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E-health na America Latina: Da teoria à Prática

Article-E-health na America Latina: Da teoria à Prática

A tecnologia da informação e comunicação é uma ferramenta custo-efetiva e segura para melhorar a atenção à saúde

Os desafios para melhorar os níveis de saúde de nossa população são enormes e há muitas barreiras. Um fato inegável é o grande aumento do uso de telefones celulares, inclusive de geração superior (“smartphones”), chegando a uma proporção superior a uma linha para cada habitante na América Latina e o maior acesso a internet, em casa, no trabalho ou em “lan houses” atingindo mais de 60% da população adulta no continente. Neste contexto, o uso da tecnologia da informação e comunicação (TIC) pode ser uma ferramenta importante para superar algumas barreiras na atenção à saúde.

A Organização Mundial da Saúde define a e-saúde como o apoio que a utilização custo-efetiva e segura das tecnologias da informação e comunicação (TIC) oferece à saúde e aos ambientes relacionados com ela. Neste contexto, as TIC podem estar presentes em praticamente todos os aspectos da atenção à saúde, inclusive tornando-os mais acessíveis, de melhor qualidade e proporcionando uma maior vinculação das redes integradas de atenção.

De acordo com Carissa Etienne, diretora da OPAS, a internet e o uso da telefonia móvel proporcionam uma quantidade inesgotável de dados sobre  os comportamentos sociais e relacionados com a saúde de uma pessoa, incluídos os obtidos pelas buscas na internet e pelas palavras chave que se utilizam, as informações que se compartilham nas redes sociais, os medicamentos que se compram e onde se compram, os restaurantes frequentados e as ausências na escola e no trabalho devido a uma enfermidade, além de muitas outras atividades

cotidianas. Se estas informações forem utilizadas de forma ética e correta, será possível fazer os seguimento dos casos com maior precisão, emitir alertas de atenção à saúde, identificar rapidamente as enfermidades transmitidas por alimentos e facilitar uma resposta imediata a situações de emergência e desastres.

Recentemente foi publicada uma edição especial da Revista Panamericana de Saúde (vol.35,2014) com textos e pesquisas sobre as tecnologias de informação e comunicação aplicadas à saúde.

Um artigo original analisa a utilização, efetividade e resolutividade das teleconsultorias realizadas pela Rede de Teleassistência de Minas Gerais (RTMG) que atende 821 pontos de atenção à saúde. A RTMG oferece teleconsultorias off-line (assíncronas) nas diversas áreas da saúde aos profissionais de 600 municípios do Estado, que podem acessar o sistema via internet, descrever o  caso clínico, podendo anexar uma foto ou qualquer outro arquivo necessário. Há um atendimento inicial por um plantonista de clínica médica com resposta em tempo médio de 16,4 horas. Em mais de 90% das vezes não houve a necessidade de encaminhar ao especialista. Caso necessário, a resposta do especialista foi enviada no tempo médio de 30,8 horas. No período de abril de 2007 a dezembro de 2012 foram realizadas 47.689 teleconsultorias, principalmente solicitadas por médicos e enfermeiros. A aplicação de uma pesquisa de satisfação revelou que 80% responderam que as teleconsultorias evitaram encaminhamentos e 95% responderam que foram úteis para esclarecer as dúvidas. Os autores concluem que a teleconsultoria qualifica os encaminhamentos, possibilita melhor organização do atendimento especializado e melhora a qualidade da assistência ao paciente.

Dois trabalhos abordaram a questão do acompanhamento e orientação ao diabético usando as TICs. No Chile se criou um sistema de comunicação móvel com os pacientes com diabetes tipo 2 com o uso de três estratégias de comunicação: (1)personalizada (2) automatizada de voz (3) automatizada escrita.  A comunicação personalizada utilizou protocolos e “scripts” de aconselhamento telefônico para ativar o paciente para o auto manejo de sua condição. Ela foi realizada antes e após a confirmação diagnóstica e no acompanhamento. A comunicação automatizada de voz utilizou o software “Cosmos” e se buscou oferecer informações em saúde além de interações com perguntas simples de responder, mas que possibilitam a inclusão de dados pela equipe de saúde. Finalmente, a comunicação automatizada

escrita utilizou SMSs com cinco domínios de mensagem: (1) motivação para finalizar o processo diagnóstico (2) alimentação saudável (3) promoção da saúde (4) atividade física (5) adesão ao tratamento. Os autores ressaltam que o funcionamento de um sistema complexo exige a integração entre os sistemas de TIC com os profissionais da atenção à saúde e o comportamento dos pacientes. As barreiras são superadas com a realização de testes e grupos piloto, mas a abordagem é factível na atenção primária à saúde. Por outro lado, em uma experiência no México, com o uso de mensagens eletrônicas (SMS) se construiu um programa com três tipos de mensagens: (1) recordatórios para as tomadas de medicamentos (2) recordatórios para o cumprimento de agendas de consultas e exames (3) promoção da saúde. As mensagens eram curtas, mas personalizadas para cada usuário, tendo a seguinte estrutura: (1) saudação (2) nome da pessoa (3) mensagem (4) despedida. A pesquisa com os usuários constatou que 83% possuem aparelhos que podem ler mensagens de texto, 83% nunca ou quase nunca desligam os seus aparelhos e 95% usam regularmente seus aparelhos.

Finalmente, merece destaque uma experiência de quatro anos com uma intervenção de suporte ao tratamento da depressão baseado na internet realizado no México. O projeto “HDep” foi desenvolvida na plataforma Moodle e lançado em 2009 e até abril de 2013 houve 28.078 visitas ao portal. O usuário deve preencher um perfil básico e responder a um inventário de depressão (CES-D)com 20 itens. O “cutoff” para indicação de sintomas depressivos foi de 16 ou mais, além de incapacidade, ideação suicida, uso de drogas, ingestão excessiva de álcool, tratamento prévio para depressão. A pesquisa constatou que 97,1% dos usuários do portal tinham sintomas depressivos. Quase um terço relataram tratamento médico ou psicológico para depressão e 37,8% tomavam medicamentos para “nervos” ou ansiedade. O portal oferece sete módulos que incluem avaliação inicial, orientações e mensagens, exercício de relaxamento, um caderno pessoal de trabalho, blogs e fóruns de discussão. Os usuários podem navegar livremente entre os módulos, mas são orientados a utilizar pseudônimos para manter a confidencialidade. Os autores destacam a grande proporção dos usuários que usaram o caderno de trabalho (64%) e que escreveram nos blogs (66,8%)gerando uma rica interação social. Conclui-se que as intervenções baseadas na internet tem um enorme potencial para atingir pessoas, oferecer ferramentas educativas e propiciar suporte social.

As experiências relatadas nesta publicação revelam a possibilidade real de intervenções efetivas, inclusive em nosso meio, mas que exigem, no entanto, preparo técnico-científico, suporte das lideranças e desejo de inovar para que as ações e programas ganhem escala, atinjam um número crescente de participantes e se integrem ao sistema de saúde.