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Desafios da Saúde Pública e Privada no Estado de São Paulo (Debates GVSaúde)

Article-Desafios da Saúde Pública e Privada no Estado de São Paulo (Debates GVSaúde)

Ontem estivemos presentes no Debate GVSaúde, organizado pela Profa. Ana Maria Malik. O tema foi “Desafios da Saúde Pública e Privada no Estado de São Paulo”, e os palestrantes convidados foram o Dr. Renilson Rehem, consultor da CONASS, OPAS, BID e Banco Mundial e o Dr. Sérgio Ricardo Rodrigues de Almeida Santos, Diretor Técnico-Assistencial da Rede de Serviços Próprios da Amil, moderados pela Prof. Álvaro Escrivão Junior.

O evento foi aberto pela palestra do Dr Renilson, que citou os 5 principais desafios na gestão de saúde pública, que listamos abaixo, bem como as opiniões dele.

Desafio 1 – Descentralização

Na opinião do Dr. Renilson, o processo de descentralização da saúde construiu a universalidade, mas dificultou a integralidade. Os municipios passaram a se envolver com a questão da saúde, pois antes do SUS, “saúde nao era um negócio municipal”. Algumas cidades tinham unidades de saúde, mas não era a regra. Assim, houve um aumento enorme na oferta de serviços de saúde após a criação do SUS. Mas na medida que cada ente ficou autónomo e cada municipio não é capaz de suprir sozinho as necessidades da sua população, surge hoje o desafio de integrar esses serviços de saúde em um Sistema de Saúde Estadual, como propõe.

“Tem coisas melhores pensadas na constituição e na lei 8.080, do que nas normativas e tratativas atuais. Priorizamos um ítem da criação do SUS (descentralização), mas esquecemos do detalhe, já na época escrito na lei, de que as unidades descentralizadas deveriam constituir uma rede”, disse Renilson.

Disse ainda que, por causa do periodo da ditadura, o poder central era mal visto, então a descentralização teve força maior. Mas agora o desafio é organizar redes de atendimentos regionais de saúde.

Dr Renilson enfatizou que essas redes devem garantir:

  • Ações e serviços para todos;
  • Atendimento Integral das necessidades de saúde da população;
  • Resolutividade da Atenção Prestada;
  • Qualidade da Atenção;
  • Custos sustentáveis;

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A organização das redes apresenta necessidades crescentes em decorrência de Incorporação tecnológica e Necesidades crescentes frente a recursos limitados (hoje, amanhã e sempre).

No entendimento do Dr Renilson, cabe a Secretaria de Saúde de São Paulo, na condução do sistema, gerir o processo. Ela tem que assumir o seu papel, para constituir esse sistema estadual, defendendo novamente o que chamou de “um sistema estadual de saúde”. Disse que a secretaria tem focado na prestacao de serviço e não na gestão do serviço, o que deveria ser seu principal papel.

Desafio 2 – Dicotomia Agudo-Crônico

O Desafio 2 se focou em mudar o modelo de atenção à saúde. O nosso modelo brasileiro público continua voltado para condições agudas, enquanto os principais custos do sistema são cada vez mais decorrentes de doenças crônicas. “Esperamos que as condições crônicas se agudizem para atendê-lo. Está errado. Não temos um suporte adequado para o crônico. As doenças crônicos não-transmissiveis (DCNTs) correspondem a 63% dos óbitos no mundo e 72% no Brasil, e deveriam receber mais o foco do sistema, de acordo com o Dr. Renilson Rehem.

De acordo com ele, o modelo hoje é de:

  • Clínica com baixa integralidade e baixa resolutividade
  • Persistência do modelo queixa-conduta (80% dos atendimentos na opinião dele);
  • Atenção prescritiva focada na doença;
  • Falta de segurança para decisão clínica;
  • Modelo excesivamente centrado na figura do médico;

Renilson reforçou que esse modelo atual é mais adequado para situações agudas do que crônicas. “É necessário implantar um modelo de atenção ao crônico. Mais APS (Atenção Primária à Saúde) e menos UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). Nao dá para esperar resolver o sistema criando mais UPAs”

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Desafio 3 – Recursos Humanos

“Nao há carência de recursos humanos em São Paulo, inclusive de médicos. O modelo ser centrado no medico é que o problema – pelo  fato do modelo ser focado no agudo e no médico, parece que falta.

