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Telemedicina: uma nova especialidade ou ferramenta?

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Durante o Telemedicine Summit, que ocorreu entre os dias 3 e 6 de abril, o Hospital Israelita Albert Einstein debateu o tema através de seus melhores especialistas e mostrou cases práticos de uso atual da tecnologia para os presentes.

“Virtualistas são aqueles médicos que passam mais da metade do seu tempo atendendo à distância. É uma proporção substancial da entrega de cuidado. Será que estamos falando do surgimento de uma nova especialidade ou de uma habilidade, de uma ferramenta que será necessária para a grande maioria da prestação de cuidado em saúde nessa próxima geração?”, perguntou Carlos Pedrotti, médico participante do programa de telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein, ao público.

Segundo ele, o avanço tecnológico gera conhecimento, que, por sua vez, quando acumulado, gera a necessidade de uma especialização. Se observada a evolução das especialidades na clínica médica, é possível perceber que especializações como a oncologia possuem menos de 50 anos, e que hoje, o tão conhecido transplante cardíaco, possui menos de 10 anos de atuação nomeado como especialidade. A especialização vem com o tempo, então é plausível que um grande número de modalidades cada vez mais nichadas na área de telemedicina apareçam de forma exponencial ao longo dos próximos anos.

De forma geral, espera-se que o virtual esteja presente em todas as especialidades. A telemedicina possui uma taxa de crescimento de 20% aa, e espera-se que, em 2022, seja um mercado de 12.2 bilhões. Para tanto, os profissionais médicos terão que desenvolver suas, antes não tão requisitadas, habilidades em informática.

Lidar com problemas técnicos mais comuns, como falha no microfone, câmera ou conexão promoverão agilidade na solução das situações citadas, e melhorarão a experiência de contato entre as partes. Além do treinamento tecnológico em si, também será um aprendizado como efetivar a comunicação à distância. O médico deve estar confortável e seguro com o uso da ferramenta. “No mundo corporativo, teleconferências são mainstream, mas é algo que o médico raramente faz no seu dia a dia”, disse Pedrotti. Deve-se prezar pelo mínimo de desencontros possíveis, para que a comunicação seja a mais próxima à experiência obtida em contexto presencial, e o paciente se sinta a vontade em transmitir informações relevantes.

Ele conta que já houve casos de pacientes que ligaram para fazer uma consulta dirigindo no trânsito. Ou seja, o uso deve ser muito bem delimitado para não comprometer a efetividade e a segurança do atendimento. Falando em efetividade, os médicos também terão que aprender a usar os devices da telepropedêutica, que é o exame físico realizado à distância. “Isso é sempre uma questão: exame físico vs telemedicina. Grande engano, muitas vezes ele é feito até melhor do que presencialmente.” disse o médico.

A telemedicina proporciona grandes ganhos, não somente em termos de ampliação de acesso, mas também em economia de recursos de transporte, tempo, otimização de contato, aumento de aderência ao retorno, aumento da continuidade e acompanhamento, como já comprovado em telepsiquiatria. E melhora na experiência do paciente, dependendo de suas preferências. É necessário, entretanto, entender as limitações da ferramenta. Faz parte do aprendizado saber que a distância pode implicar na redução da sua atuação, e que em casos como o de transmissão de notícias sensíveis, por exemplo, ela pode não ser recomendada.

Entrando em um aspecto mais técnico, André Pires dos Santos, coordenador da equipe de desenvolvimento de novos serviços em Telemedicina do Einstein, mostrou como a teledermatologia está funcionando na instituição. Ele explicou que em julho de 2017, havia cerca de 60mil pessoas na cidade de São Paulo esperando por uma consulta de dermatologia. A média de espera é de 180 dias, mas pode chegar a 550 dias. Então o Einstein fez uma proposta de atendimento onde o paciente seria encaminhado para o posto de coleta, onde a lesão seria fotografada, e a triagem realizada por teledermatologia. Em 70% dos casos, o paciente foi encaminhado para prosseguir o tratamento com um médico de família, 3% para a biópsia e 27% para uma consulta com um especialista.

Com base no banco de dados desenvolvido durante o projeto, foi desenvolvido um software de inteligência artificial. A triagem então passou a ser realizada por este algoritmo, e quando um paciente precisasse de um laudo para prosseguir o tratamento com o médico de família, este seria realizado por teledermatologia. O produto escalou facilmente. Em 8 meses, 170 atendimentos passaram a ser mais de 12.500. Claro, parte do volume foi devido ao esforço de zerar a fila, através de um mutirão.

“A primeira reação da equipe médica quando o projeto foi proposto não foi muito positiva, com argumentos de que era necessário ver o paciente por completo, leituras de artigos com tentativas fracassadas e dúvida quanto a segurança dos dados. Ao final do projeto vimos dados bem interessantes com a pesquisa de satisfação dos médicos.”, disse André. Entre os que participaram, antes, somente 25% dos médicos estavam muito confiantes com o serviço, 33% confiantes e 42% inseguros. Ao final, 83% deles se mostraram muito confiantes, 17% confiantes e nenhum inseguro. 100% deles recomendariam trabalhar com teledermatologia aliado a um posto de coleta. Todos gostariam de continuar trabalhando com teledermatologia no futuro.

Para finalizar, o especialista fez questão de citar que em termos de segurança, todos os dados estavam dentro de uma VPN, que trafegava por um servidor HTTPS, e chegava em uma rede local. Os serviços estavam disponíveis somente por uma whitelist, e se por acaso, alguém chegasse ao banco de dados, encontraria a informação criptografada. Todos os protocolos de segurança mais comuns foram seguidos, e até uma consultoria de software foi contratada para tentar hackear o sistema e atestar que os dados do projeto estavam, de fato, seguros.

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