Uma equipe de pesquisadores do Núcleo de Estudos Político-sociais em Saúde (Nupes) do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde (Daps) da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) repassou para o Ministério os principais resultados da avaliação feita sobre Aracaju, Brasília, Camaragibe, Campinas, Goiânia, Manaus, Palmas, São Gonçalo, Vitória e Vitória da Conquista, informa a assessoria de imprensa da Fiocruz.
"Analisamos quais aspectos facilitaram ou dificultaram a implementação do PSF nessas cidades, quais experiências foram bem sucedidas, quais não e por quê. Esses dados servirão de subsídios para as decisões do Ministério", explica a pesquisadora da Ensp, Sarah Escorel, coordenadora-geral da pesquisa, que custou R$ 385 mil, financiados por uma doação do governo japonês. O estudo detalhou desde características demográficas, epidemiológicas e oferta e produção de serviços de saúde, até informações sobre o controle social, estratégias de implementação, condições de vida dos usuários, integração do PSF à rede de serviços de saúde e integralidade da atenção.
A forma de financiamento do PSF ainda é um dos maiores obstáculos e sua mudança é uma das principais recomendações da avaliação. "É um problema muito sério. O incentivo financeiro que o Ministério da Saúde fornece aos municípios para o PSF é relacionado à cobertura que a cidade alcança. Para ter o incentivo máximo, ele precisa chegar a 70% de população atendida", disse Sarah. Foram feitas mais de quatro mil entrevistas entre gestores, conselheiros, integrantes do PSF, auxiliares de enfermagem, agentes comunitários de saúde (ACS) e famílias.
Das cidades pesquisadas, Camaragibe, Campinas e Vitória da Conquista foram considerados locais onde o PSF foi bem implantado no maior número de aspectos. Apesar de o estudo nesta cidade não incluir a avaliação das equipes e das famílias (estudo parcial), Campinas é um exemplo de "boas práticas" no que se refere a dois aspectos principais: o processo de implementação em município com uma rede de atenção básica estruturada pré-existente e a estratégia de obtenção de apoio da população e dos profissionais numa situação em que existiam muitas resistências por experiências mal conduzidas anteriormente. Nessa cidade, a rede básica não foi desestruturada, mas foi integrada ao novo sistema. As equipes que já estavam nas unidades básicas (pediatras, ginecologistas, dermatologistas) passaram a dar apoio às novas equipes do PSF, coordenadas por médicos generalistas, na tarefa de fazer a triagem e o acompanhamento dos pacientes.
Em contrapartida, Goiânia, Manaus e São Gonçalo (nessa última, também foi feito um estudo parcial) podem ser consideradas cidades onde houve problemas de implantação em vários aspectos. Segundo a pesquisa, no caso de Goiânia a concepção do programa foi exclusivamente voltada para a educação em saúde, embora lhe dessem o nome de Promoção de Saúde. Em Manaus, foram identificados paralelismo e superposição das Unidades de Saúde da Família (UFS) com outras duas redes de unidades básicas. "São Gonçalo teve uma estratégia de implantação rápida e massiva (179 equipes de Saúde da Família - ESF), que desestruturou a rede básica anteriormente existente e, por motivos vários, não conseguiu ser implantada efetivamente, desorganizando o que existia sem pôr algo de novo no lugar", afirmou Sarah.
No geral, os números sobre o funcionamento e a avaliação das famílias sobre o PSF foram muito positivos. Segundo a avaliação da equipe da Fiocruz, a satisfação com o PSF das famílias pesquisadas foi superior a 70% em todos os municípios, exceto Goiânia (66%), atingindo seu máximo em Camaragibe (78%), com os entrevistados comentando a boa qualidade e a humanização do atendimento e as atividades realizadas pelos ACS como pontos positivos. Em todos os municípios as famílias consideraram, de maneira geral, que com a implantação do PSF melhoraram as condições de saúde do bairro, de sua família e o atendimento em caso de doença. Mais de 70% das famílias pesquisadas consideraram que, após o PSF, as condições de saúde do bairro melhoraram, exceto em Vitória e Goiânia, onde os percentuais foram mais baixos, porém acima de 60%.
Os percentuais de famílias que mencionaram problemas foram bastante reduzidos, chegando a 12,5% quanto ao atendimento por auxiliares de enfermagem em Vitória da Conquista e a 10% quanto ao atendimento médico em Brasília. Os principais problemas relatados pelas famílias foram a falta de qualidade no atendimento prestado, profissionais pouco atenciosos e horários de atendimento inadequados. O grau de insatisfação também foi baixo em geral, observando-se o maior percentual em Goiânia (18%) e Brasília (13%). O fator negativo mais assinalado foi o acesso ao atendimento. As famílias insatisfeitas sugeriram o aumento do número de profissionais, inclusão de especialistas nas ESF, ação mais eficaz por parte dos ACS, como aferir pressão, fazer curativos, humanização do atendimento e maior resolutividade dos problemas.
Em todos os municípios, a maioria das famílias atendidas no último mês pelo programa conhecia o profissional que as atendeu. Consideraram que o profissional fora atencioso, 97% ou mais das famílias atendidas. Em quase todos os municípios pesquisados, mais de 70% das famílias recebem atendimentos dos agentes comunitários) com freqüência mínima mensal. Em todos os municípios, mais de 96% informaram conhecer os ACS.