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Engajamento do paciente: um dos maiores desafios do setor

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Entender o paciente de uma forma mais ampla, se debruçar em dados e a proatividade pavimentam o caminho

O desafio do engajamento do paciente não é digital.  Conhecer o paciente enquanto humano - e não só um corpo humano, é o mapa do tesouro no engajamento do paciente. A tecnologia é ferramenta, um meio para isso, mas compreender a perspectiva holística do paciente é o necessário. Esse foi um dos pontos destacados no debate Engajamento do Paciente: um dos maiores desafios deste século. Como as plataformas de dados clínicos vão ajudar, realizado na manhã desta quarta-feira, 24, no congresso HIMSS@Hospitalar.

O desequilíbrio entre ciência, mercado e paciente torna difícil esse engajamento. “Uma proposta de valor bem feita tem que ter a ciência como norte, o mercado tem que comprar, e o paciente tem que engajar. São vértices que vão em sentido contrário. Se for a ciência, o paciente não engaja, e o mercado não compra. A gente como saúde precisa colocar o paciente no centro, e ninguém acha o equilíbrio”, provocou Daniel Greca, diretor de gerenciamento de saúde populacional do Hospital Sírio-Libanês.

Personalização da medicina, a exploração de dados e proatividade foram apontados como iniciativas que estão sendo tomadas para que esse engajamento aconteça, mas o resultado ainda parece frustrante.

“Hoje a personalização é essencial. As diretrizes clínicas são uma para todo mundo, mas cada paciente se relaciona com essa orientação de uma maneira. E é necessário compreender esse perfil por meio dos dados”, salientou Bruno Aragão, coordenador de médico de inovação do Fleury.

Dentre os exemplos trazidos pelo executivo, há uma estimativa entre os cardiologista que 36% da população brasileira tenha hipertensão. Desses, apenas 50% são diagnosticados; dos quais 40% são tratados, e apenas 10% realmente se engajam em melhorar os índices. “Mesmo no Fleury, a gente observa nos dados que apensa 30% dos pacientes diagnosticados com diabetes estão com os índices perto do ideal”, complementou.

A Amil é também trouxe exemplos que corroboram a baixa adesão dos pacientes ao cuidado. “Hoje eu tenho mais de 30 programas clínicos, em nenhum deles o engajamento é maior do que 30% dos pacientes”, pontuou Francis Fujii, diretor de gestão de saúde populacional da operadora.

Mesmo se valendo de uso de dados e proatividade, a adesão é baixa. Fujji trouxe um exemplo de uma ação preventiva em câncer de mama, com um grupo de mulheres de alto risco de desenvolver a doença que se inscreveram em um programa específico. A ação foi realizada em parceria com o Fleury e continha uma proatividade. Uma concierge do laboratório ligava para a paciente apontando uma data próxima disponível para a realização da mamografia em uma unidade próxima. E em casos positivos, os processos eram agilizados para que dentro do prazo máximo de cinco dias a paciente fosse encaminhada para tratamento. Das cerca de 2200 mulheres participantes, apenas 114 se engajaram na ação.

Perspectiva social e holística

Dentre os aprendizados compartilhados sobre o que funciona no engajamento, considerar o aspecto social passou a ser um fator determinante no alcance do êxito. Fujji compartilhou o resultado feito com outro parceiro numa população de 50 mil mulheres. Nessa campanha específica houve uma campanha de endormaketing nas empresas, em que as principais executivas compartilhavam a sua experiência na prevenção da doença. O resultado foi de 60% de engajamento. “As pessoas querem se sentir parte”, pontuou.

Considerar o conceito de saúde de uma forma mais ampla também se mostrou essencial para ampliar o o alcance do engajamento do paciente. “A gente tem deixado de olhar de forma holística para o paciente. Não é só o físico, tem o social, o espiritual e o mental. Tudo isso influencia no comportamento do paciente, e é necessário entender o que cada paciente precisa e como ele quer ser atendido”, apontou Patricia Andrello.  

Pensar a experiência como um todo também é necessário, assim como grandes marcas têm pensado na experiência de consumo das pessoas. “Precisamos traçar o perfil comportamental do uso dos serviços de saúde. Os profissionais mais valiosos da equipe multidisciplinar são os designers de experiência. Eles têm contribuído com a habilidade de separar os grupos, as jornadas, sem o viés só técnico. Com critérios não tradicionais, O mais difícil é como consolidar esse conhecimento, transformar em protocolos e fazer escalar?”, analisou Aragão.

Outro aspecto importante trazido foi o fato de o paciente não querer ser visto como doente, mas sim ter facilidades que o deixem ter uma qualidade de vida e uma rotina mais próxima do normal possível tendo que cuidar de uma doença crônica, por exemplo. “As soluções de tecnologia são inovadoras quando olham para a qualidade de vida da pessoa, e não o tratam como doente. Mas é preciso entender o que ele precisa”, afirmou Fujii.

Existe limite?

Nessa análise em colocar o paciente uma provocação foi feita: “não estamos mimando demais o paciente? Não deveria ter obrigações para ele?”.

“Eu penso que sim. O ser humano é muito maleável, e um pouco de pressão e bronca não faz mal a ninguém. Precisamos nos empoderarmos e cuidarmos da saúde”, pontuou Patrícia.

Mais uma vez será necessário olhar o que funciona para cada público, e repensar os modelos assistenciais com base em construção de valor, sem esquecer do aspecto da não sustentabilidade financeira do setor, e a regulação.