O movimento de uma montanha russa descreve o comportamento de beneficiários de planos de saúde.
Nos últimos três anos, mais de 3 milhões de pessoas deixaram de pagar um plano privado, de acordo com dados da Agência Nacional de Saúde (ANS), um reflexo da crise econômica rapidamente sentida pelas operadoras.
No entanto, o medo da COVID-19 causou reação contrária. Muita gente buscou alternativas ao SUS, e as operadoras recuperaram parte do mercado. Em dezembro de 2020, os clientes de planos de assistência médica somaram 47.564.363 pessoas, o maior volume desde janeiro de 2017, segundo a ANS.
Essa retomada é confirmada por entidades do setor, como a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), mas ainda vista com cautela, já que a base de usuários, para crescer e se consolidar, sofre impacto de outras questões, além dos receios da pandemia. “O setor é diretamente impactado pelo número de empregos formais e renda da população, ou seja, a economia prosperando, a saúde suplementar tende a crescer; ainda mais em um período em que as pessoas estão mais preocupadas com a própria saúde”, afirmou a entidade em nota à imprensa.
Um dos fatores que dificulta a atração de novos segurados e a retenção dos atuais são os reajustes das mensalidades. Os aumentos suspensos em 2020 pela ANS serão diluídos nas parcelas de 2021 e se somarão aos acréscimos do novo ano. Os usuários conseguirão arcar com as mensalidades?
Novos modelos e grandes polêmicas
O controle nos reajustes dos planos de saúde tornou-se um forte atrativo para os produtos das operadoras. É o que ocorre nos planos individuais, cujos aumentos são regulados pela ANS.
Esses modelos tinham sido abandonados pelas grandes operadoras. Agora a modalidade está de volta. De 2018 até hoje, foram lançados pelo menos três planos de saúde individuais: QSaúde, Alice e Sami.
A regulação dos reajustes é justamente o motivo de discordância da Abramge. A entidade defende a mesma política de reajuste para planos individuais e coletivos. De acordo com a Abramge, no ano passado, 105 operadoras foram consideradas deficitárias, entre as 717 empresas de planos de saúde em funcionamento no país, credenciadas pelo governo.
A ANS, por sua vez, mantém as regras e coloca à disposição da população um Guia de Planos de Saúde onde há informações sobre coberturas e preços dos produtos, entre outras.
Coparticipação e telemedicina
A coparticipação também tem sido usada como uma maneira de manter os clientes, freando aumentos nos boletos. Neste caso, especialmente de empresas, que respondem por 67% de todos os contratos.
De acordo com uma pesquisa da Mercer Marsh Benefícios, 44% de todas as empresas que realizaram mudanças em seus contratos com as operadoras durante a pandemia migraram para a coparticipação.
Outra saída dos planos para reduzir custos está na telemedicina. É um modelo mais sustentável para as operadoras e eficiente para os beneficiários, segundo especialistas em healthtech.
A tecnologia tem sido a força motriz da saúde na pandemia. O coronavírus fez com que praticamente todas as especialidades fossem liberadas para atendimento a distância.
Uma pesquisa realizada pela Johnson & Johnson Medical Devices, divulgada em dezembro de 2020, apontou que, no Brasil, 51% dos pacientes se dizem confortáveis usando o serviço de telemedicina e 8% muito confortáveis.
Ainda não se sabe como ficará a regulamentação da telemedicina quando a pandemia acabar. Mas tudo indica ampla aprovação de pacientes, médicos e empresas de saúde.