A modernização dos hospitais e sua relação com a qualidade dos serviços, e os investimentos das instituições de saúde na melhoria do espaço, são alguns temas abordados pelo arquiteto e urbanista, Siegbert Zanettini, premiado pelo Centro Universitário São Camilo com o título de arquiteto do ano, na entrevista à editora-assistente da revista Fornecedores Hospitalares, Kelly Souza. Zanettini, que realizou seu primeiro projeto no segmento em 1961, com a obra do hospital de Ilha Solteira, fala sobre o mercado, tendências e o impacto de um bom projeto de arquitetura nos hospitais. SBW: Como avalia o mercado na arquitetura hospitalar hoje?
Siegbert Zanettini: Muito atuante e com bastante perspectiva. Uma boa parte da rede privada estava desatualizada. As atividades clínicas e toda a comunicação interna, controle de infecções e segurança passou a ter uma evolução muito grande e os edifícios não acompanharam essa evolução. Muitos deles mantinham ainda a visão de pavilhões, com vários leitos e um sanitário geral, que eram as antigas enfermarias. Os hospitais, quando tiveram toda essa transformação na demanda e serviços de melhor qualidade, começaram a investir no edifício.
SBW: Há quanto tempo surgiu essa preocupação?
Zanettini: Em meados da década de 90, em que novas estruturas e soluções surgiram. Os hospitais que se adiantaram nesse processo e tiveram uma visão mais progressista investiram em hotelaria, infra-estrutura, diagnósticos, e começaram ganhar espaço e ter um retorno disso. Os que até então nada tinham feito perderam clientela, não pelo serviço médico que poderiam prestar, mas pelo espaço oferecido. Se um quarto é mal resolvido, o banheiro precário, sem equipamentos, ar condicionado, frigobar, televisão, o paciente acaba de certa maneira identificando a qualidade do atendimento com a do espaço.
SBW: Desta forma, a hotelaria hospitalar e decoração de interiores ganharam espaço no mercado hospitalar?
Zanettini: A partir daí começou uma transformação marcante, e isso se estendeu para as demais áreas do hospital. A medida em que se melhora o padrão para o paciente, forçosamente tem que melhorar o padrão para o pessoal que trabalha: enfermeiras, médicos, corpo clínico. Existem hospitais que não possuem nem lugar para os médicos se reunirem para tomar um café, depois de uma cirurgia longa ou um procedimento cansativo. Essa intervenção que começou a influenciar positivamente pacientes e acompanhantes, se estendeu também para todo o corpo clínico. As áreas de estar, de atendimento, de permanência, refeitórios começaram ganhar expressão. A evolução no espaço interno trouxe recentemente uma preocupação com a área externa, que também era obsoleta.
SBW: Surgiu um segundo mercado, onde além da qualidade hospitalar é colocada em evidência a imagem das instalações e do edifício como um todo?
Zanettini: Exatamente, a imagem de um hospital tem uma importância muito grande. Os que eu participei de projetos, revitalizando, modernizando, houve uma aceitação muito grande do hospital pelos clientes. A qualidade deixa de estar embutida e passa a ficar expressa, com outra perspectiva que antigamente não se tinha.
SBW: O que é imprescindível para um bom projeto?
Zanettini: Defino a arquitetura como o resultado físico e espacial do encontro equilibrado e harmônico do mundo racional e o mundo sensível. Ou seja, a arquitetura é o encontro do conhecimento sensível com o conhecimento racional. Cada vez mais é importante o aspecto emocional e psicológico do paciente. Então se analisarmos os aspectos da sensibilidade, das emoções, do encantamento que um espaço pode causar, como um novo alento de vida, isso para um hospital é fundamental.
SBW: Qual o principal erro cometido na elaboração do projeto arquitetônico?
Zanettini: A questão funcional. O hospital tem uma precisão de uso muito grande de atividades que devem ocorrer lá com muita clareza. Um bom planejamento faz com que o hospital passe a ter um desempenho melhor e tenha uma relação de custo beneficio muito maior.
SBW: Que profissionais devem estar envolvidos no projeto?
Zanettini: Diversos tipos de profissionais participam hoje no trabalho da arquitetura. É necessário discutir com cada equipe que trabalha em setores diferentes. A evolução envolve as técnicas médicas e da própria equipe, por isso a discussão tem que ser feita conjuntamente. É necessário interpretar cada idéia sugerida e assim acrescentar nossa experiência.
SBW: O setor enfrenta algum problema atualmente?
Zanettini: Existe um descompasso entra a rede privada, que vem investindo, e a rede pública, que está bem precária. Fiz vários hospitais conhecidíssimos na área pública, que parou de investir desde 1993. A rede pública que é atendida pelo SUS, não tem por parte do Governo o cuidado de atualização e ampliação, está deficitária e tem criado verdadeiros problemas.
SBW: O que podemos destacar como novidade na área de arquitetura hospitalar?
Zanettini: O resultado de uma relação mais interagente entre a paisagem construída e a paisagem natural. Os hospitais hoje se voltam para fora, e tendem a fazer parte do equipamento urbano como qualquer outro edifício, tendo uma relação muito forte com todo o espaço envolvente. É bom saber quais os impactos que um projeto pode apresentar na região. Por isso o uso de tecnologias mais limpas de construção. A estrutura metálica, onde a solução é montada de uma maneira que não interfira no uso do hospital, tem sido cada vez mais utilizada.