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Georreferência e os aplicativos que enganam o vírus

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Georreferência e os aplicativos que enganam o vírus
Saiba como os aplicativos de localização podem combater o covid-19.

O Ministério da Saúde envia uma mensagem e avisa que há dois dias você estava no mesmo local que um transmissor do coronavírus. Surpresa é a nossa primeira reação. A segunda é o descrédito, achando que mais um fake-news-hacker sequestrou nossa atenção. A segunda mensagem indica que devemos nos dirigir a nossa casa, tomar um banho, lavar e desinfetar as mãos e nos afastarmos das roupas possivelmente infectadas, mantendo o isolamento familiar. Instantes depois, o celular toca e uma voz artificialmente inteligente nos informa que é necessário atender a próxima ligação: “alguém” do Centro de Controle Viral falará conosco. Já isolado em casa, você recebe essa chamada informando as ações necessárias à sua proteção, colocando também seis ou sete perguntas epidemiológicas. Parecida a essa sequência, Governos de países que utilizam os aplicativos de localização por georreferência (GPS) tentam estrangular na raiz as possíveis fontes de contágio, com seus melhores especialistas em saúde pública cravando os dois fatores centrais para o novo controle viral: antecipação e tecnologia.

Israel, Cingapura, Coreia do Sul e Alemanha estão um passo à frente no uso de aplicativos inteligentes para identificação epidêmica. A mesma tecnologia que caçava terroristas no passado, hoje rastreia o coronavírus pelas esquinas. Esses Apps (pandemic-apps) utilizam ferramentas de geolocalização telefônica, mas requerem que pelo menos 60% da população os instale e ajude as pessoas a serem bloqueadas (e desbloqueadas) do vírus. Eles mantêm anotações de outros dispositivos, executando a busca de pessoas com quem você manteve contato próximo. Se o seu “e-diagnóstico” for positivo, todos os que estiveram próximos receberão uma mensagem aconselhando o isolamento. Nessa fase não existe teste de DNA, teste rápido ou qualquer outro teste fisiológico. Quem testa é a ferramenta de inteligência artificial, que com seus algoritmos pandêmicos ensina a máquina a rastrear os pseudo-infectados (machine learning).

No dia 21 de fevereiro, a Espanha espantada observou o cancelamento do Mobile World Congress, em Barcelona. O país tinha dois casos confirmados. Em Israel, um passageiro a bordo do Diamond Princess, atracado no Japão, indicava o primeiro caso positivo e avançava com um lote de medidas de guerra: fechou as fronteiras, implantou quarentenas, baniu aglomerações, alertou a população sobre a gravidade da situação e regulou o distanciamento social. No início de março, o governo autorizou sua agência de segurança a utilizar o Shin Bet, um aplicativo militar que coleta informações georreferenciais dos telefones celulares e facilita a identificação do coronavírus ("guerra contra um inimigo invisível"). Criado para possíveis ataques biológicos, o Shin Bet segue o modelo de perguntas e respostas, algoritmizando as conclusões e identificando os possíveis infectados (com rara precisão). Nas últimas semanas, Israel intensificou a malha fina de pacientes infectados, utilizando também dados de cartão de crédito e outras fontes de rastreamento. Privacidade? Bem, se vale como ressalva, o governo israelense informou que apenas uma pequena equipe isolada e secreta do serviço de inteligência tem acesso aos dados e se comunica somente com o Ministério da Saúde. Embora controverso, ainda vale a liturgia dos tempos de guerra: vidas são mais importantes que privacidade. Evidentemente, só o tempo dirá o que quase todas as nações do Ocidente farão com os dados dos que sobreviverem.

Países com larga margem de infecção, como Espanha, Itália e EUA iniciam a utilização de aplicativos semelhantes, alguns deles com poder ainda maior de rastreabilidade, como, por exemplo, realizar varreduras em mensagens de texto (como WhatsApp). Essa é a grande diferença com as epidemias anteriores ao avanço do ecossistema digital. Cingapura talvez seja o país mais avançado em aplicativos antivirais. Com 5,7 milhões de habitantes, seu App, TraceTogether, está à frente de todos os demais. Ao invés de usar o GPS para localizar possíveis fontes de contágio, ele usa o Bluetooth para transformar o celular em um tipo de “radar” que se conecta por alguns milissegundos com outros telefones próximos. Numa conversa telefônica, a menos de um metro de distância, o sensor do smartphone emite um identificador criptografado que captura o celular da outra pessoa e vice-versa (durante todo o tempo da conversa). Se em alguns dias houver um resultado positivo para qualquer um dos rastreados, ocorre a transferência automática dos dados para a Agência Epidemiológica, que notifica as pessoas e solicita testes, isolamento, teleconsulta, etc.

Ainda assim, existem limitações: o rastreamento por GPS possui baixa precisão em ambientes fechados e quase nenhuma verticalidade. O Ministério da Saúde do Brasil anunciou o uso de semelhantes aplicativos. Bem-vindo seja. Enquanto assistimos no sofá a impermanência de alguns (arte de dizer adeus com elegância), torcemos para que a tecnologia digital dos aplicativos possa nos livrar do Mal. Amém.


Guilherme S. Hummel
Coordenador Científico - HIMSS@Hospitalar Fórum
EMI - Head Mentor