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Bem-vindo à medicina 5.0: onde o cuidado conectado e não-presencial salva vidas

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Saiba como usar inteligência artificial, robótica, automação e outras tecnologias já disponíveis para recuperar indivíduos e, mais que isso, evitar que eles adoeçam

A telemedicina nunca substituirá a medicina. Quem avisa é um dos maiores especialistas no assunto no Brasil, o médico Chao Lung Wen, professor associado e chefe da disciplina de telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP): “Só existe uma palavra, “medicina”, mas seu braço digital vai criar duas áreas distintas e igualmente importantes: a medicina conectada, que será uma medicina modernizada e ampliada via telemedicina para a recuperação de pacientes; e a saúde conectada, uma área de gestão com o propósito de evitar que as pessoas adoeçam.”

Para Wen, juntas, essas duas facetas formam o conceito de medicina 5.0, cuja premissa é uma sociedade na qual o ser humano já convive com todo o sistema de inteligência artificial, robótica e automação. “Vou dar um exemplo prático: até 2025, o mundo terá 1,2 bilhões de idosos e, em 2030, o Brasil será o quinto ou sexto país com a população mais idosa do mundo. Nesse cenário, a saúde conectada 5.0 vai remover o conceito de gestão de saúde para investir em conhecimento geriátrico para planejar a prevenção de doenças nessa população e fazer a intervenção de ocorrências nas suas fases iniciais. O mais importante é evitar que as pessoas fiquem doentes”, resume o especialista.

Seguindo essa linha de raciocínio, ao invés de aguardar a pessoa adoecer e precisar gastar com uma UTI, por exemplo, o mais indicado é usar a tecnologia para gerenciar a qualidade de vida do idoso dentro da própria casa, planejando uma logística para tornar a vida agradável ao mesmo tempo em que se cria um sistema de prevenção de doenças. “Eu formei um grupo envolvendo médicos geriatras com arquitetos e engenheiros, além de sistema de automação, para criar as chamadas casas conectadas, flexíveis e saudáveis. Em vez de a casa ser apenas  um local de moradia, ela passa a ser o fundamento para dar mais qualidade de vida a cada indivíduo.  Eu vou dar um exemplo: em lares muito úmidos, as crianças têm mais risco de pneumonia, assim como os idosos, pois as roupas têm mais tendência a ter fungos que vão gerar mais crises asmáticas. Em uma casa saudável, hidrômetros são instalados e avisam ao morador quando é hora de ligar o desumidificador elétrico para manter a umidade no nível adequado.  Assim, com uma medida simples de tecnologia, evita-se que a pneumonia se desenvolva”, exemplifica Wen.

Casas inteligentes, aquelas que usam a inteligência artificial por meio de assistentes virtuais, são outra forma eficaz de dar um apoio interativo para o cuidado. Esse modelo de moradia pode integrar os moradores a uma teleconsultoria com profissionais de Saúde, tudo em prol de ampliar a qualidade de vida. “Outro exemplo prático é um programa de saúde que interrompe o usuário a cada 90 minutos para que ele participe de rodadas obrigatórias de atividade física feitas em grupos e, assim, evite o sedentarismo. Ações desse tipo fazem o indivíduo assumir seu autocuidado, e podem ser combinadas ao uso de gadgets [como smartwatches ou smartphones] para autogerenciar os sinais vitais. A saúde conectada serve exatamente para isso: evitar que as pessoas fiquem doentes”, enfatiza o médico.

Para além das residências, o cuidado não-presencial também é importante nos hospitais, que caminham para se tornar mais digitais. “Hoje já é possível realizar uma teletriagem e conduzir a avaliação do paciente para internação de forma não-presencial. Isso agiliza o processo de internação e diminui o tempo de permanência no hospital”, elenca Wen, que continua exemplificando o serviço para o pós-alta: “Outro segmento de serviço é o acompanhamento da recuperação em domicílio. Ao fazer essas mudanças, o hospital conectado integrou de fato a telemedicina como algo funcional e para a melhoria de desfechos clínicos.”

Na prática

Outro projeto de cuidado não-presencial já usado em hospitais como o Instituto do Coração (InCor), em parceria com a equipe do Inova InCor, é a “Observação Virtual de Pacientes”. Nele, o paciente é monitorado com câmeras no esquema 24/7, com o objetivo de alertar e identificar para a equipe assistencial situações que podem caracterizar risco, movimentações ou ações que afetem o tratamento ou até mesmo um pedido de apoio da enfermagem que esteja com dificuldades de manejo de uma situação específica no leito. “É usado um modelo preditivo baseado em mecanismos avançados de tecnologia de comunicação, processamento de imagens, informação e inteligência de dados, em busca de  situações que possam servir de alerta aos profissionais de Saúde, de acordo com comportamentos, eventos ou ações dos pacientes, evitando riscos e atuando preditivamente na gestão do cuidado de pacientes críticos”, explica Katia Galvane, diretora de  healthcare da everis/Ntt Data Brasil, no report Melhoria de desfecho clínico, prevenção de doenças e cuidado remoto: a tríade da tecnologia na Saúde”.  

Por fim, as inúmeras possibilidades das teles, partindo da mais conhecida que é a teleconsulta com monitoramento e somando ao grupo teleUTI, telerradiologia, telecardiologia, etc., tudo isso vai continuar  pelos próximos anos como parte da medicina conectada. Esse modelo se desenvolverá também nas especialidades, como teleinterconsultas profissionais para pareceres médicos e até teleinterconsulta de monitoramento de pacientes crônicos.

Já a teletriagem vai crescer muito na saúde conectada em rede para promover uma orientação supervisionada aos indivíduos.  “A tendência é que a gente consiga criar nesta próxima década uma boa infraestrutura de Saúde, treinando e capacitando os profissionais do setor para que possam praticar a medicina 5.0”, finaliza Wen.

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