Burns (Edward McNall Burns - História da Civilização Ocidental), já nós fazia entender que sempre é a ? força da grana que ergue e destrói coisas belas?
(Caetano Veloso, em Sampa).
A Economia da Saúde vive um dilema: ou os gastos se tornam previsíveis e controláveis ou a medicina privada entra em colapso, de modo semelhante ao sistema público.
Enfatizamos, sem estar inovando, que atitudes proativas de busca e seguimento de pacientes crônicos ou de risco para determinadas patologias, eficiência em todos os níveis do atendimento, resolutividade e prevenção dos problemas devem ser parte do Planejamento Estratégico. Questionamos o efeito perverso da portabilidade, que deverá extinguir todos os programas de medicina preventiva das operadoras.
Muitas ferramentas já estão construídas: Gestão Operacional, Inteligência Epidemiológica, Núcleo de Controle de Qualidade em Atendimento, mas quantas Empresas de Gestão de Assistência à Saúde têm adotado esses mecanismos no lugar de criar dificuldades de acesso ao atendimento de maior custo/complexidade, práticas que não são satisfatórias nem resolutivas?
De forma polêmica Clayton M. Christensen (Inovação na Gestão de Saúde) propõe que o atendimento do que seja conhecido e sequenciado, regido por rotinas e que não tenha risco implícito, pode deixar de ser realizado pelos médicos. Ressalto que não sugere que qualquer patologia que tenha Protocolos deva deixar de ser atendida por médicos.
Isto já está acontecendo nos Estados Unidos, onde o custo da hora/médico, e mesmo de hora/enfermagem tem um peso mais significativo que no Brasil.
Como exemplo consideremos uma Unidade de Hemodiálise, onde, no modelo americano, não existe a figura do médico. Sendo um tratamento de caráter crônico o processo da diálise é da enfermeira ? com a ressalva que não existe o profissional técnico em enfermagem, ou auxiliar de enfermagem. Os casos agudos ou de risco são encaminhados para atendimento hospitalar. O médico atua em seu consultório, sem relação de contiguidade com a Unidade, atende os pacientes, dentro da rotina para as avaliações periódicas, recebendo pelo ato médico.
No Brasil temos como exemplo dessa tendência, reforçada pelo item custo, a atividade do profissional de Ortóptica incorporando funções antes exclusivas do Oftalmologista. Da mesma forma, a entidade de classe da Enfermagem vem reinvidicando e assumindo rotinas antes de exclusividade médica.
Este postulado pode ser aplicado no Brasil? Deve ser aplicado para outras atividades? Também de acordo com Christensen o médico deve permanecer apenas em três funções insubstituíveis:
1. Como consultor, com recursos em Telemedicina, atuando em Centros de Referência para casos não diagnosticados;
2. Em Hospitais, locais de atendimento que implicam em risco de vida;
3. Em consultórios próprios, de forma independente, retomando a atividade autônoma.
Não coloco isto como proposta, mas intencionalmente como um repensar das formas de utilização racional do recurso conhecimento, inerente a cada profissional, e de seu valor agregado no atendimento à saúde.
O que devemos pagar e quanto devemos pagar, perante as fontes limitadas e as demandas reais - e mais ainda as criadas! -, deve ser balanceado pelas diversas realidades, incluindo a efetividade do cuidado dispendido, isso sem desvalorizar o profissional detentor do saber através de um cruel leilão reverso.
Escrito por Anita Espligares Negrão Caldas, médica e arquiteta da Bross