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Big Data é pisar fundo no circuito da Saúde

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A história se repete. Sempre que uma expressão cai no gosto popular, o conceito por trás das palavras cai junto, despencando do campo puro das ideias para o asfalto raso dos debates apressados. E que às vezes tomam um tempo exagerado da gente, com discussões que nunca cruzam a linha de chegada.

Atualmente parece que qualquer profissional que trabalhe no setor da saúde obriga-se a teorizar sobre o tema Big Data, sem que tenha parado para pensar seriamente no assunto mais do que cinco minutos (se tanto) ao longo de toda sua carreira.

“- Ora, o assunto já foi capa da revista Veja. Seria vexatório não ter uma opinião formada sobre ele! – pensam em silêncio”.

Essa situação parece agravar-se quando o rótulo escolhido para definir uma realidade tão complexa, como é o caso do Big Data, acaba sendo por demais simplificado, como também é o caso do “Big Data”, o que tende a causar um efeito contrário, banalizando-se a própria essência da discussão.

“- Ora, Big Data, lembra Big Mac, que lembra Big Brother, que lembra Big...whatever! Sei lá”! Talvez se a tendência chamasse Economia Baseada em Múltiplas Bases Intercambiáveis, ou coisa parecida, enfim... talvez não fosse algo assim tão popular.

O fato é que resolvi escrever esse artigo para oferecer uma modesta - e bem particular - visão sobre o tema, a partir de uma série de impressões que venho colhendo aqui e acolá.

Na minha trajetória na Saúde, tem sido cada vez mais comum encontrar profissionais que estão há anos guiando o mesmo carro num circuito oval, olhando atenta e exclusivamente para o retrovisor, numa “infinita highway” que exige deles atenção máxima para não serem ultrapassados de surpresa por uma despesa turbinada e bombástica.

Bem, a tarefa é das mais cruciais em se tratando do nosso segmento. Mas o acúmulo de dados produzidos ao longo desse trajeto tenso e até meio hipnotizante não se caracteriza de forma nenhuma uma experiência real de Big Data, por mais que seus motoristas acreditem no contrário. Big Data não são caminhões que trafegam lentamente nessa estrada cheios de dados que nos mostram sempre o passado...

Num sentido mais amplo, quando falamos em Big Data na Saúde, estamos falando de algo mais inteligente e também arriscado. Trata-se de um trabalho mais parecido com o de um time de Fórmula 1 que precisa descobrir qual o melhor trajeto para atingir o objetivo final com a maior rapidez e o menor consumo possível de combustível.

A lógica é simples: apenas assim será possível que se trabalhe com maior previsibilidade e menor consumo de recursos, quer seja tempo, quer sejam pneus, quer seja o próprio asfalto (os patrocinadores agradecem)!

Claro, isso parece bem simples, mas é muito difícil. Para começar existem muitos circuitos e bastante diferentes entre si. Temos o circuito da diabetes, o circuito da hipertensão, o circuito da obesidade, o circuito da asma, enfim, circuitos os mais variados (e também combinados) entre si.

Ainda existem diferenças de motor e de chassi, de pneus e de combustível, de clima, de altitude...isso sem falar na diferença entre pilotos, que por sua vez também podem mudar de equipe na próxima temporada, colocando seu track record numa margem de erro que leva os engenheiros ao quase desespero....

Sim, isso vai mobilizar muita gente, muita tecnologia e custar muito dinheiro, além de levar algum tempo para que se crie uma massa crítica de conhecimento confiável. Mas é assim ou assim...não dá para fazer Fórmula 1 em cima de charretes que só nos mostram o que surge no espelho retrovisor!

Obviamente é preciso saber combinar os dados que vem dos testes, das pistas e também dos pilotos. Afinal de contas para cada circuito-doença existem seus respetivos registros de provedores, pagadores, pacientes e – até mesmo – pesquisadores.

Mas veja bem, apenas isso não fará um time campeão. Com base em todo conhecimento consolidado será necessário que se saiba projetar, que se consiga fazer ajustes importantes no motor, na suspensão e no câmbio, bem como se defina uma melhor estratégia para trocas de pneus e abastecimento...

Isso sem falar nele: o paciente-piloto que sempre pode derrapar, rodar, bater, morrer... Isso é muito diferente do nosso repetitivo circuito oval lá de cima, com seus caminhões que carregam dados (nas formas de contas médicas, SADT, medicamentos etc) e guiados de olho fixo no retrovisor (ah sim...temos ainda a Agência vigiando atenta nos pedágios).

Mas o que se busca atingir é a capacidade de ter – para cada doença – seu respectivo circuito de tratamento no sistema: os melhores trajetos para o diagnóstico e tratamento, com as melhores utilizações de recursos, e que possam servir de traçado na pista para que futuros pacientes possam seguir sua jornada de forma mais rápida e segura possível.

Sim, essa pegada de pneus deve estar marcada na pista, à frente do carro de cada patologia, para facilitar sua tração - e não existir apenas como um rastro de contas atrás dele.

Do contrário, meus amigos, não estamos fazendo Big Data em Saúde.

Até a próxima semana!