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Podemos aprender com hospitais indianos?

Article-Podemos aprender com hospitais indianos?

Pois Vijay Govindarajan, expert em inovação e palestrante do recente HSM ExpoManagement 2013, buscou convencer a plateia de que não apenas podemos, mas precisamos.

Apresentou dados de uma pesquisa que incluiu 9 hospitais da Índia. Provocador, e valendo-se de comparação com hospitais norte-americanos, buscou demonstrar que é possível um sistema onde os serviços sejam oferecidos bem mais baratos, sem perda de qualidade, e mantendo as empresas lucrativas.

Mostrou inúmeros exemplos disto, comparando qualidade através de relevantes indicadores, além do que a maioria dos hospitais avaliados possui acreditação, alguns inclusive pela Joint Commission International.

Segundo ele, até mesmo se os hospitais indianos remunerassem os profissionais da saúde igualzinho aos norte-americanos, o valor dos serviços poderia representar, em média, 1/5 do praticado nos EUA.

Entre as causas que determinam o sucesso indiano, Govindarajan destacou a necessidade de que médicos altamente especializados foquem naquilo que os diferencia, deixando tarefas gerais para médicos ?gerais? e outras, como transcrição, para paramédicos. Vai de encontro ao que historicamente tenho defendido: hospitalista para a coordenação da assistência hospitalar; médico de família, clínico, pediatra, geriatra, ou, enfim, qualquer bom generalista para a coordenação da assistência ambulatorial. Subespecialistas para fazerem a diferença maior em qualquer ponto ao longo deste percurso, estritamente quando necessários.

Concordo com ele também acerca da defesa de profissionais não médicos para algumas tarefas que aglutinamos e que poderiam ser feitas tranquilamente por paramédicos. Vijay Govindarajan justificou isto por redução de custos sem perda de qualidade. Acrescentaria o fato de que este tipo de atividade tem sido fonte do burnout que, cada vez mais, compromete a categoria médica, e, principalmente, os generalistas. Bons médicos "gerais" podem e devem ser empregados em função muito mais estratégica.

Vijay Govindarajan contou que muitos dos hospitais indianos destacados abandonaram o perverso fee-for-service, que, em última instância, incentiva o uso irracional de serviços, medicamentos e tecnologias. Utilizam-se de remuneração fixa, que independe de quantos testes e tratamentos aplicam, associada a benefícios por desempenho racional. Criticou frontalmente os hospitais norte-americanos por não estimularem a coordenação do cuidado, e, pior, por estimularem fragmentação, redundâncias e desperdícios.

Um bom exemplo disto, em nossa realidade, é observar como algumas organizações brasileiras estão empregando Add-On Services (vide definição aqui). Nos fará refletir se não estamos superando os norte-americanos. Vejam só:

- Equipes de Dor: em hospitais norte-americanos observei funcionarem de maneira muito bacana. Pacientes eram cuidados por hospitalistas que, como especialistas em pacientes hospitalizados, davam conta de 90% desta demanda específica. Em casos selecionados, era acionada equipe de dor, multiprofissional e altamente subespecializada. No Brasil, organizações têm criado este tipo de iniciativa de retaguarda para ?tapar buracos? indevidamente deixados pela assistência regular. Muitas vezes, pressionadas por Acreditadoras, utilizam-se disto não para ajudar pacientes, mas para ajudar o hospital e seu corpo clínico aberto. Ao invés da equipe de dor ter como foco principal avaliar e tratar o paciente, há situações onde preocupa-se mais com se a prescrição de analgésicos simples, como paracetamol e dipirona, está de acordo com o protocolo institucional ou padrões externos. Por mais importante que tudo isto seja, assim aplicado representa retrabalho, ou, pior, execução de trabalho por alguém em substituição a quem já está sendo pago para tal.

Como tantas vezes já escrevi neste Blog, todo corpo funcional de médicos de qualquer hospital, seja composto por hospitalistas ou não hospitalistas, generalistas ou subespecialistas, deve estar preparado para seguir os valores, as estratégias, as prioridades e as rotinas da organização. Um grupo livre deste tipo de obrigação básica e outro para suprir esta lacuna não representa adequada verdadeira solução. E agrega problemas...