No final de outubro, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou que o Brasil se prepara, a partir de 2026, para começar a investir na criação de uma rede nacional de hospitais inteligentes. A proposta conta com o apoio do Banco dos BRICS, da Faculdade de Medicina da USP e do Hospital das Clínicas, inspirada em modelos internacionais de saúde pública. Vejo nesse projeto, independentemente de bandeiras partidárias, uma inspiração positiva, além de uma oportunidade única de aproximar o que há de mais inovador na iniciativa privada brasileira das necessidades do SUS.
Quando pensamos em hospitais inteligentes, estamos falando de uma gestão sustentável e efetiva da saúde. Essas unidades assistenciais incorporam tecnologias avançadas para transformar a experiência do paciente e a segurança do cuidado e permitir que ela se amplie para cada vez mais brasileiros, com um atendimento acolhedor e mais humano.
Como médico e gestor de saúde, testemunho diariamente os benefícios da gestão inteligente, apoiada em uma base de dados rica e bem estruturada. Posso citar inúmeros exemplos, mas, para ilustrar, destaco a inteligência artificial que analisa prescrições médicas em tempo real, cruzando informações do prontuário, exames e histórico dos pacientes para antecipar riscos e apoiar a atuação da equipe de farmácia clínica.
Em um cenário em que o número de novos fármacos cresce continuamente, essa tecnologia não apenas evita interações arriscadas e eventos adversos, mas também amplia a eficiência das equipes, reduz custos e consolida uma cultura de cuidado preventivo.
Já um exemplo de como a tecnologia pode transformar o cuidado em regiões mais remotas e com menos especialistas é a recente realização da primeira telecirurgia robótica não experimental da América Latina. O marco simboliza um salto concreto da tecnologia robótica e abre caminho, ainda, para um novo modelo de formação médica à distância, em que cirurgiões de todo o país podem ser acompanhados e orientados remotamente, ampliando o alcance da robótica cirúrgica e democratizando o acesso à medicina de alta complexidade.
A impressão 3D tem sido um recurso essencial no apoio a casos clínicos mais complexos, permitindo um planejamento cirúrgico mais preciso com a criação de próteses customizadas e conectando os profissionais pelo Metaverso. Essas tecnologias podem reduzir em até 15% o tempo transoperatório, além de contribuírem para uma recuperação mais rápida do paciente e para o aumento da produtividade de médicos e hospitais.
Além disso, a digitalização das informações em saúde viabiliza uma medicina mais assertiva, voltada para a entrega de alta qualidade assistencial com eficiência, propósito, melhor gestão e redução de custos. É a capacidade de transformar dados clínicos em decisões seguras e ágeis. Sem dúvidas, a chave para implementar a inovação em ampla escala depende de um olhar cuidadoso para os processos e de como aperfeiçoá-los por meio da integração digital, automação e conectividade.
Unir tecnologia e boas práticas assistenciais é o caminho para garantir um cuidado cada vez mais seguro, eficiente e humano, seja na rede pública ou privada de saúde. A inovação, quando aplicada com propósito, tem um grande poder na construção de um modelo de saúde verdadeiramente integrado. Ao aproximar esse modelo de inteligência da rede pública, o Brasil tem a chance de proteger um número cada vez maior de vidas.