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Por que a digitalização na saúde ainda é tão difícil?

Article-Por que a digitalização na saúde ainda é tão difícil?

Líderes dos setores de informática e inovação médica discutiram os entraves para a transformação digital na saúde no palco do HIMSS@Hospitalar

“As plataformas de saúde suplementar e pública ainda têm enormes dificuldades de fazer o arroz com feijão”, discursou Guilherme Hummel, coordenador científico do HIMSS@Hospitalar na abertura do painel Porque na saúde ainda continuamos digitalizando o erro, o lento e o inútil. Para falar sobre essa questões e outras, se reuniram Victor Gadelha, Head de Inovação Médica da Dasa, Luis Gustavo Kiatake, presidente da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) e Jihan Zoghbi, presidente da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS).  

O 'arroz com feijão' a que Guilherme se refere é a digitalização de dados. “Os cadastros não são únicos e integrados, um erro comum dentro dos projetos de transformação digital. Mesmo em M&A, as bases continuam as mesmas. O PIX, por exemplo, é um exemplo de integração de base, algo que ainda não existe na saúde”, provocou.  

Por que o registro eletrônico ainda é um desafio na saúde? 

“As empresas estão pegando um modelo de lucratividade da área financeira e aplicando na saúde, e isso não funciona. Pulamos um muro, ao invés de construí-lo: estamos pensando na inovação, sem construir o básico. Como vamos transformar o atendimento, se ainda não temos conectividade?”, iniciou o debate a mestre em Ciência da Computação e presidente da ABCIS, Jihan Zoghbi.  

A especialista apontou que uma das causas dessa desestruturação é ainda a falta de união no setor.  “A inovação é uma responsabilidade social de todas as pessoas envolvidas. E como a gente faz isso, se estamos procurando culpados? Precisamos trabalhar em conjunto”. 

Já para Luis Gustavo Kiatake, da SBIS, o setor da saúde lida com dados que são mais complexos do que no sistema bancário, por exemplo. E para resolver esse intricado cenário deveria ter uma participação mais ativa do Governo. “O Estado tem um papel importante nisso. Deveríamos ter um plano de implementação das bases de longo prazo. Como isso acaba sendo superior ao tempo de governo, não é priorizado”. 

Para o executivo a desarticulação do setor citada por Jihan também prejudica a transformação digital. “Em relação aos bancos, eles possuem duas associações que são muito representativas e conseguem, junto com o Governo, fazer proposições. Na Saúde ainda nem conseguimos nos entender e nem cooperar. Quando não temos um setor que não consegue se impor, não é unificado, não é possível nem cobrar o Governo”, destacou Kiatake.  

O Head de Inovação Médica da Dasa, Victor Gadelha, acredita que boa parte da resolução deste problema possa vir do Google e da Apple. “Eles criaram um padrão para subir aplicativos nas lojas que acabou institucionalizando um processo. Isso pode ajudar na busca de um padrão de dados no sistema de saúde, beneficiando até mesmo o Open Health”, disse.  

Inspirado no “open banking”, que padronizou o compartilhamento de dados entre instituições financeiras, o “open health” seria um ambiente de troca de informações dos pacientes entre convênios, laboratórios e hospitais.  O projeto, que foi apresentado pelo Ministro Marcelo Queiroga em janeiro deste ano, funcionaria como uma espécie de carteira digital reunindo as informações e o histórico de saúde do paciente. Se bem implementado, lideranças acreditam que o sistema pode melhorar não só o acesso como a própria navegação do usuário pelos sistemas de saúde.  

Como nem tudo são flores, há muitos desafios pela frente como a segurança e a interoperabilidade dos dados, que é a capacidade de um sistema conversar com outro trocando informações de uma forma rápida e segura.  

Horizonte à vista  

Durante o debate, os palestrantes discursaram sobre possíveis caminhos para resolver a questão da transformação digital na saúde. Para Jihan, a educação ainda é a principal saída. “Hoje, um jovem que está cursando medicina, como meus filhos, ainda não sabe nem o que é prontuário eletrônico. Precisamos educar e levar conhecimento para os jovens e estudantes”, destacou. 

O líder da ABIS acredita que o processo deve envolver uma maior participação nos processos decisórios, ainda que o processo democrático, por mais correto que seja, é  custoso e penoso. “Precisamos formar lideranças, influenciar deputados e senadores. Precisamos nos mobilizar e financiar essa representação. É um esforço que gasta dinheiro, tempo e desgasta. Mas temos de fazer”, pontuo Kiatake.  

Hummel também lembrou que as grandes transformações não acontecem na calmaria, mas em meio ao caos, como o da pandemia. “Falávamos em telemedicina há mais de 20 anos e somente virou realidade em um contexto caótico de pandemia. Vejo o momento como oportunidade”, destacou.  

Por fim, Gadelha, que é médico de formação, destacou que a tecnologia de blockchain pode ser a tecnologia core para o problema. “Se a gente souber utilizá-la no timing correto, trará facilidade e transparência para auditoria. Basicamente é montado um sistema de autoregulação, tirando a necessidade de diversas pessoas e estâncias para regular. A tecnologia que consegue descentralizar é um caminho”, finalizou.  

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