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Inteligência Artificial e Machine Learning aplicados à saúde

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Na semana passada conferimos uma palestra sobre Inteligência Artificial, Machine Learning e Big Data aplicados à Saúde no Summit Saúde.

Os painelistas debateram sobre a tecnologia como ferramenta nas diferentes perspectivas, de provedores até indústria, tanto do ponto de vista dos benefícios como aplicação clínica e gestão.  

 

“Da perspectiva assistencial, temos que nos integrar para atender o paciente e fornecer tecnologia para que o profissional de saúde possa entregar o melhor dentro do sistema. Falando de impacto, isto está começando a possibilitar que nós tiremos proveito daquilo que registramos durante os últimos anos: ver uma história, e decidir qual caminho traçar daqui para frente.”, disse Guilherme Rabello, Gerente Comercial e de Inteligência de mercado do Instituto do Coração (InCor) em sua introdução ao tema. O executivo vê com bons olhos todas as ferramentas que venham para extrair conhecimento daquilo que há registro. “Captamos e informatizamos muita coisa, mas agora temos que triturar esses dados para que eles possam nos contar como podemos melhorar a jornada do paciente. Essa é a primeira coisa que devemos pensar, não como futuro, mas o que conseguimos fazer agora com essa simbiose de tecnologias.”

 

Para ele, o aspecto prático é o valor da entrega a curto prazo, em conhecer melhor o paciente, tanto para o profissional da saúde quanto para o administrativo. A partir disso, reduzem-se custos, melhora-se a gestão e o atendimento se torna mais efetivo. A tecnologia deve estar a serviço da melhora desse processo.

 

Outro painelista, Fernando Maluf, oncologista e fundador do Instituto Vencer o Câncer, afirma que há um contato relativamente grande com as novas tecnologias. “Hoje tenho visto desde pessoas saudáveis que investem em mapeamento genético para identificação de risco, até plataformas para pacientes com câncer identificarem alterações mutacionais para uma medicina personalizada. A tecnologia para plataforma de genes é muito importante, mas nada vale se não houver uma comunicação com as plataformas clínicas e os desfechos clínicos dos pacientes, considerando as disparidades geográficas e econômicas, e a conexão com a base de custos”. Ele acredita que hoje o médico também atua como consultor e conector de todas as plataformas, com objetivo de capitalizar prevenção, diagnóstico precoce, melhores e mais específicos tratamentos e com um custo reduzido, através da tecnologia.

 

Endossando a opinião médica do debate, Mariana Perroni, intensivista e Medical Advisor da IBM Brazil disse que a tecnologia sempre teve um papel crucial na inovação em saúde e que, após grandes avanços em um curto período, chegamos a um platô no qual é necessário definir o papel da tecnologia nas relações de saúde atuais. “Enquanto continuarmos a tratar as pessoas de forma episódica, reativa e de acordo com o que funciona para a maioria delas, não estamos explorando totalmente o papel da tecnologia.”

 

Mesmo com todas as dores do processo de digitalização, Mariana diz que a boa notícia é que conseguimos combustível para começarmos a pensar em um papel diferente para a tecnologia. O mundo vive uma explosão de informação, 90% de todos os dados que temos hoje foram criados nos últimos 2 anos. Ela explica que, em saúde, esse dado é ainda mais proeminente: se juntarmos todos os dados que uma pessoa gera na sua vida, exames de imagens, genômicos, consultas, wearables, é o equivalente a 300 milhões de livros.

Ainda sobre dados, a especialista diz que, hoje em dia, a quantidade de informação dobra a cada dois anos, mas até 2020 vai dobrar a cada 2,5 meses. Estamos em um processo exponencial, e o nosso cérebro já não é hardware suficiente para processar esse montante. Nós precisamos de ferramentas que transformem esses dados em informação, especialmente insights que permitam a tomada de decisões mais assertivas.

 

“A segunda boa notícia é que chegamos na terceira era da computação, a era da inteligência artificial. E por meio de técnicas de machine learning, de redes neurais, linguagem de processamento natural, nós conseguimos começar a resolver esses desafios de excesso de dados. E o potencial disso na saúde é gigante. Hoje conseguimos avaliar, por exemplo, em 15 minutos o sequenciamento genético de uma pessoa. Ranquear as mutações mais frequentes e relevantes, cruzar com a literatura científica mais atualizada, e gerar planos de tratamento diferenciados com mais chances de cura. Se fossemos analisar de modo tradicional, levariam cerca de 170 horas.”, conta Mariana.

