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Conheça a medicina hospitalar do BIDMC, da Harvard Medical School

Article-Conheça a medicina hospitalar do BIDMC, da Harvard Medical School

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Visitei recentemente mais um programa de Medicina Hospitalar (MH). Desta vez, foi do Beth Israel Deaconess Medical Center (BIDMC). Recebeu-me o diretor, Dr. Joseph Ming Wah Li (Joe). Tive o privilégio de conhecê-lo previamente em eventos da Society of Hospital Medicine. Quero dividir um pouco a experiência com os leitores de Saúde Business.

Saiba Mais:

Sobre Médico Hospitalista 

Foram dois dias de muita observação, conversas e troca de experiências. Começamos cedo no primeiro dia, já no

Joseph Ming Wah Li, diretor do programa de MH do BIDMC e ex-presidente da Society of Hospital Medicine Joseph Ming Wah Li, diretor do programa de MH do BIDMC e ex-presidente da Society of Hospital Medicine

aeroporto internacional de Boston, quando fui recebido por Joe. Encerramos, esta parte de minha viagem, jantando em Chinatown, oportunidade em que conheci sua adorável família.

Trata-se de um complexo hospitalar situado em Boston, e ligado à Harvard Medical School. No BIDMC, trabalham a tríade assistência, ensino e pesquisa como em poucas instituições no mundo. E implantaram um dos primeiros programas de MH dos EUA.

Com Joe como um dos cinco primeiros hospitalistas da região nordeste dos EUA, iniciaram no hospital da Harvard em 1998. Sob sua liderança, o programa de MH cresceu, contando atualmente com 45 profissionais posicionados no BIDMC, e outros 45 divididos entre três instituições parceiras menores. Na verdade, trata-se de um grupo único de 90 médicos generalistas, coordenados por Joe. Salvo alguns poucos que trabalham apenas no hospital de ensino, os clínicos alternam-se de maneira organizada entre os quatro hospitais, evitando, o máximo possível, variação de médico no acompanhamento de cada paciente durante uma hospitalização. Joseph Li e suas lideranças garantem padronização das rotinas e homogeneização das principais práticas nas organizações envolvidas. Foi desenvolvido, paulatinamente, um modelo que permite cobertura 24/7 - 24hrs por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano.

A iniciativa no hospital-escola não demorou muito para conquistar a Harvard Medical School. A maior disponibilidade do médico no hospital para os alunos da graduação e residentes de Medicina Interna, viabilizada pelo posicionamento a partir do novo modelo, logo mostrou-se capaz de revolucionar o ensino local. Joe foi responsável pelo primeiro curso de habilidades clínicas e não-clínicas para boas práticas em MH da Harvard Medical School, levando o assunto para dentro das grades curriculares.

O programa de MH do BIDMC começou com 3 contratados em 98 e, em 2005, já contava com 11 médicos, que responsabilizavam-se por cerca de 50% das admissões clínicas (a outra metade ficava por conta de internistas no modelo tradicional e subespecialistas clínicos). Atualmente, praticamente todas as subespecialidades clínicas já atuam como consultoras (com exceção de cardiologia e oncologia), mesmo que o encaminhamento para hospitalistas seja opção, não obrigação. Desta forma, generalistas responsabilizam-se, hoje, pela imensa maioria das internações clinicas. Além disto, alguns pacientes com problemas ortopédicos ficam com o programa de MH, enquanto necessitam internação hospitalar. Há um algoritmo usado para selecionar os complexos, como idosos com múltiplas comorbidades.

Joe apresentou-me vários de seus colegas (Alex, Marisa, Grace, entre outros). Pude conhecer o sistema informatizado local, algumas ferramentas de suporte à decisão clínica, a plataforma a partir da qual o infectologista interage com os hospitalistas e demais médicos para uso racional de antibióticos, e o painel de indicadores específicos usado para gerenciar o programa de MH.

Os pacientes no BIDMC têm a opção de acesso em tempo real a praticamente todo seu prontuário. Isto faz parte de uma iniciativa chamada OpenNotes.

Os médicos do grupo atuam exclusivamente nas enfermarias - em unidades geográficas, dentro do possível. Não mantêm acompanhamento na UTI e não vão até os pacientes enquanto ainda estão na Emergência. Percebi que a média de pacientes por time, para um dia de trabalho, é de aproximadamente 8-10. Alguns profissionais ficam responsáveis por duas equipes, quando acompanhados por médicos residentes, o que pode ou não ocorrer - não há residentes suficientes para cobrir toda demanda. A cobertura noturna, ocorre assim: na presença do médico em treinamento, o hospitalista que estava junto durante o dia é o recurso preferencial, à distância. Havendo necessidade, há um internista no hospital. Este profissional cobre as equipes sem residentes, e eventualmente ajuda in loco aqueles em treinamento durante à noite.

Os hospitalistas fazem alguns procedimentos como punção lombar e paracentese. Todas as punções venosas centrais no BIDMC são realizadas por um grupo de intensivistas altamente treinado. Quisesse Joseph Li, ele próprio, passar um acesso central, não poderia. Da mesma forma, há este tipo de restrição para cateterização venosa periférica. As enfermeiras que fazem compõem uma equipe específica. A premissa é: busque a perfeição através de um grupo menor e mais controlável.

Os clínicos são responsáveis ainda por uma equipe de consultoria para pacientes como da cirurgia, ou da gineco-obstetrícia, e alguns exercem atividades complementares como em cuidados paliativos ou bioética.

O aspecto que mais chamou-me atenção foi a capacidade de retenção dos profissionais no programa de MH... a atividade de hospitalista como carreira médica de fato. Há, na parede do gabinete do diretor Joseph Li, fotos do grupo de médicos ao longo dos anos, a partir de 1998 até recentemente. Facilmente percebe-se o crescimento, e que os rostos novos somam-se aos antigos, muito raramente os substituem. Escancara que a atividade generalista pode ser para uma vida toda, não apenas um bico pós-residência.