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Omada: A digitalização do cuidado das doenças crônicas

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Atualmente, 100 milhões de americanos vivem com diabetes ou pré diabetes, 90 milhões com hipertensão e/ou níveis altos de colesterol. E 40% da população, nos Estados Unidos, está acima do peso. “Estamos vivendo uma crise de doenças crônicas relacionadas à obesidade. O custo médico está aumentando e não estamos alcançando a meta utilizando abordagens tradicionais”, disse Michael Turken, Diretor Médico da Omada Health.

Ele ainda cita outra questão: a epidemia de não-aderência medicamentosa. “Cerca de 60% das pessoas com doenças crônicas não tem tomado os seus medicamentos como prescritos. Se olharmos especificamente para a hipertensão, somente 20% dos usuários tomam a medicação com frequência suficiente para enxergar os resultados descritos nos testes clínicos”

Infelizmente, pacientes passam cada vez menos tempo em suas consultas, fruto do modelo de fee for service que incentiva a rotatividade, da falta de interesse do próprio paciente com a sua saúde e da ausência de ligação entre o médico e o paciente. Nos EUA este tempo é de aproximadamente 15 min. Imaginem explicar, para alguém que está começando a tomar alguma medicação, todos os efeitos colaterais, porque esta foi a escolha adequada, quais foram as possíveis razões que o levaram a essa condição ou mesmo discutir o valor da aderência a esse tratamento como recomendado?

Michael diz que não o surpreende que um terço das pessoas que têm remédios prescritos, nem cheguem a farmácia para pegá-los. Sempre quando há retirada de medicamentos nas farmácias americanas, os farmacêuticos questionam se a pessoa deseja saber mais sobre a droga que ela está levando: poucos aceitam a explicação.

Existem diversas barreiras para os pacientes deixarem de tomar seus medicamentos de forma correta. A primeira é a complexidade de medicamentos: quanto mais medicamentos você tem em sua rotina, menor a probabilidade de tomá-los como foi inicialmente descrito pelo médico. Depois há algumas crenças de saúde, como medo da composição química ou o julgamento de que os medicamentos não são necessário. E ainda há o custo associado ao tratamento, como nos co-pagamentos nas farmácias.

Toda a experiência de saúde precisa ser modificada. Michael, que é médico de formação, conta que antes de trabalhar na Omada, trabalhou na Forward, uma clínica americana conhecida por suas iniciativas tecnológicas. “Do lado do médico, se você comparar o prontuário eletrônico líder nos EUA, o Epic, e o layout de um sistema operacional do Windows 95, mais de 20 anos atrás, você perceberá que eles são muito parecidos! Logo no início da minha carreira eu já decidi que tomaria uma abordagem mais tecnológica. Nessa minha experiência na Forward, eu tinha quanto tempo eu precisasse para conversar com os meus pacientes, explicar tudo o que eu queria. Todos os meus pacientes crônicos saiam do meu consultório com um medidor de conexão bluetooth, seja para diabetes, hipertensão… Nós desenhamos um sistema de prontuário eletrônico que pegava esses dados de forma automática”, conta.

O insight para a importância do business da Omada, veio para Michael através de uma história de um de seus pacientes. Harry estava com seus níveis de pressão, açúcares no sangue e colesterol alterados, uma situação muito complicada. Após uma consulta com um médico que o prescreveu 6 tipos de medicamentos diferentes para controlar a sua situação e alertou que se não o fizesse, ele morreria, Harry se assustou e nunca foi atrás dos remédios. Ele então conheceu Michael que, com tempo, conseguiu explicar o que eram cada uma daquelas doenças e a importância de se tomar os medicamentos. Os dois se encontraram 3 vezes por semana durante 6 meses. Harry, aberto à prática médica suportada pela tecnologia recebeu IOTs para o auxiliar em sua missão. Depois de 3 meses os níveis de Harry estavam ótimos e todos no consultório celebraram a sua conquista. “Nesse momento entendemos que o conhecimento do paciente sobre a sua condição realmente faz a diferença”, conta Michael.

Alguns meses se passaram e Harry voltou ao consultório com os níveis alterados novamente. A equipe que o acompanhava ficou devastada. “Harry me explicou que, nesse meio tempo, ele tinha visto esse ‘médico’ na televisão que dizia que uma dieta baseada em plantas era uma alternativa, e que se ele trocasse sua alimentação para totalmente vegetariana, sua diabetes iria desaparecer, e consequentemente ele não precisaria mais dos seus medicamentos. Então ele parou com todos os seus remédios.”, e continuou, “Eu me perguntei: Como isso foi acontecer? Foi um indício muito claro, para mim, que o cuidado primário como fazemos hoje é um fracasso. E, além disso, a forma ‘tecnológica’ que eu achei que era excelente, era um fracasso. A verdade é que a nossa capacidade de estar em contato com o paciente é realmente muito limitada”, revelou.

Ele percebeu que toda a tecnologia do mundo não iria funcionar se não fosse possível mudar, de fato, o comportamento do paciente: dieta, exercícios, aderência medicamentosa ou frequência de visitas, por exemplo. O Instituto Nacional de Saúde (NIH) americano lançou há algumas décadas o Programa de Prevenção a Diabetes (DPP). Em resumo, este programa de mudança comportamental, um marco para a área, analisou os efeitos do aconselhamento intenso para mudança de comportamento, comparando-o com placebos e drogas como a metformina. A ideia era: o mundo está recomendando mudanças de estilo de vida, mas isso realmente faz sentido?

O estudo convocou um time de cientistas comportamentais, que descobriram melhor performance na mudança comportamental do que no placebo e na metformina, tanto para perda de peso quanto para melhora da condição diabética. É claro, também foram otimizados biomarcadores associados com a obesidade, como índice de colesterol. Dado o sucesso desse programa, muitos outros foram criados utilizando a ciência comportamental combinada com a medicina.