Patrícia Ellen, presidente da Optum, traz a sua visão de que o Brasil é um sistema extremamente complexo. Isso porque existem três sistemas em um: o que tem cada vez mais doenças crônicas como o envelhecimento da população, que já é a principal causa de mortalidade no país; ao mesmo tempo que há uma alta prevalência de doenças infecciosas e ainda há o Brasil das causas externas, como a violência. “E porque isso é importante? São três sistemas que geram um desafio financeiro muito grande para o país. A tecnologia não é só uma grande oportunidade, é a única oportunidade que temos para lidarmos com a situação atual. E para fazer isso, somente é possível com uma visão integrada do sistema de saúde. Cada um dos atores trabalhando de forma coordenada.”

A executiva destaca três pontos em relação à tecnologia: processamento, custo e acesso. Em seu exemplo, ela cita a capacidade de processamento do iPhone, que hoje é 10x mais rápido do que há nove anos. E seguindo a lei de Moore, o custo para isso também diminuiu. Com mil dólares é possível processar muito mais do que no passado. Outra questão é a existência de uma população altamente conectada a smartphones, com acesso crescente a informação. Isso mostra uma oportunidade de custos e qualidade para lidar com desafios muito importantes.

“Em uma de nossas pesquisas, descobrimos que somente entre 10% a 20% dos brasileiros utilizam o sistema de saúde da forma correta. Muitos utilizam mais do que deveriam, outros menos. Hoje, em média, 30% dos gastos que temos com pacientes no nosso sistema acontecem nos últimos três meses de vida da pessoa. Então, em uma melhor gestão, com tecnologia e prevenção, é possível trazer esse custo para frente, melhorar a qualidade de vida, reduzir o custo de saúde dessas pessoas. Dois exemplos que temos são: o processamento de linguagem natural para estruturar os dados que temos, e IoT para conectar pontos de atenção de cuidado.

 

Para citar o case de uma operadora: pegamos os heavy users e vimos que só 35% deveriam estar utilizando o sistema de emergência daquela forma. Mapeamos, entramos em contato com esses pacientes e explicamos o que estava acontecendo. Um terço deles resolveram as suas dúvidas por telefone e perceberam que não precisariam utilizar a emergência, 25% agendaram consultas eletivas com o especialista correto e somente o restante continuou indo ao pronto socorro”, conta Patrícia.

Robson Miguel, Diretor de Digital Services da Siemens Healthineers Brasil, também presente no painel, traz um exemplo de tecnologia aplicada a equipamentos de imagem para portadores de Parkinson. “Pacientes com esta doença têm uma certa dificuldade em realizar exames de imagens devido aos tremores, o que prejudica a formação da imagem. Foi criado, então, um algoritmo que consegue identificar esses padrões de movimentação e reconstruir a imagem como se o paciente estivesse imóvel. É uma alternativa à sedação, ou seja, melhoramos o acesso a esses exames para essa população”.

Outra aplicação da empresa é em um piloto envolvendo o Hospital Sírio Libanês. Segundo Robson, a partir de um algoritmo de inteligência artificial, será possível encontrar achados incidentais em exames de tórax para nódulos pulmonares. A ideia é diagnosticar precocemente problemas que possam vir a intensificar os custos a longo prazo.

 

Nas palavras de Maluf, uma parte muito importante dos sistemas de inteligência artificial é a possibilidade de homogeneizar o diagnóstico e cuidado com o paciente, apesar da heterogeneidade da formação dos profissionais. “Eu, como médico,  adoraria qualquer tecnologia que possa contribuir para uma melhor medicina no meu dia a dia. Isso não interfere em nada a relação médico-paciente, isso promove um melhor cuidado e o maior beneficiado será sempre o paciente.”

Mariana completa dizendo que no momento da consulta não haverá dependência da formação do médico, todos terão acesso a melhor evidência científica para a tomada de decisão. Além disso, tendo acesso a todo esse big data, conseguiremos ver cada pessoa como única - e não aplicar tratamentos de acordo com o que funciona para a maioria. Nesse sentido, portanto, a tecnologia é totalmente sinérgica.

 

“Estamos fazendo muita medicina colocando a orelha no paciente”, diz Guilherme, e continua, “Não há o menor cabimento em uma ausculta, o profissional colocar o ouvido diretamente em nosso peito. Se não houver estetoscópio, tudo bem, mas temos os ferramentais. Temos que aproveitar todas as tecnologias que permitam ‘ver’ o paciente. A tecnologia está vindo para aumentar a capacidade, potencializar a nossa performance naquilo que somos bons, que não é possível de se programar. O desafio da saúde se tornou complexo suficiente para dizermos que não dá mais para jogarmos esse jogo sozinhos. Temos que ter equipes multidisciplinares, somar os esforços e alcançar os objetivos de forma mais rápida, com menor custo, e mais entrega de qualidade”

No final do debate, Mariana, conselheira médica da IBM, compara: “Há quem diga que os dados são o novo petróleo e a inteligência artificial é a nova eletricidade. Eu acredito que a tecnologia é o caminho para uma saúde mais sustentável, mais personalizada e, por mais irônico que isso pareça, até mais humana.”