Como transformar sua rotina de trabalho no próprio negócio? Isso é muitas vezes o que torna o empregado um grande empreendedor, o necessitado em um grande inventor. Foi assim, identificando as oportunidades do dia a dia, que o médico geriatra João Paulo Nogueira Ribeiro fundou o ConsultaClick, site de agendamento de consultas.
A ideia do executivo surgiu de uma de suas atividades na Sociedade Paulista de Medicina (SPDM-Unifesp) e na Universidade de São Paulo (USP), onde orientava médicos residentes nos primeiros passos no mercado de trabalho. Essa breve ?consultoria? ajudava a precificar o preço de uma primeira consulta, por exemplo, ou escolher o melhor lugar para abrir o consultório.
?Ajudava os residentes a saírem da linha de conhecimento acadêmico para o mercado de trabalho?, lembra Ribeiro.
Percebendo o quanto esses profissionais precisavam de ajuda para entrar no mercado de trabalho, Ribeiro se inspirou no Open Table, site de reservas em restaurantes dos Estados Unidos e fundou o ConsultaClick em 2010. A ferramenta nasceu em parceria com o executivo português Duarte Champalimaud, que já tinha a experiência de um modelo parecido na Europa, o ?Get a Click?. Logo depois, em 2011, Champalimaud vendeu sua parte para o administrador de empresas Rubem Ariano, ex-sócio da Hedging Griffomas.
Retorno no horizonte
O ConsultaClick já ultrapassou 1 milhão de consultas disponíveis online e oferece todas as especialidades médicas. São vários profissionais de saúde cadastrados como: médicos, dentistas, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas entre outros. A ferramenta oferece consultas em 20 estados e tem atendimentos, sobretudo, no Rio de Janeiro e São Paulo.
?Isso traz inclusão para os profissionais no ambiente de trabalho?, explica Ribeiro, que hoje oferece via plataforma uma consultoria muito mais especializada o que antes eram conselhos restritos ao seu grupo de trabalho e, mais profissionais, pois conta com parceiros como a Medflex, que auxilia na locação do consultório. Os benefícios, segundo os sócios, vão além do paciente e resultam em produtividade.
Como a ferramenta envia lembretes de confirmação de consulta, o paciente pode desmarcar deixando a agenda vaga e o processo mais produtivo. ?O índice de ?no show? (pessoas que não comparecem a consulta agendada) é de 30% na área privada e 50% no público?, explica Ribeiro. Segundo ele, o custo também pode ser otimizado, pois com a ferramenta não há necessidade de posições em call center, por exemplo.
Por ora, a ferramenta catalisa os profissionais interessados via divulgação em conselhos de classe e sociedade de especialidades, ainda não há um projeto de venda operadoras e seguradoras de saúde, por exemplo, mas isso não impede que o médico de determinado plano de saúde tenha o perfil no site.
Este é o quarto ano do Consultaclick e o modelo de negócio ainda não decolou, apesar de estar muito bem definido segundo Ribeiro e Ariano. A ideia é começar a cobrar dos profissionais cadastrados uma mensalidade. ?Mas para o paciente será sempre gratuito?, garantem. Em Portugal, por exemplo, a iniciativa comandada por Champalimaud- que depois de vender sua parte da empresa brasileira seguiu tocando o projeto ?ConsultaClick português?,- já cobra uma taxa mensal de cerca de 100 euros para os cadastrados.
No começo do ano, Ribeiro e Ariano venderam uma parte da empresa para conseguir capitalizar o ConsultaClick. Junto à dupla, que é sócia majoritária, se somaram 13 acionistas. Além da operação em Portugal, o site também está presente na Bélgica e na Romênia. Os executivos acreditam que os próximos passos da companhia estão nos Estados Unidos e em países da América Latina.
A partir de agosto, o site vai passar por uma grande mudança: integrará o portal da ferramenta de busca e agendamento com conteúdo sobre promoção da saúde de seu blog, que atualmente está separado. Os pacientes também passarão a contar com informações sobre medicamentos – uma espécie de uma bula com linguagem simples e direcionada ao público leigo-, além de informações sobre vacinas e a possibilidade de agendar exames laboratoriais e de imagem.
Doe horas, doe vida
Mesmo ainda sem retorno do investimento e com a rentabilidade do negócio projetada para o futuro, o ConsultaClick expandiu sua atuação e criou o projeto social ?Horas da Vida?. Como o site, a ideia foi de Ribeiro, e mais uma vez, inspirado em sua rotina e na de seus colegas de trabalho. O médico já atendia alguns pacientes sem cobrar pela consulta e percebeu que seus colegas também, mas nada de forma organizada.
Assim surgiu o Horas da Vida, plataforma que integra profissionais que oferecem consultas gratuitas para pessoas de baixa renda. O site cadastra o profissional e quantas horas ele pode ?doar? para o atendimento. Quem ainda não tem o perfil no ConsultaClick ganha um cadastro ao fazer parte do ?Horas da Vida?; quem já tem seus dados no portal, basta inserir as informações no Horas da Vida e a disponibilidade de horas para consultas gratuitas.
Para que esses profissionais realmente atendam quem não pode pagar, Ribeiro e Ariano fecharam parcerias com organizações como a Fundação Bachiana, projeto do maestro João Carlos Martins, Apae SP, Unibes, AfroReggae, Santa Fé e Saúde Criança. ?Há uma fila de entidades querendo fazer parte?, diz Ariano.
É dessas instituições de onde saem as pessoas que serão atendidas gratuitamente. Ou seja, há uma triagem inicial das próprias entidades para o encaminhamento ao ?Horas de Vida?.
No projeto, os empreendedores contam com parceiros para ajudar a viabilizar o negócio. A Dasa, por meio de sua marca Lavosier, oferece exames gratuitos (imagem e laboratoriais) para as pessoas que são atendidas pelo Horas da Vida, a Óticas Carol fornece óculos para os participantes do projeto e a Universidade São Judas ajudará com uma oficina de nutrição. Fundada em dezembro de 2012, o Horas da Vida tem hoje 15 mil pessoas assistidas pelo projeto.
Tags