Michael percebeu, no entanto que somente uma parcela da população tinha acesso a isso. “Estamos falhando novamente! Sabemos do benefício e não estamos conseguindo endereçar à população, por razões que vão desde a infraestrutura do sistema de saúde até a distribuição da população, uma vez que o aconselhamento oferecido era presencial.”

A Omada revolucionou o setor quando digitalizou, cerca de 5 anos atrás, o programa de prevenção de diabetes. “Havia uma urgência enorme para essas pessoas conseguirem esses aconselhamentos, e aumentamos o acesso virtualizando-o.”

De modo geral, a Omada funciona como um programa de mudança de comportamento para promoção de saúde, que combina ciência comportamental e ciência de dados. Eles se definem como um provendor em seu modelo de negócios, ou seja, eles são um provedor no auxílio a doenças crônicas e um vendor (fornecedor) de economia para as empresas e sistema, através da tecnologia.

O business é apoiado em quatro pilares: monitoramento, conteúdo, sessões de coach e peer group – como grupos de WhatsApp motivacional. O monitoramento realizado é sobre alimentação, sono, estresse e exercícios, além dos parâmetros individuais focados na condição de saúde do usuário. Atualmente é um programa de até três anos focado na perda de peso para auxílio em diabetes 2 e doenças cardíacas. Com a melhora do usuário, ele vai evoluindo e trocando suas metas e grupos de suporte.

Logo que são aprovados para a participação no programa, os usuários recebem uma balança que já é automaticamente conectada à rede e a sua conta pessoal. Os quatro primeiros meses são bem focados na explicação dos conceitos de estilo de vida saudável e em fazer escolhas melhores. É o tempo para criar novos hábitos e começar a solidificá-los. Após esse período, espera-se que os usuários tenham mais independência, ainda mantendo a nova rotina e o contato com o coach.

Em uma entrevista, Sean Duffy, co-fundador e CEO da Omada Health, disse que, pela primeira vez na história, as doenças crônicas preveníveis mataram mais pessoas do que doenças infecciosas. E ainda, se olharmos para as dez doenças mais custosas para o sistema de saúde, quatro delas estão relacionadas com a obesidade.

Existem outras aplicações no mercado similares, como lembretes de medicação, mas a questão da aderência é muito mais do que somente esquecer de tomar a medicação. “Acreditamos que o coach digital é parte fundamental da solução”, disse o CMO. O coach entra em contato adicional com o usuário caso ele esteja fazendo upload de dados muito discrepantes, preocupantes ou até mesmo a falta deles.

Para entender porque alguém não está tomando a sua medicação, é preciso engajar em um relacionamento com ela e ter algumas conversas difíceis sobre crenças de saúde, tentando entender o quanto eles compreendem sobre a sua condição, suas preocupações...

A Omada possui um time grande de cientistas de dados que focam em ferramentas que facilitem o trabalho dos coaches para verificação de tendências ou a própria evolução, por exemplo. Michael diz que através do grande número de dados, eles conseguem realizar predições importantes: quando as pessoas começam a se desengajar, por quais motivo - e montam estratégias para fazer com que as pessoas se mantenham no programa. “Estamos constantemente estudando o comportamento dos nossos usuários. Qual é a melhor forma de contato? Quando? Com qual frequência? Tanto para reforçar um comportamento bom, quanto para alguém que precise de um relacionamento maior. Temos que ser inteligentes e eficientes, de forma que gastemos a quantidade certa de tempo com cada pessoa. Algumas demandam mais, outras menos.”, ele disse.

E cita o seguinte caso, se a Omada sabe que o usuário tem férias nos próximos dias, período geralmente sensível para sustentar hábitos, desde medicamento até dietas, um coach entra em ação e pergunta: Qual é o seu plano para essa viagem? Ou, se o usuário for diabético: Você está levando um estoque suficiente de insulina? "É uma mentalidade totalmente centrada no usuário", diz Michael.

Em 2014, eles passaram do modelo de fee for service para pay for performance, cobrando baseado em quanto peso os usuários perderam. “foi um movimento para provar que o que estávamos fazendo era sério e funcionava. Precisávamos tomar a responsabilidade, o risco... e é uma das coisas que eu sou mais orgulhoso da Omada, porque é bem difícil de fazer. Perseguimos os nossos resultados todos os dias, e se algo não está bom, logo corrigimos.”, conta o executivo. Ele confessa que alguns dos seus clientes ainda não estão acostumados com a ideia de pagamento por performance, e acham um pouco esquisito.

A empresa é o maior programa deste tipo nos EUA, reconhecida pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), com mais de 200k pacientes no programa. Muitos deles são funcionários de grandes empregadores que contratam a Omada como parte de seus benefícios corporativos.

Em relação à barreiras na adoção de terapias digitais no mercado, Michael diz que não se recorda de nenhum grande desafio em específico, até porque ele diz que seus consumidores já se familiarizaram com o conceito. “Talvez”, ele diz, “a diferenciação da concorrência perante aos compradores dos serviços possa ser considerado um desafio. Os programas podem parecer iguais a primeira vista, mas são diferentes. Muitos deles não tem comprovação científica, não especificam se são resultados observacionais, randomizados… e os clientes não tem proximidade com esses termos acadêmicos.”

No total a empresa já levantou cerca de $130 milhões, e planeja como próximos passos a expansão do programa para outras condições, como a hipertensão, além de melhorar o currículo dos coaches, com mais certificações obrigatórias, e desenvolver mais o software para suportar novas aplicações IOTs