De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um terço da população global convive com alguma doença que poderia se beneficiar de serviços de reabilitação física ou cognitiva. Nesse cenário, a busca por métodos de reabilitação mais eficazes, engajadores e com melhor custo-benefício tem levado instituições de saúde a explorarem abordagens inovadoras. 

A gameterapia emerge como uma das ferramentas mais promissoras, capaz de transformar a maneira como pacientes se recuperam de diversas condições. Para gestores hospitalares, entender o potencial e a aplicabilidade dessa técnica é crucial para oferecer um serviço diferenciado e de ponta. 

O que é a gameterapia? 

A gameterapia, em sua essência, utiliza jogos eletrônicos interativos como ferramenta terapêutica.

Fundamentada nos princípios da neuroplasticidade e do aprendizado motor, a técnica propõe um ambiente virtual lúdico e motivador, no qual os pacientes realizam movimentos e exercícios específicos, muitas vezes sem perceberem o esforço. 

Ao transformar a reabilitação em uma experiência mais dinâmica e envolvente, a gameterapia estimula a adesão ao tratamento e acelera a recuperação funcional

A técnica une o universo lúdico dos videogames aos benefícios da fisioterapia, proporcionando resultados notáveis aos pacientes, tirando o foco das suas limitações. 

Quais são as indicações clínicas para o tratamento? 

A versatilidade da gameterapia faz com que ela seja aplicável em vários tipos de condições clínicas: 

Recuperação de lesões

Auxilia na restauração da função motora após traumas, cirurgias ortopédicas e lesões esportivas, promovendo a amplitude de movimento e a coordenação.  

Fortalecimento muscular e reestruturação postural

Jogos que exigem movimentos específicos contribuem para o ganho de força muscular e a correção de desvios posturais de forma interativa. 

Disfunções ortopédicas e rigidez de movimentos

Pacientes com artrite, artrose ou outras condições que limitam a mobilidade podem se beneficiar de exercícios gamificados que incentivam o movimento suave e progressivo. 

Lesões cerebrais graves

A gameterapia tem se mostrado eficaz na reabilitação de pacientes pós-AVC (Acidente Vascular Cerebral) e TCE (Traumatismo Cranioencefálico), auxiliando na recuperação da marcha, do equilíbrio e da coordenação motora fina. Estudos indicam melhorias significativas na função motora e equilíbrio em pacientes com AVE crônico (Acidente Vascular Encefálico). 

Parkinson

Jogos que desafiam o equilíbrio, a agilidade e a coordenação podem ajudar a mitigar os sintomas motores da doença de Parkinson, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. 

A realidade virtual, um componente comum na gameterapia, pode promover maior interação das habilidades motoras e cognitivas simultaneamente, o que é exigido pela maioria das atividades de vida diária para pacientes com Parkinson, aponta pesquisa

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Autismo 

Em intervenções terapêuticas para o Transtorno do Espectro Autista (TEA), a gameterapia pode facilitar o desenvolvimento de habilidades motoras, sociais e cognitivas de maneira engajadora e adaptada às necessidades individuais. 

A gameterapia oferece uma abordagem inovadora e eficaz para crianças com TEA, promovendo não apenas o desenvolvimento psicomotor, mas facilitando a interação social e a inclusão.    

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Como a gameterapia é aplicada nos pacientes? 

A aplicação da gameterapia é relativamente simples e adaptável a diferentes contextos clínicos. Geralmente, o paciente é posicionado em frente a uma tela, seja em uma plataforma de equilíbrio ou diante de sensores de movimento

Esses sensores, muitas vezes colocados diretamente no corpo do paciente, captam informações precisas sobre seus movimentos. Tudo o que o paciente realiza é reproduzido em tempo real no ambiente virtual do jogo, permitindo que ele interaja com os desafios propostos. 

Essa interação é cuidadosamente monitorada e guiada por um profissional de saúde capacitado, que ajusta a dificuldade e os objetivos do jogo de acordo com a evolução do paciente. 

Quais são os benefícios da gameterapia? 

A adoção da gameterapia traz uma série de vantagens para os pacientes: 

Recuperação menos monótona 

Especialmente para idosos e crianças, a natureza lúdica dos jogos torna o processo de reabilitação mais agradável e motivador, aumentando a adesão e o engajamento. 

Diminuição de medicamentos analgésicos

Ao promover a movimentação controlada e o fortalecimento muscular, a gameterapia pode contribuir para a redução da dor crônica, diminuindo a necessidade de analgésicos. 

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Feedback do “exame” imediato

A interação com o jogo oferece um feedback visual e imediato sobre o desempenho do paciente, permitindo que ele compreenda seu progresso e ajuste seus movimentos de forma intuitiva. 

Menos risco a longo prazo

Ao acelerar a recuperação funcional e promover a autonomia do paciente, a gameterapia pode reduzir a dependência de cuidados contínuos e os riscos associados à imobilidade prolongada. 

Custos de tratamento reduzidos 

A recuperação mais rápida dos pacientes, impulsionada pela maior adesão e eficácia da gameterapia, pode levar a uma diminuição dos custos totais do tratamento a longo prazo. 

A gameterapia estimula áreas neuronais e articulares de modo inconsciente, de forma que os pacientes realizam os movimentos, mesmo que repetitivos, sem perceberem a prática em si, o que pode reduzir os custos finais do tratamento. 

Quais são os custos para aplicar a gameterapia nas clínicas e hospitais? 

É difícil determinar um valor exato para a implementação da gameterapia em instituições de saúde, pois os custos podem variar significativamente. No entanto, é possível fazer uma estimativa geral: 

  • Jogos: Cerca de R$ 100 a R$ 500 por jogo, dependendo da complexidade e da licença. 
  • Equipamentos: Cerca de R$ 500 a R$ 5.000 por equipamento, dependendo do tipo e da qualidade. 
  • Formação profissional: Cerca de R$ 1.000 a R$ 5.000 por curso ou formação. 
  • Infraestrutura: Cerca de R$ 5.000 a R$ 10.000 para a criação de um ambiente adequado. 

O futuro da gameterapia no Brasil 

O cenário da gameterapia no Brasil aponta para um futuro promissor, com uma tendência crescente de investimentos em softwares terapêuticos cada vez mais sofisticados. 

Espera-se que a integração com inteligência artificial traga melhorias significativas na precisão dos controles de movimento e na personalização dos jogos para cada tipo de indicação clínica. 

Além disso, a busca por experiências mais imersivas, através de realidade virtual e outras tecnologias, promete tornar a reabilitação ainda mais eficaz e engajadora. 

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