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Saúde mental em estado de alerta: um retrato preocupante da realidade médica no Brasil

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Artigo destaca a importância do autocuidado na medicina, enfatizando a necessidade de apoiar a saúde mental. Confira!

Em abril é celebrado o Mês Mundial da Saúde, direito inerente a todos os seres humanos. Em 2024, a Organização Pan-Americana de Saúde estabeleceu como tema “Minha saúde, meu direito” e nos convida a refletir sobre a importância de garantir o acesso universal à saúde física e mental para todos, inclusive para aqueles que dedicam suas vidas a cuidar dos outros: os médicos.

Milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam diversas ameaças ao seu direito à saúde. Os profissionais de saúde que tem como responsabilidade zelar pela saúde do outro, estão no grupo que está em constante pressão e que tem afetados, principalmente, a saúde mental. A última pesquisa Panorama da Saúde Mental, estudo do Research Center da Afya, revelou um cenário preocupante: 7 em cada 10 médicos no Brasil já apresentaram sinais de depressão. A ansiedade e o Burnout, forma de definir esgotamento físico e mental, também assombram essa categoria, com 47% e 62% dos profissionais relatando sintomas, respectivamente.

Um dado ainda mais preocupante revela que metade dos entrevistados enfrenta a realidade da depressão: 26,8% convivem com o diagnóstico atualmente, enquanto 23,4% sofrem com sintomas não tratados. Muitos médicos evitam buscar ajuda devido à falta de tempo, motivação ou receio do impacto em suas carreiras, ignorando os sintomas dessa doença psiquiátrica crônica e debilitante.

Importante dizer que alguns fatores são determinantes para a baixa qualidade de vida do profissional de medicina. A carga de trabalho excessiva, por exemplo, com média de 52,5 horas semanais, impacta a vida do especialista - 24% dos profissionais, inclusive, indicam uma jornada de trabalho que ultrapassa as 60 horas semanais. Com a rotina exaustiva, o resultado é um impacto negativo no bem-estar mental dos médicos, que vivem privados de hábitos saudáveis, como sono adequado, prática de exercícios e até mesmo lazer em meio aos desafios constantes da profissão.

É imperativo que os médicos, responsáveis por cuidar da saúde dos outros, também recebam o apoio necessário para preservar sua própria saúde mental. Precisamos pensar nas dimensões emocionais e psicológicas da medicina, reconhecendo que a responsabilidade em lidar com a vida pode gerar grande estresse e ansiedade.

Urge, ainda, a necessidade de ações que ofereçam suporte para que esses profissionais tenham uma melhora na qualidade de vida.  Medidas institucionais como controle da jornada de trabalho, equilíbrio de remuneração, capacitação profissional, construção de redes de apoio e suporte são essenciais para proteger a saúde mental dos médicos.

Além disso, é fundamental abrir espaço para que esses profissionais expressem suas dificuldades e busquem ajuda e que as instituições de saúde ofereçam programas de apoio psicológico, atividades físicas e de lazer, além de garantir condições de trabalho adequadas.

Enxergo também como movimento crucial desmistificar a ideia de que os médicos são "super-heróis" imunes a problemas psicológicos e promover uma cultura de apoio mútuo e cuidado dentro da comunidade médica.

Cuidar de quem cuida da nossa saúde é uma responsabilidade coletiva, e o compromisso com a saúde mental desses profissionais é fundamental para garantir a qualidade da assistência médica à população.

Victor Miranda - Afya.jpeg*Victor Miranda é Médico do Exercício e do Esporte, Fundador do Além da Medicina e Mentor do Meu Consultório Particular, soluções para prática médica da Afya.