Dr Renilson apresentou o seguinte caso clínico hipotético: paciente de 50 anos, obeso, masculino, hipertenso, fumante, sedentário. Como atender esse paciente com mais qualidade? Qual especialista médico seria o melhor?

Na opinião dele, a especialidade do médico é o menos importante e sim o tamanho e composição da equipe, que sugere: 1 médico, 2 enfermeiros, 1 nutricionistas, 1 psicólogo, 1 fisioterapeuta, 1 educador físico, 1 farmacêutico, 1 assistente social.

“No modelo da equipe de saúde da familia hoje é um médico para 3 mil pessoas, acredito que pode ser 1 para 10 mil pessoas, pois o trabalho de todos esses profissionais citados acima vai diminuir muito a necessidade do médico, e o atendimento vai ser feito de forma muito mais satisfatória”, reforçou.

“É a diferença entre o modelo de cuidado e atendimento. E o crônico precisa muito mais de cuidado do que de atendimento. Esse modelo diminui por um terço a necessidade de médico e melhora o cuidado.”

“O desafio real está na qualificação desses profissionais, que foram treinados para condições agudas”.

Desafio 4 – Gêrencia e Gestão

Com o subtítulo: “A qualidade da Gerencia das unidades e da Gestão do Sistema”, Dr Renilson disse que “o gestor do hospital no municipio hoje continua sendo de escolha política, não por mérito. É algo difícil de mudar, mas se tivermos mais técnicos qualificados, que podem ajudar a profissionalizar o sistema, ajudamos a resolver uma boa parte do problema”.

Desafio 5 – Financiamento

Um dos primeiros pontos, levantados foi a relação Financiamento vs. Gestão: “Rezo para que a questão do financiamento não seja resolvida sem antes resolver a questão da gestão, pois uma má gestão com pouco dinheiro faz menos estrago que uma má gestão com muito dinheiro”, frisou.

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Ressaltou que as condições crônicas são altamente custosas, porque o paciente vive muito tempo, novos e mais caros tratamentos tem sido desenvolvidos todos os dias, enquanto no agudo o tratamento e a resolução em geral são pontuais.

“Nos países desenvolvidos, com exceção dos EUA, o gasto público em saúde chega a 70-80% dos gastos com saúde. No Brasil, esse gasto ainda é de 43%. Se chegarmos ao nível dos países desenvolvidos, o sistema vai ser muito diferente”.

Em seguida, Dr Sérgio de Almeida Santos, da Amil, iniciou sua palestra sobre os desafios na gestão de saúde privada. Iniciou dizendo que acredita que os desafíos na gestão privadas são muito parecidas com os da gestão publica, então focou mais em possíveis soluções e alternativas a esses problemas.

Disse que trouxeram à Amil Michael Porter, Regina Herzlinger, Clayton Christensen, entre outros expoentes do setor, para discutir o futuro da empresa.

E a primeira coisa que perceberam é que não há como fazer boa gestão se o profissional da ponta não tem acesso a informações. À começar das informações do paciente, de acompanhamento clínico.  “Aumenta o risco de erros, aumenta custos”. Disse que a integração da informação foi a primeira solução a que chegaram, tomando então a decisão de ter um prontuario eletrônico, iniciando pela rede própria e migrando para rede credenciada. Assim os profissionais conseguem reunir as informações.

Disse que hoje a Amil está próxima de concluir a “continuação do cuidado”, com coordenadores ou gestores do cuidado. O coordenador tem o papel de garantir essa continuidade, evitar repetições de etapas e procedimentos e perda de informações preciosas.

Em seguida, começaram a discutir as carreiras dos profissionais para ter certeza que a formação desses profissionais estaría alinhada com seus desejos pessoais e habilidades desenvolvidas para a função que almejam na empresa.

