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Hospital resgata tradição da carta para pacientes com Covid

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Nesta pandemia, as equipes assistenciais dos hospitais, como enfermeiros e psicólogos, incluíram mais uma função aos seus já atribulados cotidianos. Além de atuar na linha de frente no combate ao novo coronavírus, esses profissionais se tornaram um dos poucos canais de comunicação entre pacientes e seus familiares, auxiliando em vídeochamadas e no envio de mensagens por aplicativos.

Mas além da ajuda da tecnologia, a distância imposta pela Covid-19 fez com que a equipe de Psicologia do Hospital Santa Catarina (HSC), em São Paulo, pensasse em algo mais concreto e simbólico. Assim, nasceu o projeto Cartas Terapêuticas, que tem como objetivo propor às famílias e amigos que escrevam para as pessoas que estão internadas, relatando o que diriam se estivessem cara a cara.

“Trocar cartas é uma estratégia amplamente utilizada nas intervenções terapêutica em contextos de saúde, e é cientificamente comprovado que auxilia na elaboração emocional diante de cenários difíceis. Adaptamos este instrumento para o atual momento, com intuito de aliviar o isolamento e distanciamento”, explica a gerente-médica do Hospital, Mariângela Lieto. “É comum, por exemplo, as crianças mandarem desenhos. Já ocorreu também de familiares distantes, colegas de serviço e membros da igreja que o paciente frequenta participarem”, conta.

Higienização do papel

As mensagens chegam por e-mail à equipe de Psicologia da Instituição. O material é impresso e colocado em envelope, com higienização e proteção, para evitar qualquer risco de contaminação. Até o momento, mais de 200 mensagens foram recebidas. Pacientes em melhores condições também podem enviar suas cartas. “Os únicos que ainda não receberam as mensagens são aqueles que estão em ventilação mecânica, sedação ou sem condições cognitivas. Alguns já têm autonomia para ficar com as cartas no leito e solicitar que a equipe leia”, afirma a Dra. Mariângela Lieto, do Hospital Santa Catarina.

A reação foi tão positiva que os pacientes não intubados, mas sem acompanhantes, também são candidatos a participar do projeto. “Tivemos a oportunidade de registrar algumas reações das pessoas quando recebem as cartas. Observamos uma mobilização emocional, a receptividade do paciente e o acolhimento a ele. Isso traz humanização à nossa assistência”, completa.

“Nossa sociedade vivencia um momento novo, em que há necessidade de reflexão e readaptação. Acredito que isso pode trazer comportamentos novos, mas também retomar comportamentos antigos de forma ressignificada, como recursos de enfrentamento e redução de danos”. Ela destaca que o isolamento social pode gerar sofrimento emocional e fragilizar as pessoas, principalmente quem está em ambiente hospitalar. “As cartas funcionam para demonstrar sentimentos por meio da escrita e a possibilidade de receber afeto, mesmo à distância. Traz humanização ao cuidado com o paciente em ambiente hospitalar, além de ser um documento que ele terá contato durante e depois da internação”, lembra a médica.