Informações relativas à saúde pública nacional serão respondidas até o final de 2004, quando deverão ser divulgados novos dados da Pesquisa Mundial de Saúde (PMS). A coordenação da pesquisa, inédita no Brasil, está instalada no Centro de Informação Científica e Tecnológica (Cict) da Fundação Oswaldo Cruz. Este foi o grupo que em maio passado publicou os primeiros resultados deste que é o mais completo e diversificado diagnóstico das condições de saúde da população brasileira. A pesquisa, que é desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), avalia os sistemas de saúde de 71 países. Segundo informação da Fundação Oswaldo Cruz, nutrição e medicamentos são os dois grandes itens cujos dados ainda faltam serem tabulados pela equipe responsável pelo estudo no país – trabalho que ocupará os integrantes neste segundo semestre.
De acordo com a pesquisadora Célia Landmann Szwarcwald, coordenadora (com Francisco Viacava) da PMS no Brasil, a equipe vai agora se dedicar a quantificar a alimentação da população. Uma das perguntas – os dados são relativos ao questionário que foi respondido por cinco mil famílias de todas as regiões e classes sociais, entre janeiro e setembro de 2003 – se refere a que alimentos o brasileiro consome ou não (considerando-se os itens “frutas”, “vegetais”, “carne” e “carboidratos”). E ainda se faz uso diário desses produtos.
Outra categoria pesquisada será a dos medicamentos. Procurou-se saber dos entrevistados quantos remédios mantêm em casa, quais são e por quem foram prescritos. Como todas as demais perguntas, lembra Célia, esta também é baseada na percepção que o indivíduo tem de sua própria condição de saúde. “Todo o questionário é auto-avaliativo. É o próprio entrevistado quem nos informa sobre as condições de saúde em que vive”. Como muitos brasileiros têm o hábito de se automedicarem, os dados deste item deverão trazer informações bastante úteis e relevantes para ações de saúde pública. Para que os números sejam avaliados da maneira mais eficiente possível, Célia afirma que está buscando firmar parcerias com outras instituições públicas que atuam no setor. Recentemente, ao participar do 6º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em Olinda, a pesquisadora, além de apresentar o trabalho, fez contatos com outros pesquisadores visando esta finalidade. Em seguida os resultados serão divulgados no meio acadêmico internacional.
Entre os números que chamaram a atenção dos pesquisadores está o de que os brasileiros gastam em média 19% da renda com saúde e muitos acabam se endividando para pagar essa despesa; 14,4% dos cidadãos não têm mais nenhum dente natural; 10,1% são obesos; e 28,5% estão acima do peso. As principais queixas de saúde da população estão ligadas à saúde mental, como o estado de ânimo, problemas de sono, dificuldade de concentração e outras.
A pesquisa teve dez coordenadores regionais, que abrangeram 250 dos 216 mil setores censitários do Brasil, já que foi utilizada a divisão feita pelo IBGE. Apesar disso, o financiamento da OMS não permitiu que os dados fossem detalhados por estados – o que já levou algumas das unidades da Federação a manifestar interesse em organizar pesquisas locais. Esses coordenadores regionais comandaram uma rede de entrevistadores que antes de bater à porta das pessoas mandava uma carta solicitando autorização – a escolha foi aleatória. “Em geral tivemos mais resistências para entrar na casa dos mais ricos. Em certos bairros sofisticados de São Paulo, por exemplo, as barreiras de segurança são muitas, o que dificultou o trabalho. Já nos bairros mais pobres, em diversas ocasiões éramos muito bem-recebidos, com chá e bolo”, recorda Célia. No entanto, não houve problemas significativos ou que proporcionassem grandes dores de cabeça aos pesquisadores, que em média ficavam uma hora na casa das pessoas. A própria coordenadora da pesquisa participou de algumas visitas, nas quais a equipe, por motivos de identificação, percorreu o país levando mochila azul-marinho e boné com os símbolos da PMS.
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