Na era do Big Data, inúmeras ferramentas têm surgido para coletar dados e organizá-los de forma útil. De softwares de gestão mais sofisticados a aplicativos de celular, a ideia principal é compartilhar dados entre os stakeholders e tornar a entrega dos serviços de saúde mais eficiente.
Durante a Health 2.0 Europe, que ocorreu no mês passado em Barcelona, tive a oportunidade de conhecer David Bruinvels, co-fundador e diretor médico da Px Healthcare. Na conferência, a empresa estava divulgando o OWise, um aplicativo que busca não só empoderar pacientes com câncer, oferecendo informações e a possibilidade de gravar áudios das consultas, mas também compartilhar de forma inteligente dados que podem ser preciosos para profissionais de saúde e para a indústria farmacêutica.
Diferentemente de outras empresas, a Px Healthcare possui motivação social. Segundo David, mesmo que no futuro algo ocorra com a empresa, todos os dados obtidos com o app continuarão a salvo e sob anonimato, já que as informações estão vinculadas a uma Public Benefit Foundation.
Outro diferencial do aplicativo são as evidências de experiências positivas. Em estudo realizado pelo University Medical Center Utrecht e recentemente publicado no JMIR Cancer, 15 pacientes usaram o recurso de gravar áudios de consultas e 14 deles acharam-no útil. Entre os profissionais da saúde, 9 de 10 acharam as gravações úteis para os pacientes e além disso, recomendariam o aplicativo. Embora a pesquisa tenha envolvido poucos pacientes, há a intenção de se conduzir estudos maiores futuramente.
Para entender um pouco mais do que está por trás do OWise, entrevistei David, que gentilmente fez questão de vir ao Leiden University Medical Center, onde estudo, para a nossa conversa.
José Eduardo: Qual foi a inspiração para desenvolver o aplicativo? David:
José Eduardo: Um dos principais objetivos do aplicativo é oferecer uma visão geral sobre as opções de cuidado para os pacientes? David:
José Eduardo: Como o OWise segue as novidades da literatura científica? David:
Envolver-se no desenvolvimento de guidelines também é uma possibilidade. Porém, isso toma bastante tempo. Dessa forma, nós provavelmente entraríamos em contato com pessoas conhecidas do grupo que produz as guidelines e regularmente perguntaríamos sobre novidades para tentar antecipar algumas informações. Se a evidência for adequada e as mudanças tornarem-se oficiais, nós podemos inseri-las no aplicativo.
Além disso, algumas vezes nós usamos senso comum também. Agendia, uma empresa holandesa, desenvolveu o MammaPrint®, que atualmente é parte das guidelines holandesas. Nesse caso, nós não esperamos pela guideline e colocamos no app há três anos porque sabíamos da grande chance desse recurso ser incluído. Naquela época, nós não fazíamos a recomendação do uso, mas dizíamos que era uma opção, mostrando a eficácia e como obter o recurso.
Novamente, o aplicativo é na maior parte das vezes baseado em guidelines, mas às vezes nós apontaremos, de forma responsável, novos campos interessantes em que provavelmente evidências irão surgir e serão inclusas nas guidelines em alguns anos.
José Eduardo: Como o aplicativo pode ajudar profissionais da saúde? David:
O aplicativo também oferece aos pacientes a opção de gravar áudios de consultas, que deve ser usada apenas com permissão explícita do médico(a)/enfermeiro(a). Em um primeiro momento, nós não tínhamos certeza se os profissionais gostariam da ideia. No entanto, pela nossa experiência e considerando a pesquisa feita pela Utrecht University, eles realmente gostaram disso. Como as conversas são protegidas e ninguém pode torná-las públicas, o recurso é seguro para os profissionais.
José Eduardo: Quais são as outras utilidades do app? David:
Como os pacientes são anônimos no aplicativo, não nós sabemos quem eles são, porém sabemos muito sobre eles. Nós podemos agrupá-los e obter grupos específicos de pessoas, sendo possível analisá-los e fazer previsões, como o porquê de alguns deles pararem o tratamento e outros terminarem normalmente. Baseados nisso, podemos procurar por alguma solução que previna pacientes de parar o tratamento antes do fim.
O interessante sobre tudo isso é que todos estão tendo vantagens com esse tipo de pesquisa que fazemos: pacientes terão benefícios; médicos terão benefícios com pacientes mais felizes e vivendo por mais tempo; hospitais estarão felizes com melhores taxas de sobrevivência e bem, a indústria farmacêutica ficará feliz com pacientes usando medicamentos por mais tempo.
José Eduardo: Basicamente, o maior impacto do aplicativo tem a ver com o compartilhamento desses dados?David: É justamente nessa parte que podemos fazer impacto. Não somos só outro app de decisão compartilhada ou para pacientes: somos a única empresa usando o aplicativo também para que pacientes oncológicos se beneficiem dele como um grupo. Na perspectiva desses pacientes, nós estamos principalmente interessados no longo prazo. Se você nos perguntar, em termos de receita, quanto geramos nessa fase inicial de start-up, eu direi que não geramos ainda, e estamos felizes com isso porque é algo que não está no nosso caminho ainda. No momento, nós recebemos financiamentos europeus e prêmios de pitches/competições. No entanto, no futuro nós planejamos gerar receitas pela venda de insights para partes comerciais, a fim de melhorar o aplicativo e mantê-lo atualizado. Nosso objetivo é tornar-se a principal plataforma digital para coleta de PRO e melhoria da experiência do paciente.
José Eduardo: Vocês planejam incluir mais tipos de cânceres e outros idiomas no aplicativo? David:
Com relação aos idiomas, nós agora temos a versão holandesa e a do Reino Unido. Como nós já temos uma versão em inglês, nós primeiro planejamos desenvolver uma versão para os Estados Unidos. Em segundo, com a ajuda de um financiamento Phase I pelo Horizon2020, nós vamos desenvolver uma estratégia de marketing para outros países europeus e línguas. Primeiramente, selecionaremos os 10 mais promissores, considerando legislação, qualidade dos cuidados de saúde e infraestrutura para usar o aplicativo. Mais tarde, uma análise de mercado mais profunda será feita, e a partir disso determinaremos os 5 melhores países e incluiremos a linguagem destes.