Disse que a Amil enfrentou imensa resistência de ter um maior engajamento do profissional pois o profissional se sente profissionalmente seguro quando tem varios empregos, porém isso atrapalha sua dedicação e comprometimento com a empresa. Quando a empresa criou o Instituto de Ensino, os profissionais passaram a se sentir mais seguros em relação ao seu futuro e dispostos a dedicar mais tempo na Amil, pois percebeu que a empresa também estava mais comprometida com eles.

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O desafio no relacionamento entre as unidades de prestação de saúde privadas é que não existe qualquer integração dos serviços, com referenciamento para alta complexidade e regionalização. “Se você não organiza a rede, você vai ter todos os hospitais querendo fazer cirurgias cardíacas, neurocirurgias etc, pois aumenta a margem dos hospitais, impedindo que haja hospitais com alto volume e consequentemente melhor qualidade e menor custo” (focused-factories).

Nessa rede, comentou que o “Hospital Home Care” é considerado o maior hospital da Amil, atendendo mais de 2700 pacientes por dia, sem estrutura ƒisica.

“O modelo hoje está errado pois é focado no médico e nos hospitais”. Para o apoio multiprofissional, a Amil tem hoje o VivaMil, um serviço de suporte clínico para niveis 2 e 3 de cuidado, que tem atividades conduzidas por médicos, enfermeiras, psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas, com encontros em grupo e consultas individuais, apoio telefônico 24 horas, com 22.000 atendimentos por mês, com crescimento rápido. A meta esse ano é terminar com 500 mil atendimentos no ano.

Sérgio, que é pneumologista, enfatizou a sua formação que sempre valorizou as intervenções comportamentais, nas quais os diversos profissionais não-médicos são essenciais.

Mostrou ainda o programa ProMamãe&Bebê, que tem orientação gestacional, planejamento do parto, cuidados pós-natais, aleitamento materno, planejamento familiar e cuidados no 1º ano de vida. Disse que elementos como o aleitamento começar em no máximo até 3 horas do parto são indicadores de qualidade e métricas, e que acabam tendo os efeitos de, por exemplo, reduzir em até 70% a necessidade de aleitamento artificial nas unidades obstétricas e em casa.

Dr. Sérgio falou também sobre os serviços de telemedicina da Amil para apoio de alta complexidade para médicos para aumentar a resolutividade. “Os investimentos em tecnologia Os médicos acabam gostando muito mais de trabalhar conosco quando tem esse suporte.” Estão na maioria das principais especialidades médicas, ainda não entraram apenas na dermatologia, pois necessita de câmeras de alta resolução nas pontas, mas estão procurando parceiros para isso. “O encaminhamento pro especialista hoje é a regra, o que diminui a resolutividade”. Ter um especialista on-line com quem tirar dúvidas diminui custos e aumenta a satisfação de médicos e pacientes.

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A Amil tem também um programa que envia a receita dos pacientes para os médicos e, se o médico julgar que há um risco de interrupção de tratamento por qualquer causa (o médico é pago para avaliar essas situações), a operadora envía a receita para casa do paciente se o médico decidir refazer a receita médica. O paciente tem que ter tido alguma consulta realizada nos últimos 4 meses, o que garante que há adesão por parte do paciente. Quase 40 mil pacientes foram beneficiados por esse programa em 2013.

Sérgio ainda comentou sobre inovações tecnológicas do Amil, como o agendamento on-line de consultas, que já tem mais 450 mil agendamentos por mês feita pela web e vai lançar o aplicativo para marcação de consultas esse mês.

Por tais práticas, a Amil foi reconhecida como Harvard Business Case, por “Estratégias de Crescimento e Inovação”.

O próximo debate será sobre a “Perspectivas da Assistência para a População de Idosos”, no dia 06/05 na Fundação Getúlio Vargas. Você pode conferir esse e outros debates da GVSaúde na íntegra nas publicações do GVSaúde.

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