Um hospital com alta tecnologia em uma oca na Amazônia. Um posto de saúde de atendimento avançado navegando nas águas do rio Tapajós. As ideias que parecem estranhas são realidade hoje, por conta da ação de quem se dispôs a levar a medicina para o interior do Brasil.
Essa experiência foi apresentada durante o congresso sobre Interiorização da Medicina no Brasil, realizado pela Associação Médica Brasileira, durante a Hospitalar. Com apresentações do Projeto Saúde e Alegria, localizado na região de Santarém (AM), e da organização Expedicionários da Saúde, que tem a missão de levar medicina avançada para as comunidades indígenas da região Norte do País, a discussão girou em torno do que torna possível levar atendimento médico a lugares tão remotos e com condições precárias de saúde.
“O Brasil não precisa de mais médicos, mas precisa ter uma melhor distribuição dos profissionais, e isso depende de ter uma discussão mais ampla sobre política pública e um debate mais amplo da sociedade. Mais do que recursos, é necessário ter uma política de desenvolvimento de saúde e condições adequadas para atrair o profissional médico”, pontua o presidente da AMB, José Luiz Gomes do Amaral, que acompanhou a última viagem realizada pelos Expedicionários da Saúde.
Um modelo de estruturação de atenção básica em saúde foi o desenvolvido pela ONG Saúde e Alegria. O projeto que começou pela ação dos médicos Eugenio Scanavarro e Fàbio Tozzi, e com o propósito social de melhorar o nível de saúde da população da região do rio Tapajós, conseguiu alcançar resultados importantes e hoje conta com o apoio dos governos municipais de saúde. “Conseguimos alcançar índices ainda maiores do que a média nacional em diversos aspectos, entre eles o de mortalidade infantil. E ainda conseguimos melhorar o nível de renda da população. Tudo isso por meio de ações de educação em saúde, dentro de uma política estruturada”, pontua o coordenador do Núcleo de Saúde Comunitária do Projeto Saúde e Alegria, Fábio Tozzi.
Médicos
Na opinião do presidente da AMB, o contato com a realidade do interior do país deveria fazer parte da formação médica. “Seria interessante que residentes pudessem, nem que por um período, atuar em regiões com realidades tão adversas. Isso mudaria a visão do profissional sobre a medicina”, opina.
Uma das alternativas do Saúde e Alegria para garantir a sustentabilidade do modelo de assistência é o tornar o Abaré, navegador da organização que leva atendimento básico de saúde para uma população de 30 mil pessoas, um barco-escola. “Seria uma forma de mantermos o custeio e ainda treinar profissionais”, complementa Tozzi.
Amaral ainda defende a ideia de atrair preceptores na formação, como docentes e livre docentes de universidades renomadas, para que esses atraiam e treinem os residentes. “Não há lugar para estudantes nessas áreas, é necessário um profissional com mais maturidade para compreender essa realidade”, destaca. “Com essa formação, certamente teríamos uma outra medicina nesse país”.
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