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3 fatores que impulsionam a migração de casos do hospital geral para o hospital dia

Article-3 fatores que impulsionam a migração de casos do hospital geral para o hospital dia

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Compreende-se o conceito de cirurgia ambulatorial como todo tipo de procedimento cirúrgico no qual o paciente recebe alta em até 24 horas da realização do caso. São realizados em unidades hospitalares ambulatoriais, também conhecidas como Hospital Dia. Do outro lado, estão as cirurgias de internação, realizadas em hospitais gerais, compreendidas por todos os casos onde há necessidade de o paciente permanecer internado por mais de um dia no hospital após a cirurgia.

Os avanços científicos e da medicina permitiram a criação do conceito de grande cirurgia ambulatorial, ou de cirurgia ambulatorial de recuperação estendida, que permite um curto período de internação, geralmente de uma noite, a fim de maximizar os cuidados com os pacientes e oferecer maior segurança, permitindo uma evolução mais controlada até a alta, em geral, no dia seguinte.

Segundo a IAAS (International Association for Ambulatory Surgery), três principais fatores têm impulsionando o aumento da cirurgia ambulatorial no mundo: 

1. Mudanças na prática médica e fluxos assistenciais

O tempo de permanência após a cirurgia tem diminuído constantemente na última década e isso foi acelerado com programas de recuperação aprimorados, que incentivam a mobilidade precoce e protocolos de segurança. Isso privilegia a recuperação do paciente em seus lares, longe do ambiente hospitalar convencional.

O médico Dr. Girish Joshi, do departamento de anestesiologia e tratamento da dor da Universidade do Texas, explica que o modelo de fluxo rápido (fast-track), cria uma mudança de paradigma nos cuidados pós-anestésicos. Embora um dos principais aceleradores deste modelo tenha sido a redução de custos, o modelo fast-track trouxe inúmeros benefícios, incluindo eficiência, conforto e redução de riscos ao paciente. Neste modelo, o objetivo final é eliminar aspectos desnecessários de cuidados, reduzir o tempo de internação e melhorar a qualidade do atendimento e satisfação do paciente e seus familiares.

2. Avanços nas técnicas cirúrgicas e anestésicas

Os avanços relacionados aos dispositivos médicos, incluindo a vídeo-cirurgia, cirurgia robótica, laser, nanotecnologia, microcirurgia e afins, permitiram o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas menos invasivas, com menores incisões, redução da perda de sangue, dor pós-operatória e uma readequação do ciclo de cuidados com o paciente. Novos medicamentos e técnicas anestésicas também têm um papel fundamental nestes avanços. De acordo com Dra. Corinne Vons, presidente da Associação Francesa de Cirurgia Ambulatorial: “A cirurgia ambulatorial é exigente, levando cirurgiões, anestesistas e todos os profissionais de saúde a controlar melhor o manejo dos pacientes, a fim de melhorar a qualidade e a segurança dos cuidados.”

Atualmente, um número cada vez maior de procedimentos é adequado para realização em ambiente ambulatorial. Também se tornou possível oferecer cirurgias ambulatoriais para pacientes que antes eram considerados inadequados, devido a várias comorbidades. Muitos hospitais estão agora adotando a cirurgia ambulatorial como uma opção padrão para suas cirurgias. Ao invés de o cirurgião perguntar "Este paciente é adequado para cirurgia ambulatorial?”, eles agora passam a se perguntar: "Existe alguma justificativa para admitir este caso como paciente em regime de internação, em um hospital geral?”. 

3. Necessidade de controlar os custos e a escalada de internações, relacionadas ao envelhecimento da população

A combinação da eficiência e menor custo, oferecida pelas unidades cirúrgicas ambulatoriais, apresentam atratividade para médicos, pacientes, governo e setor privado, potencializando o processo de desospitalização, permitindo a realização de uma grande gama de procedimentos cirúrgicos, maximizando a capacidade de entrega dos sistemas de saúde.

Esta correlação custo-efetividade já foi objeto de extensivos estudos ao redor do mundo, evidenciando, sob diferentes perspectivas e nos mais variados tipos de procedimentos, a excelente combinação de eficiência e menor custo dos procedimentos realizados em regime ambulatorial.

No Brasil, a cirurgia ambulatorial será um componente central dos cuidados com a saúde no futuro. O envelhecimento da população resultará em um crescimento significativo na demanda por serviços cirúrgicos e os sistemas de saúde deverão estar preparados para desenvolver estratégias de gerenciamento desta demanda aumentada, sem sacrificar a qualidade.

A realização de casos elegíveis em regime ambulatorial é vantajosa para todo o ecossistema da saúde. A capacidade de tratar mais pacientes cirúrgicos com menos leitos, significa mais um ponto vantajoso na relação custo-benefício da cirurgia ambulatorial, colocando este tema no topo da agenda política e econômica no setor da saúde no Brasil.

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Fabricio Galvão é membro fundador e diretor de mercado da Sociedade Brasileira de Cirurgia Ambulatorial (SOBRACAM), delegado brasileiro da International Association for Ambulatory Surgery (IAAS), empresário e investidor na área da saúde.

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Referências:

IAAS - Internation Association for Ambulatory Surgery -  https://www.iaas-med.com/

SOBRACAM – Sociedade Brasileira de Cirurgia Ambulatorial – https://www.sobracam.com.br/

Joshi, GP, and RS Twersky. “Fast tracking in ambulatory surgery.” Ambulatory surgery vol. 8,4 (2000)

Vons, Corinne. “Chirurgie ambulatoire : évolution des techniques et de la prise en charge chirurgicale. Vers une chirurgie d'excellence” [Ambulatory surgery: an evolution of both the surgical technics and the way of care. To excellence in surgery]. Presse medicale. vol. 43,3 (2014)