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O que o Corona nos ensina sobre conhecimento e responsabilidade

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Quão perigoso é o desconhecimento do risco de certas doenças? Quão perigosa é a falsa segurança simplesmente porque você, ou os seus entes, não aparentam estar em situação de vulnerabilidade? Durante o pânico da AIDS, as pessoas mantiveram sua ansiedade afastada, repetindo uma e outra vez que o único grupo realmente vulnerável era o de homens homossexuais. Ao fazer isso, eles ignoraram o fato de que a AIDS pode afetar todos e é transmitida não apenas por contato íntimo, mas também por meio de sangue e leite materno.

Uma população motivada e bem informada é geralmente muito mais poderosa e eficaz do que uma população ignorante e segmentadamente policiada. Especialistas dizem que intervenções simples, validadas pelo meio científico, como medidas de higienização, isolamento social e acesso à informações pertinentes, podem fazer uma enorme diferença na redução da propagação da doença e bem-estar das pessoas.

Nesse momento, é fundamental diminuirmos o risco de transmissão do novo coronavirus. Se não fizermos isso, haverá uma demanda crescente superior à infraestrutura atual de leitos hospitalares, e principalmente, ventiladores mecânicos e leitos de UTI. Exemplos bem-sucedidos são Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura, que utilizaram tecnologias de rastreamento somadas a testes extensivos, relatórios honestos e cooperação voluntária de um público bem informado para o isolamento.

Uma questão a ser levantada sobre mortalidade, testes e velocidade de propagação, passa pela população estar ciente de que os dados, apesar de bons termômetros, possuem vieses. Nem todos os países padronizam a forma de relatar os infectados, ou seja, países que adotaram o teste em massa, naturalmente terão mais doentes reportados. Inicialmente, o Brasil adotou a testagem somente para os casos mais graves nas emergências. Esse critério de medição oculta os infectados com sintomas leves ou que eventualmente nem se dirigem aos sistemas de saúde. Matematicamente, quanto maior o número de infectados, para o número real de mortes, menor a taxa de mortalidade. O que pode mascarar ou deturpar algumas curvas e estudos, promovendo uma visão limitada. O ponto aqui é chamar a atenção para a seriedade do assunto e educar a população para que esta não esteja alienada em relação à pandemia.

O próprio ministério admite que os dados são menores do que o retrato real. “De cada 100 pacientes com coronavírus, conseguimos identificar 14. Ou seja, 86% das pessoas que têm não são identificadas”, afirma João Gabbardo dos Reis, secretário-executivo no Ministério da Saúde. Ele pondera, entretanto, que essa é a média vista em outros países atingidos também. Por essa conta, o país teria hoje, não os 12.377 casos divulgados em 07/04, mas algo em torno de 88.407 casos.

Estão sendo colocadas em prática medidas drásticas que nunca seriam aprovadas por governos, empresários e instituições de ensino, caso não estivéssemos nessa situação. O que acontece quando não precisamos estar presencialmente nos serviços, sejam eles de saúde, de trabalho ou educacionais, para atingirmos o nosso objetivo?

É claro que oportunidades de testar modelos como a que estamos tendo agora nos oferecem chances de criar sistemas que funcionam para o bem e para o mal. Na China se utilizou do sistema de vigilância e GPS para identificar as pessoas que estiveram em contato próximo aos doentes, avisá-los e monitorá-los. Mas imaginem se a mesma tecnologia fosse usada cada vez que um paciente crônico comesse em um fast food ou não fizesse os seus exercícios diários? É fundamental usarmos a tecnologia disponível, seja em tempos de crise ou não. Mas é importante frisar: não é sobre vigilância e medo, é sobre conscientização e informação. Os dados são de propriedade individual, bem como a sua escolha de compartilhamento.

Por falar em pacientes crônicos, outra lição que aprendemos com o corona é a dificuldade de promover a adesão de medidas básicas, como lavar as mãos. Temos uma variedade de programas, apps e IoTs que prometem a solução para pacientes com doenças crônicas. Mas como mantê-los engajados em seus tratamentos? Especialmente quando medicados, quando a sua condição se torna quase assintomática?

Cada vez mais os pacientes terão opções de escolha e responsabilidade sobre gerenciar o seu próprio cuidado. O que podemos tirar dessa pandemia é a grande capacidade que temos de testar modelos diferentes e a necessidade que eventualmente teremos de fazer isso funcionar. Uma jornada é composta de vários pontos de contato, e obter dados e utilizar os recursos certos em cada um desses estágios, ajudam a antecipar as demandas dos pacientes e criar estratégias para que o cuidado seja, de fato, coordenado. Pela saúde do paciente e do sistema.

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