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Sem dados, não há medicina baseada em valor: líderes da saúde discutem novos cenários

Article-Sem dados, não há medicina baseada em valor: líderes da saúde discutem novos cenários

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Painel do Fórum de Líderes do CBEXs abordou novos modelos de negócio e os desafios na saúde suplementar

No segundo dia da 27ª edição da Feira Hospitalar, lideranças se reuniram no Fórum de Líderes, promovido pelo Colégio Brasileiro de Executivos de Saúde(CBEXs), para discutir sinergias no mercado da saúde: quais são os impactos dos novos modelos de negócio e quais os desafios que temos pela frente na saúde suplementar? Para responder essas e outras questões, Sipriano Ferraz, secretário de Saúde do Estado do Pará, Leandro Reis Tavares, vice-presidente médico da Rede D’Or São Luiz, Vera Valente, diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e Luis Fernando Joaquim, líder do setor de Life Sciences & Heath Care da Deloitte, comandaram as discussões do painel.  

Não tem receita de bolo: o assunto é complexo e revela um intrincado cenário, num contexto extremamente desafiador como o do Brasil. “Cada vez mais temos de tomar decisões ultrarrápidas, muitas vezes em tempo recorde. Como executivos de saúde temos o compromisso de acertar, sempre. Estruturas cada vez mais adaptáveis são hoje uma premissa do setor pós-pandemia”, contou Sipriano Ferraz.  

Além do desafio da agilidade, a sustentabilidade emerge como um tópico urgente. “Os últimos anos foram intensos. Quando a gente fala de fusões e aquisições, os players mudaram muito nos últimos anos para dar vazão ao novo mercado. As organizações precisam entender isso, porque essa transformação é irreversível”, reforçou Luis Fernando, da Deloitte.  “Apenas 23% da população têm acesso a plano de saúde. Há um espaço enorme de crescimento. Entre 45 e 65 milhões de brasileiros possuem como segundo maior desejo ter acesso a saúde privada”, complementou.   

Representando as operadoras de saúde, Vera Valente, da FenaSaúde, apresentou que, hoje, um dos principais objetivos da federação é ampliar o acesso a saúde privada. “A nossa grande agenda é ampliar o acesso a saúde privada com sustentabilidade. Tivemos um crescimento de beneficiários durante a pandemia. Com o avanço da ampliação conseguimos também desonerar o SUS”, contou.  

Segundo dados da FenaSaúde, atuam nacionalmente 700 operadoras para mais de 49 milhões de brasileiros. A saúde suplementar movimenta 3% do PIB, o que corresponde a R$ 240 bilhões por ano. Deste montante, 86% são comprometidos com as despesas assistenciais, 13% com as administrativas e 1% como margem de lucro.  

Medicina baseada em valor precisa estar em debate 

Pensar em formas sustentáveis e mais acessíveis é um dos focos de trabalho da federação e da cadeia de saúde privada. De olho nisso, novos modelos de remuneração surgem como uma saída promissora para o setor. “O tradicional fee for service acaba sendo pernicioso estimulando o desperdício, já que quanto mais se usa, mais se ganha. A pandemia propiciou rever isso. A medicina baseada em valor que antes vivia no discurso, agora precisamos trazer para o debate”, destacou Vera. O value-based healthcare propõe modelos de remuneração baseados em resultados e desfechos clínicos. O assunto ainda engatinha no Brasil e esbarra em questões que dificultam sua implementação como o desafio de se ter dados consolidados e tratados em saúde. “Não dá para falar em desfecho clínico e medicina baseada em valor sem dados”, disse Vera.  

O assunto foi corroborado por Leandro Reis Tavares, da Rede D’Or São Luiz, que apontou outros desafios nacionais. “O modelo de pagamento é algo que se discute há muito tempo. No Brasil não identificamos as condições precedentes. A infraestrutura e escala, por exemplo, precisam estar presentes para avançarmos em outros modelos. Precisamos superar essa questão para termos eficiência do modelo de remuneração”, explicou.   

Custos em alta 

No Brasil, em 2021, as despesas assistenciais das operadoras aumentaram 24%, o que significa mais que o dobro do crescimento das receitas, que por sua vez tiveram um crescimento de 9,8%. Estima-se que cerca de 20% dos gastos totais em saúde sejam de desperdício, uso excessivo do sistema, falhas na coordenação dos cuidados, fraudes e abusos, entre outras questões. Além dessa questão, temos também a Covid longa. A OMS divulgou que há uma expectativa de que 10% a 20% dos infectados desenvolvam algum tipo de doença associada ao vírus. No Brasil, isso significa de 3 a 6 milhões de pessoas.  

Diante disso, os custos se elevam e há risco de saída de beneficiários da saúde suplementar e, consequentemente, a sobrecarga do SUS. “Temos o desafio do desperdício.  Se reduzimos custos, podemos ter mais planos acessíveis e para mais pessoas”, destacou a representante da FenaSaúde.  

Outro ponto trazido pela entidade foi o rigor nos critérios de incorporação de novas tecnologias e terapias. “A tecnologia em saúde sempre traz encarecimento: o público-alvo é muito pequeno, e há necessidade de recuperar o investimento em pouco tempo para a próxima tecnologia. É importante a sociedade entender a relação custo-efetividade”, disse.  

Diante disso fica a pergunta: qual a forma mais justa de discutir o que o sistema vai ou não pagar? A resposta não é fácil, mas há de se ter rigor na análise dos itens e, principalmente, a discussão de preços de incorporação. “Eu tenho discutido muito a questão de negociação com os fornecedores. Mais do que isso: temos de compartilhar o risco dessa decisão com o próprio dono da tecnologia. Isso não pode ficar só no bolso do cidadão e do sistema de saúde”, finalizou Vera.  

Feira Hospitalar acontece até 20 de maio em São Paulo  

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