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O Ano do Ser Humano

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Muito se falou sobre a transformação digital relâmpago ocorrida no setor de saúde em 2020. De fato, nunca foram discutidas tantas iniciativas como naqueles seis meses caóticos, entre março e setembro desse ano. Foi muito bom ver a disrupção tirando o atraso e ganhando prioridade em um setor onde, via de regra, quem dá o tom - por motivos óbvios e justos! - é a operação. Isso não significa, porém, que tudo de interessante que passou pelos nossos feeds já tenha se concretizado na vida real: uma boa parte das discussões, prospecções, negociações etc ainda estão na boca do funil, como sempre acontece com inovação.

Existe porém uma lição pouco falada - e muito sentida - por todos nós pacientes que procuramos, quase ao mesmo tempo, atendimento de saúde nesse ano de 2020. Apesar de muito se falar sobre a exponencialidade do século XXI, o sistema de saúde mostrou, em pleno ano de 2020, que não é assim tão exponencial na hora que um tsunami de usuários invade a sua praia querendo utilizar os seus serviços. Muito diferente, por exemplo, de um Banco onde quase tudo se resolve de forma automatizada e autônoma, com milhões de clientes realizando dezenas de milhões de transações por dia, por hora e por minuto sem enfrentar nenhum tipo de gargalo estrutural. Isso porque um Banco trata de forma humana apenas a “exceção da exceção”, uma vez que até mesmo a exceção é prevista e portanto especificada e implementada nos sistemas operacionais. Na Saúde, não. Cada paciente é um caso. E cada caso é um caso. Ou seja, a exceção quase nunca é uma exceção. Via de regra a exceção é mesmo a regra. Logo a experiência toda tem um componente central que é artesanal e que não rima muito bem com esteiras de processamento em escala industrial. E isso de certa forma coloca uma nuvem de dúvida sobre a profundidade da badalada transformação digital ocorrida na Saúde esse ano. Parece óbvio que a Saúde nunca irá fluir como um Banco ou como uma empresa de delivery. E isso não é necessariamente ruim...Aliás, muito pelo contrário: como paciente nós achamos isso muito bom! . Isso porque um setor que passa por uma transformação digital bem sucedida tem, não apenas novas propostas de valor fluindo sobre sistemas orientados a dados, microserviços etc. Ele também precisa que exista do outro lado usuários capazes de agir de forma totalmente autônoma, assim como acontece com quem faz uma TED através de um aplicativo.

Só que, via de regra, um paciente não sabe direito o que está acontecendo com ele, não sabe qual especialista deve procurar, não lembra o nome do remédio que está tomando, não sabe direito quais são seus sintomas...muitas vezes nem sabemos se o plano é capaz de cobrir aquele atendimento. Bem diferente de alguém que tira o smartphone do bolso e pede um pizza... Essa limitação natural ficou patente nas linhas de frente dessa batalha horrível, onde vestíveis com sensores, labs on a chip, smart robots e letras mágicas como IoT, IA, ML e RA...na hora H viraram mesmo é um pedido de AJUDA.

Os colegas que ficaram por horas e horas a fio acalmando pacientes assustados em linhas telefônicas, whatsapp, beiras de leito e postos de coleta foram muito mais importantes do que a Transformação Digital tão enaltecida nesse ano de 2020. É para eles, portanto, e não para as tecnologias emergentes, que eu dedico o último artigo sobre inovação desse ano. Mais do que um ano de Transformação Digital, para mim 2020 foi mesmo o Ano do Ser Humano na Saúde. Foram as pessoas que salvaram o setor na hora que mais precisamos dele.

Sobre o Autor:
Istvan Camargo vem inovando na Saúde há mais de 10 anos. Atualmente é head do Skyhub, hub de inovação do Grupo Sabin, board member da Prontmed, membro de comitês de investimento de fundos de VC e mentor de startups no Supera Parque Tecnológico. Antes disso foi general manager da Benefits, Venture Builder do Grupo NotreDame Intermédica, membro do comitê científico da Health 2.0 Latam e fundador de uma healthcare social network com a qual realizou projetos inovadores para laboratórios farmacêuticos, centros de pesquisa e programas de apoio a pacientes. Istvan é articulista pioneiro de transformação digital na saúde, escrevendo desde 2011 para os principais blogues e portais do país e já realizou +30 palestras sobre o tema em conferências como Social Media Week, Campus Party e Health 2.0 LATAM. https://www.linkedin.com/in/istvancamargo/