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O futuro da Odontologia

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Especialistas analisam mercado de trabalho para cirurgiões-dentistas

Falar sobre mercado de trabalho é sempre complexo porque cada área tem suas especificidades e, mesmo dentro de uma formação, as atuações costumam ser inúmeras. Isso não é diferente na Odontologia.

A cirurgiã-dentista, professora e membro da Comissão de Teleodontologia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Ana Estela Haddad, cita uma preocupação que tem influenciado o mercado de trabalho odontológico. “Uma questão que preocupa bastante é o crescimento da graduação em Odontologia no Brasil. Em 2016, tínhamos 269 cursos. Já entre 2017 e 2020, foram autorizados 345 novos cursos de graduação em Odontologia pelo Ministério da Educação”, conta. 

Ela cita dados de um estudo que realizou com outros pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Estadual de Londrina (UEL) com a Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO). A análise tem total razão, pois o Brasil é o país com mais cirurgiões-dentistas do mundo! Cerca de 20% dos profissionais ao redor do globo estão em solo verde e amarelo e São Paulo é o estado com a maioria deles (mais de 100 mil), quase um terço do total dos cirurgiões-dentistas brasileiros. Por isso, mesmo com o ensino superior, os desafios para entrar nesse mercado não são poucos. 

Para Ricardo Henrique Alves da Silva, professor Doutor da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP-USP), o carro-chefe da Odontologia é o mercado clínico. “O consultório odontológico, a clínica e os demais empreendimentos de atenção e assistência à saúde ainda são os principais espaços de atuação”, afirma o cirurgião-dentista que também ministra conteúdos de orientação profissional. 

Com a graduação concluída e o registro pronto, os recém-formados podem optar por seguir a carreira clínica, como apontado por Ricardo, em uma das mais diversas especialidades de mercado, como Prótese Dentária, Ortodontia, Implantodontia e muito mais. “Os desafios vão existir, obviamente, em qualquer que seja essa escolha. Hoje, o público consumidor, que são os pacientes, é muito informado e exigente. Fora isso há a concorrência. Então é preciso conciliar esses dois lados. Para isso, é importante entender muito de Odontologia, mas também conhecer de gestão, de organização, de trabalho em equipe e dos princípios éticos que regem a profissão”, completa Ricardo. 

Outra opção é seguir carreira no setor público. “Em 2010, analisamos o perfil sociodemográfico, de formação e de atuação e identificamos que quase um terço dos cirurgiões-dentistas tinham vínculo com o serviço público naquele momento. Isso aconteceu principalmente após a criação de uma política nacional de Saúde Bucal e pela política de educação e trabalho na Saúde, a primeira ação sobre recursos humanos em Saúde na Odontologia. Foi um marco para a criação da Estação FOUSP-ABENO de Recursos Humanos em Saúde, que passou a integrar uma rede de pesquisa e valorização profissional de 22 estações de diversas universidades brasileiras”, explica Ana Estela ao citar a publicação Perfil e Tendências do Dentista no Brasil.

A expectativa é de cada vez mais oportunidades nesse mercado, ainda que ele dependa diretamente de políticas públicas, pois há urgência na demanda da população. Dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que menos da metade dos brasileiros haviam consultado um cirurgião-dentista nos 12 meses anteriores à pesquisa. Isso diz muito sobre a carência de atenção aos cuidados e à higiene bucal, levando essa mesma população a enfrentar graves problemas, como a perda de dentes, por exemplo. Segundo o mesmo levantamento, 34 milhões de pessoas com mais de 18 anos haviam perdido 13 ou mais de dentes, enquanto 14 milhões perderam todos eles. 

Há também o campo acadêmico, que, muitas vezes, pode ser conciliado com outra atuação. “Gosto de contar a história do meu primeiro ano da graduação, naquela época eu queria me especializar em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, mas, no fim, acabei indo para Odontologia Legal. Além disso, sempre quis dar aulas”, recorda Ricardo. “É importante estar aberto para conhecer toda a amplitude da Odontologia. Nossa profissão é uma construção contínua. A preparação está nos bancos acadêmicos, mas ela deve continuar sempre”. 

O futuro da Odontologia

Quem está ingressando na carreira, pode se perguntar sobre o que será o futuro da Odontologia. Essa pergunta, infelizmente, não vem com fórmula mágica ou resposta concreta. Além do mais, a Covid-19 tem provocado fortes reflexos na economia como um todo e o pós-pandemia ainda é desconhecido.  

Por um lado, fragilidades são escancaradas e dificuldades de mercado se tornam maiores. Por outro, há destaque para os serviços que se tornaram mais do que essenciais, como no caso da Odontologia Hospitalar, grande aliada no combate às infecções virais provocadas pela internação de pacientes infectados. “A saúde ganha grande espaço a partir da pandemia e a Odontologia tem aí oportunidades de pensar em novas formas de inserção dos cuidados em saúde bucal, no nível individual e coletivo”, estima Ana Estela. 

Já para Ricardo é possível observar algumas tendências para entender o que pode ser mais promissor no futuro com base em fatores atuais, como o envelhecimento da população e também a alta busca por estética. “O ideal é ter uma visão de médio ou longo prazo e pensar no mercado agora. A Odontologia de 30 ou 40 anos atrás não é a mesma de hoje e não será a mesma daqui 30 ou 40 anos. Esse exercício de futurologia depende de uma análise da evolução social, técnica e científica. Tudo isso vai influenciar a Odontologia e vai refletir pra gente também”, defende.