Durante o ABCIS Summit, realizado na Feira Hospitalar, o painel “Perspectiva CEO – Tecnologia: afinal, custo ou investimento?” reuniu três CEOs de grandes instituições de saúde para discutir um tema cada vez mais debatido no setor: o investimento em tecnologia.
Na primeira sessão, José Marcelo de Oliveira, CEO do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, trouxe uma visão franca e realista sobre os desafios da transformação digital no setor hospitalar. A resposta à pergunta provocativa do painel foi direta: “depende”. Segundo ele, tudo está condicionado a um fator central: o alinhamento estratégico da tecnologia com os objetivos da instituição.
“Se a tecnologia não estiver conectada à estratégia da instituição, ela será apenas custo”, afirmou. Com mais de quatro anos à frente do Oswaldo Cruz e experiências anteriores em outras grandes organizações de saúde, como o Hospital Sírio-Libanês e o Grupo Fleury, José Marcelo observa que esse equilíbrio entre custo e estratégia é o principal fator que transforma decisões tecnológicas em investimentos com retorno real.

Abaixo, confira as reflexões mais críticas do CEO do Oswaldo Cruz sobre o assunto.
Diagnóstico estratégico: do legado ao futuro
Ao assumir o Oswaldo Cruz, José Marcelo conta ter iniciado um processo rigoroso de diagnóstico para compreender o ponto de partida tecnológico da instituição. A constatação foi dura: havia uma carga elevada de legados tecnológicos que consumiam orçamento e energia operacional. A saída foi construir um planejamento de três a cinco anos, com foco em reverter essa lógica.
“A gente começou incluindo uma parcela estratégica no orçamento a cada ano. E hoje já conseguimos ter uma visão mais estruturada de médio e longo prazo”, explicou. Nesse planejamento, o hospital adotou uma abordagem integrada, envolvendo tecnologia da informação, engenharia clínica e infraestrutura — três frentes que, segundo ele, precisam andar juntas para evitar investimentos fragmentados e ineficientes.
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Governança e cultura estratégica
Um dos maiores desafios, apontou o executivo, é fazer com que as equipes operacionais também compartilhem da visão estratégica. “O dia a dia empurra para soluções imediatistas. Mas precisamos fazer escolhas conscientes sobre o futuro”, disse. Para isso, o Oswaldo Cruz criou um modelo de governança com rituais de decisão bimestrais, nos quais o comitê executivo avalia, prioriza e alinha projetos.
Esse processo também fortaleceu o relacionamento com fornecedores. “Quando os parceiros entendem a nossa realidade e estratégia, conseguimos reduzir atritos e aumentar a eficiência dos investimentos”, pontuou. Ele também ressaltou a importância de que os fornecedores reconheçam as particularidades do setor hospitalar: “não somos o mercado bancário ou o varejo digital”, enfatizou.
Segurança cibernética como prioridade
Entre os temas relevantes, a cibersegurança ganhou protagonismo desde o início de sua gestão. “A evolução da segurança digital é uma avenida protegida para nós. Implantamos um novo SOC e um grupo de controle dedicado à TI”, afirmou, mencionando os riscos crescentes enfrentados pelo setor de saúde diante de ataques cibernéticos.
Inovação com consciência de risco
Sobre inovação, o CEO reforçou que a tecnologia pode viabilizar mudanças, mas não é sinônimo de inovação. “A inovação também passa por processos, talentos e novas capacidades organizacionais”, disse. Segundo ele, o hospital adota uma postura prudente na adoção de novas soluções: prefere implementar ferramentas e equipamentos que já tenham sido testados e adaptados por outros parceiros do setor.
“Cada nova tecnologia traz atritos, riscos e pode abrir vulnerabilidades. Por isso, é preciso ter disciplina e não deixar que a agenda tecnológica seja tomada por promessas milagrosas”, alertou.
Produtividade como imperativo
Por fim, o CEO apontou que a produtividade é o novo nome do jogo na saúde suplementar, especialmente para hospitais independentes como o Oswaldo Cruz. Com crescimento zero no número de vidas cobertas e margens pressionadas, as instituições precisam buscar eficiência e escala de forma inteligente — e a tecnologia, quando bem integrada à estratégia, pode ser a chave para isso.
“Tem muita gente encantada com a ideia de que basta um novo sistema ou robô para resolver os problemas. Mas tecnologia sem propósito não entrega valor”, concluiu.
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