa, pois reúne profissionais de diversas áreas e saberes, além de palestrantes nacionais e internacionais, que reconhecidamente têm experiência e peso científico na área de cuidados paliativos.
Para quem participa, é uma chance de, no futuro, consultar alguém, dividir casos, discutir, fazer intercâmbios e inclusive estágios no Brasil e fora dele. Tudo isso reflete, mais tarde, na qualidade do atendimento àqueles que mais nos interessam: os pacientes!
*João Batista Santos Garcia é diretor científico da ANCP, professor Titular da Disciplina de Dor e Cuidados Paliativos da Universidade Federal do Maranhão e o primeiro brasileiro a ser “enlace da dor” entre a América Latina e a IASP (Internacional Association for the Study of Pain).