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Se você é um paciente, fuja de enfermarias onde há um médico diferente a cada dia

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A busca pelo equilíbrio nas transições de equipe é desafiadora

Duas confusões são frequentes na discussão sobre Medicina Hospitalista (MH). Uma é a interpretação errônea de que hospitalista é médico de Time de Resposta Rápida (TRR). A outra é sobre plantões.

A primeira já discutimos algumas vezes em outros artigos nesta coluna. O mais bizarro desta confusão é que justamente a pessoa que cunhou o termo hospitalista e é considerada a grande referência mundial desta área de atuação médica faz críticas fortes aos TRR’s.

A segunda confusão feita passa a ser o enfoque deste artigo.

Como os conteúdos em inglês sobre hospitalistas geralmente empregam as palavras “shift” e “schedule”, muitos que os leem percorrem um atalho cognitivo e inferem que é aceitável organizarem hospitalistas brasileiros em modelo com um médico diferente a cada dia, em “escala de plantão”.

Esta interpretação equivocada decorre de duas situações:

  1. Da confusão com TRR – e em TRR’s não há tanto problema em alocar um profissional diferente a cada dia em razão de objetivo primário distinto: é atendimento de intercorrências, não é coordenação do cuidado.
  2. Da não-observação atenta do significado de “shift” e “schedule” no modelo hospitalista por muitos considerado benchmarking internacional.

Apesar de existir hospitais norte-americanos com programas de MH organizados com um médico diferente a cada dia, essa é a realidade de hospitais ruins, de enfermarias pouco atentas à qualidade assistencial e à segurança do paciente.

Definitivamente NÃO é assim que atuam os hospitalistas de Wachter, na UCSF (cujo programa conheci in loco nos já distantes 2007), ou o hospitalista Aaron, em Denver, (cujo programa conheci em 2011); ou o hospitalista  Joe, em Boston (conheci em 2015); ou o hospitalista Matthew, em Chicago (2019); ou o hospitalista Efren, em Miami e da foto abaixo; ou qualquer outro hospitalista de destaque que já conheci.

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Acontece que “shift” e “schedule”, para eles, não significa um médico diferente a cada dia, muito pelo contrário. Costumam organizar-se em blocos, como se “rotinas em blocos”, que podem representar intervalos de 7 ou 14 dias (a depender dos tempos médios de permanência dos pacientes nas respectivas enfermarias). Dessa forma, os bons centros buscam, ao máximo possível, garantir continuidade no cuidado, e que durante o período diurno, cada paciente tenha o contato com o menor número de hospitalistas possível.

Em um mundo de fantasia, pensado apressadamente por quem leu e está atualizado sobre prevalência e relevante impacto de erros de transferência e de troca de informações nos hospitais, os pacientes ficariam sempre no mesmo lugar na organização, e seriam cuidados por um único médico e único enfermeiro. Mas este mundo é surreal: ignora ritmo circadiano e a importância do trabalho em equipe frente à complexidade da Medicina contemporânea, entre outras armadilhas. Qual profissional da saúde quer um mundo ou hospital assim?

Ao admitirmos que algumas transições são necessárias, seria razoável questionar o volume ideal dessas transições no cuidado à saúde. Por um lado, turnos demasiadamente longos de trabalho estão associados a erros por fadiga; por outro,  transições estão fortemente relacionadas a eventos adversos. É na busca de um equilíbrio que todos os bons programas de MH buscam “longitudinalidade” / atendimento continuado diuturnamente, deixando as transições para os entrelaces, como os turnos das noites, por exemplo.

Equilíbrio, em uma última instância, seria pautar o possível com o paciente no centro da discussão. Passa longe de pautar modelos de assistência médica nos hospitais onde as escalas de cobertura são confeccionadas com foco principal na conveniência de médicos, muitas vezes sem disposição para atuar na casa mais do que uma ou duas vezes por semana.

 

Materiais complementares:

Crítica ao cuidado baseado em plantões https://medicinahospitalar.blogspot.com/2012/08/passagens-de-plantao-handover-e-de-caso.html
Qual a melhor escala para distribuição de hospitalistas? https://www.saudebusiness.com/hospitais/qual-melhor-escala-para-distribuio-de-hospitalistas

Trabalho em equipe e comunicação no ambiente hospitalar: hospitalistas e outras ferramentas https://youtu.be/CY2LZoEP3Ec?si=EAAWhuKEyiOA1vcO