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Por que todo profissional de saúde deveria entender de gestão?

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Desde antes de entrar na faculdade de medicina, já achava importante entender sobre gestão e números na área da saúde.

Nunca achei viável ter uma atuação profissional de excelência como médico sem o respaldo desse tipo de conhecimento, mesmo com boas cabeças no centro dessas decisões. Mantenho essas opiniões até hoje.

A partir do momento que somos parte de uma instituição, seja pública ou privada, somos também responsáveis por uma pequena parte da gestão dela. Dessa forma, o conhecimento em gestão não serve apenas para comandar um serviço. O profissional de saúde que entende do assunto está apto a tomar decisões mais eficientes e menos nocivas, tanto para o paciente, como para a instituição em que atua.

Isso fica mais evidente quando converso com gente que está na área da saúde há um bom tempo. É comum ouvir incentivos do tipo: “Faça um MBA em gestão na saúde”, ou “Procure estar por dentro da economia da saúde”. Mesmo aqueles que não gerem grandes serviços e/ou cuidam apenas de consultórios manifestam essa opinião.

No entanto, apesar de alguns bons conselhos, sinto que esse tipo de debate é pouco incentivado nas escolas médicas e de saúde do país. Além disso, e talvez por consequência, os estudantes – leia-se, nossos futuros profissionais e gestores – estão alheios à importância desse conhecimento.

Para enriquecer essa discussão, conversei com o Profº. Dr. José Sebastião dos Santos, docente de Cirurgia do Aparelho Digestivo na FMRP-USP e com vasta experiência na área de gestão na saúde, que colaborou com uma entrevista.

Qual a sua formação médica e na área de gestão em saúde?

Formação Médica: Graduação pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (1984), Residência Médica em Cirurgia Geral (1986) e Cirurgia Digestiva (1988) no Hospital das Clínicas da FMRP-USP, Mestrado (1993), Doutorado (1997) e Livre Docência (2008) em Cirurgia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e especialização na Divisão de Transplante de Pâncreas e Rim na Universidade de Minnesota - USA

Formação em Gestão: Especialização em gestão hospitalar pelo Ministério da Saúde (2003),  e em gestão de organizações de saúde pelo MBA-FUNDACE-FEA-USP (2004). Todavia, o aprendizado em gestão deu-se com a implantação de serviços de saúde voltados às necessidades de assistência, ensino e pesquisa: Serviço de Cirurgia Ambulatorial para cirurgias de pequeno porte no Centro de Saúde Escola da FMRP-USP e de grande porte no HCFMRP-USP e, mais recentemente, o Centro de Endoscopia e o Serviço de Transplante de Pâncreas-Rim no HCFMRP-USP. As experiências de gestão mais significativas ocorreram na condição de Diretor da Unidade de Emergência do HCFMRP-USP (1999-2003), Consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para o Ministério da Saúde (2004) e como Secretário da Saúde de Ribeirão Preto (2005-2006), mediante atuação na organização da rede assistencial com implantação da regulação do acesso, elaboração da política nacional de atenção às urgências e fortalecimento das atribuições dos níveis de atenção primária, secundária e terciária. Essa experiência está registrada em artigos científicos, teses e no livro: Protocolos Clínicos e de Regulação: Acesso à Rede de Saúde (1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. v. 1. 1311p) e tem contribuído para a atividade cotidiana de docente e de Coordenador da Disciplina de Sistema Digestivo da FMRP-USP, do Serviço de Cirurgia e Endoscopia Digestiva do HCFMRP-USP. Além disso, essa experiência me auxilia no exercício da função de assessor científico da Fundação Waldemar Barnsley Pessoa para seleção e adequação de projetos nas áreas da saúde, da educação e da assistência social para a região de Ribeirão Preto.

Quais as possíveis razões para o desinteresse dos estudantes da graduação pela gestão na saúde? O que pode ser feito para mudar isso?

O desinteresse, dentre outros fatores, decorre da falta de exposição dos estudantes aos conceitos e práticas da gestão, os quais são indissociáveis da atenção clínica. Assim, a formação do docente e do médico, em geral, pouco afeita aos conceitos e práticas solidárias não contempla a potência da gestão clínica que simplesmente é identificar a necessidade do sujeito e, com base no seu perfil, oferecer os recursos mais apropriados para o diagnóstico e tratamento, no melhor local do sistema de saúde e na melhor hora.

Dessa forma, tanto a gestão como a ética precisam ser ensinadas e praticadas em todas as atividades de ensino, com extensão e pesquisa. As disciplinas e os cursos de gestão e ética servem apenas para apresentação de conceitos, mas o grande aprendizado decorre do jeito como empregamos esses conceitos. A integração das práticas de assistência à saúde com gestão dos recursos e ética adequada às necessidades do sujeito é que nos tornam solidários e eficientes como profissionais de saúde.

Por que, para médicos e outros profissionais da área, seria importante possuir algum domínio sobre gestão? Como isso pode se traduzir em melhores serviços de saúde (públicos/privados) para a população?

A gestão é um conjunto de ações e atitudes que garante a execução da orientação, da investigação prescrita, do tratamento proposto e do acompanhamento dos sujeitos que precisam da saúde. A gestão clínica garante o cumprimento das missões das unidades de serviço, a proteção à saúde e à condição social dos sujeitos e, assim, torna o nosso trabalho mais efetivo e solidário.

No seu entendimento, médicos ou outros profissionais da saúde são melhores gestores na saúde do que administradores?

O sistema de saúde precisa dos dois profissionais, o médico, em tese, tem mais recursos para planejar e administrar com foco nas necessidades dos sujeitos, sobretudo quando domina  as ferramentas da clínica, da gestão, da ética e da proteção social. Por outro lado, o administrador pode cooperar nos processos de manutenção das boas condições das Unidades do Sistema de Saúde (acompanhar orçamentos, indicadores, processos de manutenção, custeio, investimentos, dentre outros). A temperança da atuação desses profissionais é que garante a atenção às necessidades dos sujeitos com efetividade e solidariedade.

E você, qual sua opinião sobre o que foi discutido? Comente e Participe!