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Centros-dia surgem como alternativa a casas de repouso

Article-Centros-dia surgem como alternativa a casas de repouso

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Nesta coluna, sempre trago os desafios que o envelhecimento da população coloca, procurando relacionar com as oportunidades que isso gera para empreendedores.  A questão da atenção e o cuidado que dispomos para os idosos fragilizados é um tópico frequente nesse sentido. O conceito de fragilidade é multidimensional, o que significa que sua definição considera variáveis não estritamente clínicas, como o suporte social do qual dispõe o idoso. Dada a diminuição e a mudança de configuração das famílias,  a questão da moradia e de onde o idoso passa seu tempo se torna um ponto relevante nesta discussão.

Observando a oferta do mercado, a terapeuta ocupacional Vanessa Idargo Mutchnik afirma que o Brasil hoje reúne uma quantidade expressiva de casas de repouso. Mas há poucos centros-dias, modelo de acolhimento para idosos fragilizados bastante comum em países europeus. Ao constatar isso, Vanessa, mestre em Gerontologia pela PUC-SP, pesquisadora de tecnologias assistivas e estudiosa dos modelos existentes de moradias para idosos, resolveu acrescentar mais um qualificador à sua carreira: empreendedora.

Nesta entrevista ela explica um pouco a diferença entre os equipamentos existentes para receber idosos e alerta para a expansão de mais alternativas para atender a esse público, além de falar sobre o centro-dia Pasargada, seu empreendimento, aberto recentemente no bairro da Aclimação:

  • Pergunta: No cenário do envelhecimento populacional, o que seria mais urgente hoje para atender bem aos idosos?
  • Resposta: Há muitas questões importantes, mas, sem dúvida, é fundamental pensarmos de que forma esses idosos podem ser acolhidos. Hoje, apenas na cidade de São Paulo há mais de 1 milhão de pessoas acima dos 60 anos de idade. Desse total, cerca de 400 mil apresentam déficits funcionais relacionados às atividades da vida diária . Estes déficits podem gerar  dependência, o que,  muitas vezes, é o detonador de um processo de isolamento social. A pessoa tem dificuldade para andar, por exemplo, e não sai de casa. Outras não ouvem bem ou estão com algum comprometimento cognitivo. Indivíduos fragilizados e com alguma dependência precisam receber atenção e estímulos adequados,  o que nem sempre as famílias têm condições de oferecer em casa.

  • Pergunta: Para os que têm saúde e disposição, há muitas opções, como centro de convivência, certo? Mas e o que não estão bem, para onde devem recorrer?
  • Resposta: Sim, para os idosos que não estão fragilizados , estão dispostos, existe a opção de frequentar qualquer lugar. Há muitos centros de convivência, para realização de atividades físicas, oficinas, aulas. Mas, para as pessoas com algum grau de dependência, faltam lugares adequados. O que vemos atualmente  é uma grande quantidade de casas de repouso, mas essa não pode ser a única solução.

  • Pergunta: O centro-dia seria um lugar para esses idosos fragilizados?
  • Resposta: Sim. O local devem ter por objetivo melhorar a qualidade de vida das pessoas, possibilitando, fundamentalmente, a reconstrução de seus vínculos com a família e a comunidade. As atividades desenvolvidas num centro-dia devem ter por meta garantir mais autonomia ao indivíduo fragilizado, proporcionando também que ele consiga se relacionar melhor com quem está ao seu redor.

  • Pergunta: Você criou o Pasárgada, para atender a essa necessidade. Poderia falar um pouco sobre o modelo do seu negócio?
  • Resposta: O Pasárgada é um empreendimento social, pois queremos com nossa proposta mudar a cultura de apoio ao idoso fragilizado. Atualmente, no Brasil, a cultura do cuidado gira em torno do modelo de casas de repouso, mas os idosos que precisam de atenção e querem continuar morando em suas casas, com apoio e convívio familiar, precisam ter uma alternativa. Estamos criando um modelo de trabalho que tenha qualidade e possa ser desenvolvido em rede com outros centros-dias, compartilhando experiências, saberes e mão de obra. Acho que esse é um diferencial importante do Pasárgada.
  • Pergunta: Você poderia explicar a diferença entre as diversas estruturas de atendimento que existem hoje para o público idoso?
  • Resposta: Existem as casas de repouso,  que precisam avançar para um modelo de moradia coletiva de fato; existem os residenciais; os  centros de convivência e os centros-dia. Nesses últimos, o atendimento é realizado com grupos menores, desenvolvendo projetos individuais. Há idosos com todos os níveis de dependência frequentando centros-dias (a única exceção são aqueles que estão acamados).
  • Pergunta: Você acha que todos os serviços são necessários?
  • Resposta: Sim, porque há interesses e necessidades diversos e é preciso respeitar a individualidade de cada um. O importante é que todos os serviços existam com qualidade, respeitando a autonomia dos idosos e não excluindo as pessoas por nível de dependências, como ocorre, mas encaminhando as pessoas a serviços mais adequados a suas demandas.
  • Pergunta: Você poderia falar um pouco sobre o investimento feito até agora no Pasárgada?
  • Resposta:  Alugamos, em janeiro deste ano, uma casa térrea no bairro da Aclimação, região central de São Paulo, em frente ao parque, porque assim aproveitamos a estrutura da região em que estamos. Essa é também a ideia do centro-dia, que o idoso possa interagir com seu entorno. Os custos mais altos são com mão de obra especializada, mas isso pode ser diluído se for dividido com uma rede de serviços, como planejamos. Dessa forma, é possível ter bons profissionais, bem remunerados, e oferecermos um serviço de qualidade. No nosso caso, com sete idosos frequentando o centro-dia diariamente, o investimento já dará retorno.

  • Pergunta: O que você diria para alguém que pensa em abrir um centro-dia?
  • Resposta: Eu dou o maior incentivo, pois há uma carência enorme desse equipamento. Há muito por fazer ainda no Brasil em prol de um envelhecimento digno, e, quanto mais pessoas se comprometerem com a causa, melhor será para todos. Também convido essas pessoas a virem conversar conosco e conhecer o nosso modelo de trabalho em rede. Sem dúvida, é uma proposta que colabora para o desenvolvimento de todos: empreendedores, funcionários, colaboradores e, obviamente, dos idosos.

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