A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) aprovaram este ano a utilização da técnica de estimulação magnética transcraniana, já autorizada e utilizada desde 1998 em Israel, Canadá e Austrália. A agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA) a sancionou em 2008.

Brasil, a técnica é permitida como alternativa de tratamento para pacientes diagnosticados com depressão unipolar refratária ao tratamento medicamentoso, depressão bipolar e esquizofrenia com quadros de alucinações auditivas, além de poder ser usada para mapeamento cerebral em neurocirurgia.

Há 12 anos pesquisando sobre formas de tratamento que evitem procedimentos invasivos, o sócio-fundador da Associação Brasileira de Estimulação Magnética Transcraniana, diretor, médico e pesquisador de neuromodulação da clínica neuropsiquiátrica avançada Hummig, e professor da Universidade Positivo, Wesley Hummig, teve contato com o método da estimulação magnética transcraniana por meio do, então, orientador, Dr. José Romildo Grabowski, pioneiro em psiquiatria e psicogeriatria no Paraná.

“Desde que retornei de Harvard aplico a técnica de estimulação magnética seguindo os protocolos predispostos nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Israel. E, respaldado na literatura médica internacional. Sempre com o consentimento informado e registrado da pessoa. Já tratei aproximadamente dois mil pacientes. Sendo que três, em cinco, apresentaram completa melhoria no quadro psiquiátrico, um responde muito pouco e um não responde em absoluto. No último caso, encaminhamos para outros procedimentos de neuromodulação”, comenta o professor Hummig.

A estimulação magnética transcraniana ainda ajuda a amenizar os efeitos da fadiga, melhorando a sensação de vitalidade. Isso porque modula a neuroplasticidade cerebral (capacidade de reorganização do sistema nervoso frente a estímulos repetitivos) ativando novas redes neurais e maximizando o funcionamento cerebral.

Em relação aos quadros patológicos, ou seja, transtornos mentais, a estimulação magnética transcraniana é eficaz para tratamentos de dor neuropática, fibromialgia, zumbido crônico e recuperação de acidente vascular cerebral (AVC), Parkinson, transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Entretanto, a aplicação em alguns desses casos clínicos não está liberada no Brasil, apenas em alguns países como Alemanha, Suíça, Espanha, Inglaterra, Dinamarca, Rússia, Israel, Canadá e Austrália.

No Brasil, a resolução normativa da Comissão Nacional de Honorários Médicos e da sociedade de especialidades (CNHM 013/2013), prevê que está permitido o tratamento em pacientes depressivos, que não respondem a antidepressivos usados em dose máxima, por pelo menos quatro semanas, ou seja, pessoas diagnosticadas com transtornos depressivos refratários. Também em pacientes com transtorno de humor bipolar (THB) que não reagiram ao tratamento com fármacos, administrados em pelo menos quatro semanas, e nos quadros de esquizofrenias com alucinações auditivas, em que não houve resultado após uso de duas classes de antipsicóticos em pelo menos três semanas (considerando separadamente os grupos de drogas neurolépticas).

A respeito da recente sansão por parte das entidades competentes, o professor Hummig afirma que “é um reconhecimento mais do que merecido, da estimulação magnética transcraniana como uma técnica eficaz para tratar depressão, a epidemia do século XXI. Além de normatizar os protocolos e incluir o procedimento na tabela de honorários médicos da associação médica, fazendo com que os planos de saúde tenham que ressarcir financeiramente os pacientes submetidos ao procedimento. Acredito ainda que, em função disso, a técnica em breve estará disponível no Sistema Único de Saúde (SUS)”.

COMO É REALIZADA A ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA

O paciente é encaminhado ao serviço de neuromodulação, onde são realizados exames clínicos gerais (como de sangue), neurológicos e de imagem, como tomografia computadorizada cerebral e eletroencefalograma. Também é submetido a uma entrevista psiquiátrica. Quando o diagnóstico é confirmado e são descartadas lesões estruturais e/ou problemas clínicos que poderiam ter causado a patologia, dá-se início ao tratamento.

O paciente deita-se confortavelmente em uma poltrona reclinável, é colocado um oxímetro de pulso, eletrocardiograma, eletromiógrafo e uma bobina que permite mapear o córtex motor e determinar o motortreshold (limiar motor), que irá orientar os médicos quanto aos parâmetros de estimulação (frequência, train, intervalo intertrain, n train, número total de pulsos) que deverão ser administrados para cada paciente. No início da sessão pede-se para que a pessoa vista uma toca de nylon (como as de natação), a fim de que possam ser desenhadas as delimitações dos quadrantes cerebrais, que serão trabalhados durante a estimulação.

Para cada doença está estabelecido um protocolo (parâmetros de estimulação, direção de posicionamento da bobina no crânio), intensidade do estímulo magnético, tempo médio de sessões e tratamento. Por exemplo, para depressão refratária, serão necessárias entre 20 e 30 aplicações, com duração média de 30minutos. Em casos de esquizofrenia com alucinações auditivas, é utilizada a estimulação magnética transcraniana repetitiva de manutenção (RTMS), uma vez que são em média 20 sessões, sendo a cada dez dias nos dois primeiros meses, depois quinzenalmente. A manutenção é importante, para que o paciente consiga ficar em remissão dos sintomas, prevenindo, assim a recidiva do quadro.